Os quatro anos de Grêmio, que Renato Portaluppi completará daqui a menos de 10 dias, deixaram o treinador preparado para os mais variados momentos. A conquista da Copa do Brasil, que pôs fim a uma seca de 15 anos sem títulos relevantes, e a glória do tri da América deram respaldo ao técnico para sobreviver sem tantos sobressaltos às fases difíceis.
Na última vez que se manifestou, na entrevista após o empate com o Atlético-GO, ele disse que a única crise que havia no clube era a do "excesso de títulos". Mas sabe que não é verdade. Tanto que ontem, um dia antes da partida contra o Bahia, a ser realizada às 19h15min desta quinta em Salvador, no Estádio de Pituaçu, até o presidente Romildo Bolzan Jr. apareceu. Entre confiança e respaldo, está claro que o time está pressionado.
Não é comum o dirigente convocar repórteres para responder a perguntas. Romildo costuma guardar manifestações desse tipo para prévias de partidas maiores. A nona rodada do Brasileirão, porém, se mostrou um desses momentos. A estratégia do dirigente foi fortalecer o trabalho de seu treinador.
— O Renato é um treinador vitorioso no clube, tem completo domínio do elenco e tem a confiança da direção. Portanto, um fim de ciclo com este grupo só se efetivamente a gente acabar errando todos os nossos diagnósticos. Eu não acredito nisso — disse o presidente.
Nessa relação de quase meia década em sua terceira passagem pelo Grêmio, definitivamente, Renato está em seu momento de maior contestação. No domingo, depois do quinto empate (e sexto jogo consecutivo sem vitória) no Brasileirão, torcedores subiram a hashtag #foraRenato. Quinta, na entrevista coletiva do presidente, a sessão de interatividade misturava uma espécie de decepção por uma suposta falta de novidades sobre Cavani e reclamações quanto ao desempenho do time.
Até por isso, Romildo garantiu estar atento para realizar "debates e diagnósticos". Lembrou que fez o mesmo com Felipão em 2015 e afirmou que se "observarmos que tem alguma situação que necessita algum tipo de interferência, claro que vamos fazer um debate". No caso anterior, uma conversa entre Felipão e o presidente determinou que o melhor caminho era trocar a comissão técnica. Ainda que seja o único cenário possível para uma eventual ruptura com Renato, o presidente garante que a partida desta quinta à noite não tem qualquer interferência:
— O treinador não tem nenhum risco, de absolutamente nada. Não existe isso. Eu sou presidente do Grêmio há cinco anos e já passei por descomposturas de todos os tipos, não é a primeira vez que isso acontece. O futebol é absolutamente emocional. O Grêmio é um clube vencedor, que recupera logo ali na frente.
E não foi só com os treinadores anteriores a Renato que Romildo Bolzan viveu momentos de pressão. Depois da chegada de Portaluppi também houve momentos de turbulência. Em 2017, quando o time foi eliminado antes da final do Gauchão, para o Novo Hamburgo, o técnico teve serenidade para seguir o trabalho que ganharia a Libertadores (deixada de lado no momento da decisão do Estadual).
Em 2018, à perda do Gre-Nal (o último, aliás) e à queda na Libertadores para o River Plate seguiram-se assuntos paralelos, como a briga entre os atletas no clássico local e à presença do técnico Marcelo Gallardo (então suspenso) no vestiário argentino na Libertadores, que levou até a uma ação no tribunal da Conmebol. E no ano passado, a goleada histórica sofrida para o Flamengo na semifinal da Libertadores não impactou a campanha no Brasileirão, e o Grêmio ficou na parte de cima da tabela.
Isso porque Renato tem um estilo que todos conhecem. Com a malandragem adquirida nos anos de praias cariocas, ele costuma se comportar como o pai que sabe que o filho fez coisa errada, mas prefere resolver em casa em vez de tratar o assunto na frente dos outros. Blinda o que costuma chamar de "seu grupo". Atrai os holofotes para si e deixa que os comentários o atinjam enquanto, segundo ele mesmo, dá a bronca internamente.
É o que poderá ser visto a partir das 19h15min. A reação do Grêmio no Brasileirão é urgente.