Criticado após trabalhos curtos no Fluminense e no Athletico-PR, Fernando Diniz enfim conseguiu quebrar a sina do São Paulo de ser um "moedor de técnicos". Mesmo após três eliminações traumáticas em 2020, o treinador de 46 anos se tornou o segundo mais longevo da Série A (atrás apenas de Renato Portaluppi) e é a grande aposta do Tricolor paulista para superar o Grêmio na semifinal da Copa do Brasil.
Quando contratou Fernando Diniz, em setembro de 2019, o São Paulo tinha como principal característica a instabilidade da comissão técnica. Desde a saída de Muricy Ramalho, em abril de 2015, o clube do Morumbi teve 16 técnicos em apenas quatro anos e meio.
Chama atenção ainda o fato de Diniz ter resistido no cargo mesmo após a eliminação no Paulistão, para o modesto Mirassol, a queda na fase de grupos na Libertadores e a queda precoce na Copa Sul-Americana.
— A direção foi pressionada a trocar, mas decidiu apostar no trabalho que ela via com os próprios olhos no dia a dia, que era muito bom. E, como os jogadores gostam do Diniz, os dirigentes tiveram paciência e decidiram bancá-lo. Estamos vendo o resultado no campo — relata o repórter do Grupo Globo André Hernan.
O curioso é que a ausência de público no Morumbi pode ter contribuído para a estabilidade do treinador. Caso o estádio estivesse lotado no empate com o River Plate e nas eliminações para Mirassol e Lanús, por exemplo, possivelmente a direção não teria resistido às pressões das arquibancadas.
— Uma eliminação com público poderia gerar uma comoção, e a diretoria poderia não aguentar a pressão. Aconteceu neste ano uma pressão virtual, mais distante e mais controlável. Isso pode ter tido sim alguma influencia — avalia o repórter Guilherme Pradella, da rádio CBN.
Psicólogo de formação e autor da monografia "A importância da liderança do técnico em uma equipe de futebol", Fernando Diniz tem como características o bom relacionamento com os atletas e a capacidade de recuperar jogadores desacreditados.
— As relações humanas que o Fernando Diniz consegue fazer com os jogadores talvez sejam o principal ponto do seu trabalho. Um dos grandes exemplos é o Brenner, que virou um dos destaques do futebol brasileiro no ano. Já o Gabriel Sara, que subiu da base e teve um início irregular, é hoje um dos principais jogadores do time. O Diniz consegue fazer os jogadores acreditarem nele e nas suas ideias — completa Pradella.
Mas o técnico é elogiado também pelo seu conhecimento tático. Após os piores momentos do time na temporada, o treinador mudou o esquema e fez ajustes que deram resultado e colocaram a equipe na semifinal da Copa do Brasil e na liderança do Brasileirão, com sete pontos de vantagem sobre o segundo colocado.
— O Diniz soube se reinventar diante das frustrações das eliminações. Ele mudou as duplas de zaga, mudou o meio-campo, promoveu a entrada do Luan, mexeu no posicionamento do Daniel Alves e, com a entrada do Brenner, encontrou uma alternativa para um ataque que criava, mas não marcava. E ele tem sintonia com os jogadores, que compraram a sua ideia de trabalho e marcharam juntos com ele — avalia a comentarista do Grupo Globo Ana Thaís Mattos.
São Paulo e Grêmio se enfrentam nesta quarta, às 21h30min. Como o time gremista venceu o jogo de ida, em Porto Alegre por 1 a 0, os são-paulinos precisam vencer por dois gols de diferença para avançar à final da Copa do Brasil. Uma vitória do time da casa por um gol levará a decisão por pênaltis.