Embora busquem o mesmo objetivo, Grêmio e Palmeiras encaram a final da Copa do Brasil por perspectivas diferentes. Para o Tricolor, será a chance de encerrar a temporada de maneira positiva, com título e vaga direta para a fase de grupos da Libertadores. Para os paulistas, uma oportunidade de recuperar a imagem que ficou arranhada após a frustrante participação no Mundial de Clubes. Porém, os dois times têm um ponto em comum. Ou melhor, um ponta.
No primeiro tempo deste duelo, que será travado na Arena, neste domingo (25), Renato Portaluppi e Abel Ferreira apostam suas fichas em um atacante de drible e velocidade, que ocupa a faixa esquerda do campo. Pepê ou Rony: quem terminará com a medalha no peito?
Pepê
Assim que o Grêmio garantiu sua vaga na decisão, eliminando o São Paulo no Morumbi, a diretoria concentrou suas forças na manutenção de Pepê até o desfecho do calendário. Visto como o sucessor de Everton Cebolinha — negociado com o Benfica, em agosto —, o paranaense de Foz do Iguaçu se transformou em peça vital da equipe tricolor. Por isso, quando o Porto passou a cortejá-lo, ainda em outubro, a diretoria deu início a uma queda de braço para que a transferência não desfalcasse o time no momento crucial da competição.
— O Grêmio não jogará sem o Pepê. Teremos como premissa essa segurança. Não tratamos mais isso como problema ou situação, vamos tê-lo sem sombra de dúvida para esses jogos finais — sentenciou o presidente Romildo Bolzan ainda em janeiro.
De fato, a promessa se cumpriu. Em anúncio realizado na semana passada, o Grêmio oficializou a conclusão do negócio em 15 milhões de euros, transformando o jogador na terceira maior venda da história gremista. E, melhor do que isso, comunicou que ele só viajará para Portugal em julho. Portanto, o garoto estará em campo diante do Palmeiras.
A questão é que, embora seja o vice-artilheiro da equipe nesta temporada, com 15 gols (atrás somente de Diego Souza, que tem 28), Pepê não vive seu melhor momento. Neste ano, balançou as redes adversárias uma única vez — no empate por 3 a 3 com o Santos, pelo Brasileirão. Inevitavelmente, a queda de rendimento foi atrelada à transação, sobrando críticas até mesmo para o agente do atleta, Adriano Spadotto.
— Tem uma pergunta que vocês (jornalistas) poderiam fazer para o empresário do Pepê. Ele vinha jogando bem, nos ajudando, fazendo gols e tendo grandes atuações. Só foi falar que tinham várias propostas da Europa que deu no que deu — disparou o técnico Renato após a derrota no clássico Gre-Nal, no Beira-Rio.
Agora, com o futuro definido, o camisa 25 não tem mais nenhum outro foco a não ser as quatro linhas. Titular durante toda a campanha gremista na Copa do Brasil, Pepê ainda não marcou nenhum gol no torneio. Quem sabe não está reservando para a decisão?
Inclusive, seria a chance definitiva de fazer as pazes com o passado. Em 2019, na semifinal contra o Athletico-PR, em Curitiba, o jogador viveu a maior frustração de sua breve carreira. Encarregado de substituir Everton, que estava suspenso, o garoto perdeu o pênalti que causou a eliminação gremista na Arena da Baixada. Pouco mais de um ano depois, poderá soterrar qualquer lembrança negativa e selar uma despedida em alto estilo.
Rony
Se Pepê quer esquecer a impressão deixada na última Copa do Brasil, Rony tentará reviver o capítulo que ajudou a escrever no Paraná. Aliás, o desempenho no inédito título do Athletico-PR, em 2019, fez o Palmeiras investir 6 milhões de euros na sua contratação há um ano. Mas o começo em São Paulo não foi dos melhores.
Obrigado a assumir o protagonismo após a saída de Dudu para o Al-Duhail, do Catar, o paraense de 25 anos sentiu um pouco do peso que foi colocado em suas costas. Tanto que o primeiro gol com a camisa palmeirense só foi acontecer no final de setembro, na goleada de 5 a 0 sobre o frágil Bolívar, pela fase de grupos da Libertadores.
— O Athletico tinha um estilo de jogo reativo e ele é um jogador de velocidade, que precisa de 30, 40 metros, uma defesa desarrumada. Muda de direção, desequilibra. O Palmeiras é proativo. Como pressionamos os adversários no campo deles, ele não tem 30 metros para jogar, tem 10. Ele tem que aprender a jogar com a cobertura próxima — explicou Vanderlei Luxemburgo à época.
Porém, Rony não foi o único que teve dificuldades em se adaptar aos comandos do treinador. Prova disso é que, bastou a troca na comissão técnica para que o time decolasse como um todo, levando o atacante consigo. Dos 11 gols marcados por ele nesta temporada, oito foram anotados após a chegada de Abel Ferreira.
— As grandes equipes do mundo jogam com aceleradores por fora e por dentro. Quando falo em aceleradores, são os jogadores que correm para a frente. Você olha para o Liverpool e para as outras grandes equipes, todas têm jogadores de frente verticais. Tem que correr para a frente, empurrar o adversário para trás. Se eu quiser jogar curto, com posse de bola, eu não crio perigo ao adversário. Tem que expor. E o Rony nos dá isso, seja jogando na ponta ou no meio — avaliou o treinador português recentemente.
Sob esta nova filosofia de jogo, o camisa 11 se tornou peça fundamental da equipe paulista. Um exemplo disso foi dado na partida que selou a passagem à final, quando deu passe para Luiz Adriano abrir o placar diante do América-MG. Depois, ele próprio, de cabeça, fecharia a vitória por 2 a 0 em Belo Horizonte.
— Eu considero o Rony o "motorzinho" do Palmeiras. A válvula de escape numa equipe extremamente acostumada a buscar o ponta. Recuperar a posse e lançar o ponta, muitas vezes através da bola longa, é uma das principais jogadas do Palmeiras desde os tempos do Dudu. Rony é este cara agora, que corre e dá o ritmo pro time chegar na frente. Deu muito certo na conquista da Libertadores, quando ele foi um dos artilheiros do time com 5 gols e líder de assistências de toda a competição, com 8 passes pra gol — avalia André Galvão, comentarista da Rádio Transamérica, de São Paulo.