O Santos emitiu uma nota lamentando a fala de um narrador da Rádio Grenal, de Porto Alegre, que chamou o jogador Lucas Braga, do clube paulista, de "crioulinho" ao transmitir a partida contra o Grêmio na noite desta quarta-feira (4) pelo Brasileirão.
Ao se dirigir a um repórter durante a transmissão do jogo, o narrador Haroldo de Souza perguntou:
– Aquele crioulinho que está lá na ponta esquerda do time do Santos, quem é ele?
Ao receber a resposta do repórter, o narrador prosseguiu:
- Ah, o Lucas Braga, que está caído lá. É o moreno, né? Moreno, cidadão de cor, numa boa.
Na nota publicada no site do clube, o Santos disse que repudia os termos racistas utilizados por Haroldo de Souza e informou que irá acionar o Departamento Jurídico para tomar "medidas cabíveis".
O narrador também se manifestou. Haroldo disse que foi criado "em meio aos negros" e que, em 58 anos narrando partidas de futebol, muitas vezes usou expressões como "neguinho", "alemão" e "polaco". Pediu desculpa se a fala ofendeu alguém e reforçou que não houve intenção de cometer ato de racismo.
A Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos (Aceg) emitiu uma nota de repúdio ressaltando que "o racismo não tem lugar na sociedade" e pedindo desculpa a Lucas Braga e ao Santos em nome de todos os cronistas esportivos do Rio Grande do Sul.
A Rádio Grenal, por sua vez, publicou uma nota de esclarecimento nas redes sociais. Sem citar a partida entre Grêmio e Santos, a emissora informou que "não compactua com qualquer tipo de atitude discriminatória a quem quer que seja, pautando sua atuação através do respeito a todos, sem exceção". A nota também não cita o narrador Haroldo de Souza.
Veja a manifestação do narrador Haroldo de Souza:
Sou filho de negro-nego Benê. Sou casado com uma mulher da raça negra. Fui criado em meio aos negros. Criei uma escola de samba com todos integrantes negros, só dois brancos e um sarará. Narrando futebol há 58 anos, muitas vezes disse:
"Quem é aquele neguinho lá na ponta"?
"Quem é aquele alemão ali no meio" ?
"E esse polaco aí quem é"?
Peço desculpas se minha fala ofendeu alguém, mas estejam certos que não houve intenção de racismo e que minha vida pessoal e profissional são pautadas pelo respeito a toda sociedade, aos jogadores e torcedores que fazem desse esporte um grande espetáculo.
Reitero minhas sinceras desculpas aos ouvintes que sempre nos acompanham e nos brindam com a sua audiência.
Veja a nota do Santos:
O Santos FC não vem por meio desta apenas lamentar ou repudiar os termos racistas utilizados pelo narrador Haroldo de Souza, da Rádio Grenal.
Não cabem mais lamentos ou notas de repúdio sobre racismo em pleno 2021. Cabe ação e mobilização.
O Clube, através de seu Departamento Jurídico, tomará medidas cabíveis, da mesma maneira esperamos uma reação efetiva do veículo de comunicação empregador desse senhor e da própria comunidade que compõe a audiência de tal rádio.
É no silêncio, na omissão, na relativização frente ao preconceito que o racismo cresce silenciosamente e se estabelece de forma estrutural em nossa sociedade.
Basta de tolerância com racismo!
Basta!
Veja a nota da Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos (Aceg)
A ACEG condena veementemente o episódio lamentável ocorrido na transmissão da partida entre Grêmio e Santos pela Rádio Grenal.
Na jornada esportiva, o narrador Haroldo de Souza, para identificar o jogador Lucas Braga, da equipe paulista, perguntou ao repórter que realizava a transmissão quem era o “crioulinho” que jogava pelo lado esquerdo. Após a resposta, ainda citou o atleta como “moreno” e “cidadão de cor”.
O racismo não tem lugar na sociedade e cabe, também, à imprensa combatê-lo. Declarações como a de hoje não são bem-vindas.
Em nome dos cronistas esportivos do Rio Grande do Sul, pedimos desculpas ao jogador, ao clube e à sociedade.
Confira a nota de esclarecimento da Rádio Grenal:
A direção da Rádio Grenal não compactua com qualquer tipo de atitude discriminatória a quem quer que seja, pautando sua atuação através do respeito a todos, sem exceção.
Salientamos nosso apreço à sociedade em geral, sem qualquer tipo de discriminação.