Irreverente e habilidoso, um jovem de cabelos loiros e apenas 23 anos chamava atenção naquele Grêmio de 1995. De reserva do Flamengo no ano anterior ao posto de ídolo tricolor na conquista do bi da Libertadores, Paulo Nunes fez cinco gols na campanha do título da América, com direito a gol no primeiro jogo da final, no Olímpico, na vitória por 3 a 1 sobre Atlético Nacional. Na volta, não conseguiu cumprir a promessa que havia feito de marcar o gol do título com a perna direita ou de cabeça, mas foi substituído por Alexandre "Xoxó", que sofreu o pênalti convertido por Dinho no final da partida em Medellín.
Este jogo no Estádio Atanasio Giradot, que valeu o segundo troféu da Libertadores para o Grêmio, será retransmitido pela Rádio Gaúcha às 16h deste domingo (14), no projeto Saudade do Esporte, do Grupo RBS. E o "Diabo Loiro", como o camisa 7 do time de Felipão era chamado, só esteve neste grupo por conta de uma troca que envolveu a saída do zagueiro Agnaldo para o Flamengo e a chegada do centroavante Magno ao Olímpico.
Vamos à história. O presidente Fábio Koff, campeão da América e do Mundo em 1983, havia retornado ao cargo em 1993 com uma missão: trazer para Porto Alegre a segunda taça da Libertadores. Assim, foi em busca de reforços.
Campeão da Copa do Brasil em 1994, viu que o ano seguinte era a grande oportunidade gremista. Por isso, tratou de garimpar atletas. O vice-presidente de futebol era Luiz Carlos Silveira Martins, o Cacalo, que depois viria a ser presidente do clube. Ele era o encarregado pelas contratações — claro, com o aval do presidente e a opinião técnica de Luiz Felipe Scolari, então treinador do time.
Àquela altura, surgiu uma proposta do Flamengo para levar o zagueiro Agnaldo, um dos destaque da equipe no ano anterior. O Grêmio, então, aproveitou-se da situação e concordou negociá-lo. Não sem antes fazer suas exigências: recebeu US$ 600 mil e pediu mais dois jogadores por empréstimo até o fim do ano. O primeiro foi o centroavante Magno, um desejo de Felipão. Depois, o clube recebeu uma relação com oito jogadores do time carioca para escolher um.
— Eles me deram essa lista e acabamos optando pelo Paulo Nunes. Escolhemos ele porque perdemos o Fabinho, que era o nosso ponta-direita no ano anterior e retornou de empréstimo ao Corinthians. Precisávamos de alguém para a posição e acabou sendo uma ótima escolha — recorda Cacalo.
De fato, foi a melhor escolha possível. Não demorou para que o carismático jogador de cabelos loiros se consolidasse como titular e peça fundamental do time. Tanto que foi escolhido como o goleador mais importante da história do Grêmio no projeto SuperDupla, de GaúchaZH.
— No Grêmio, encontrei a minha vocação para jogar pelo lado direito e tenho sido feliz na maioria dos jogos — disse Paulo Nunes poucos meses depois de chegar a Porto Alegre.
— Quero ficar no clube porque o Luiz Felipe sabe como valorizar o meu trabalho e Porto Alegre é uma bela cidade. A minha adaptação é perfeita, já tenho muitos amigos e as condições de trabalho são excelentes — complementou em entrevista a Zero Hora em maio de 1995.
Para contratá-lo em definitivo, o Tricolor teria de pagar R$ 700 mil ao Flamengo. Algo que foi feito e possibilitou que o camisa 7 seguisse no Rio Grande do Sul até 1997, quando foi negociado com o Benfica, de Portugal.
Paulo Nunes, inclusive, saiu-se muito melhor do que Magno com a camisa tricolor, que havia sido a primeira opção do Grêmio na troca com o Flamengo.
— O Magno era um grande jogador, mas teve uma lesão séria no joelho logo que chegou. Mas sabíamos que o Paulo Nunes também era um grande jogador. Muitos dizem que ele veio como contrapeso, mas não. Foi uma escolha nossa também — garante Cacalo, hoje colunista do Diário Gaúcho.
Além deles, chegaram naquele ano ao clube nomes importantes da história gremista, como o lateral-direito Arce, os zagueiros Adilson e Rivarola, os volantes Dinho e Goiano e o centroavante Jardel. Todos fundamentais para que a missão de Koff fosse concretizada e o Grêmio, enfim, conquistasse o bi da Libertadores em 1995 naquele duelo contra os colombianos do Atlético Nacional.