Everton, o Cebolinha, está de saída do Grêmio. Após o Gre-Nal 426, na quarta-feira (5), o gesto levantando a taça e a entrevista à beira do gramado emocionaram a torcida pelo tom de despedida. Nas redes sociais, o vídeo da gremista Isabele Rezende, sete anos, comoveu mais ainda quem já estava abalado pelas palavras do atacante. Aos prantos, a menina alternava entre a alegria pelo título do turno do Gauchão e a tristeza pela venda do jogador, seu "preferido desde quase o nascimento".
— Estou muito triste porque ele vai sair do Grêmio, mas também feliz por ele. Obrigada por tudo, Everton — soluçou a torcedora, enxugando os olhos.
Isabele é de Santos, litoral de São Paulo. Ela e a mãe Nathalia Rezende, 29 anos, foram conquistada pelo fanatismo do pai e marido Marco Antonio de Souza, 29, gaúcho de Porto Alegre. Ele afirma que a filha gosta de Everton desde quando era ainda menor e acompanhava os jogos do Tricolor com o pai.
Marco acredita que a filha tenha criado o fanatismo pelo jogador inicialmente por causa do apelido com nome de personagem da Turma da Mônica. Entretanto, ele diz que Isabele consome menos os desenhos com Cebolinha do que os lances do camisa 11. Ele relembra o Mundial de 2017, quando o gol de Everton levou o Grêmio para a final e encantou Isabele.
— Quando ele estava em campo, eu falava que era o Everton Cebolinha, ela via que ele jogava bem e começou a gostar mais dele do que dos outros — resume Marco Antonio.
O fim da trajetória de Everton no Grêmio vem sendo conversado entre os pais e Isabele. No Gre-Nal da quarta-feira (5), o pai avisou que talvez o jogador não atuasse. A escalação confirmou Cebolinha em campo e deu a chance de Isabele ver uma das melhores atuações dele no ano.
— Quando Geromel passou a faixa de capitão para ele levantar a taça, lembrei ela que devia ser pela despedida. Na hora, ela entendeu o que acontecia e caiu no choro, que só aumentou até a entrevista dele para a TV — conta Marco, sem esconder que se emocionou junto com a filha.
A ideia de gravar o vídeo foi da mãe. Nathalia pediu para que Isabele dissesse o que estava sentindo. Acreditava que aquela mensagem poderia chegar a Everton e fazer o atacante ouvir o que todos os gremistas queriam dizer para ele. O recado chegou, e Cebolinha retribuiu o carinho.
— Quando recebemos o comentário dele no vídeo, fomos na hora mostrar para ela. Ela ficou muito entusiasmada — lembra Nathalia.
"Até logo"
A família de Isabele planeja mudar-se para a cidade de Porto, em Portugal, desde antes da negociação entre Grêmio e Benfica.
— Talvez essa despedida não seja um adeus, mas um até logo. Essa nossa possível ida para lá fez parte das conversas com ela. Aproveitamos para explicar que o futebol e a vida são feitos de ciclos, e ir para Portugal vai ser bom para o jogador tanto quanto pode ser bom para nós — explicou.
O futebol que Cebolinha mostrar no time de Lisboa pode levar Isabele a reconsiderar a preferência do pai pelo rival azul e branco do Porto. A gremista diz que vai torcer para o Benfica de Everton e Jorge Jesus mesmo se não receber o apoio do pai.
— A camisa infelizmente é vermelha. Eu preferia que fosse azul, preta e branca — lamenta Isabele.
A pouca idade da irmã caçula, Luiza, de apenas 11 meses, faz com que Isabele e os pais Marco e Nathalia, dentistas, esperem mais alguns anos antes de irem para Portugal. Caso a mudança ocorra, torcer para um time que não é o da cidade em que mora não será uma novidade nem algo difícil para eles. A família é de Santos, litoral de São Paulo, e os colegas de aula da menina estranham a torcida para um time de longe. A mãe, torcedora santista, se apaixonou pelo Grêmio ao longo dos nove anos casada com o marido.
— Nunca incentivei ela a torcer pelo Santos. Sempre que estamos em Porto Alegre vamos nas partidas da Arena, também fomos ver o Everton na Copa América. A torcida daí tem um fervor diferente, não é a mesma coisa que ver um jogo daqui, por exemplo — comenta a mãe.
Preparada para a despedida
Se Isabele tivesse a chance de encontrar Everton na sala de embarque do aeroporto para passar uma última mensagem de apoio ao atacante antes do voo para Portugal, ela diria:
— Eu te amo muito, boa sorte pra ti e tua família, e muito sucesso.
Questionada se pensa em um próximo jogador do Grêmio para ocupar o posto de seu preferido, ela diz que escolheu o zagueiro Geromel. O motivo?
— Porque ele levanta taças... — respondeu, tão esclarecida quanto pode ser uma criança:
— ... e tem cara de bonzinho.