Um dos países europeus menos afetados pela covid-19, Portugal se prepara para retomar seu campeonato nacional no dia 4 de junho. Embora ainda estejam sendo cumpridos inúmeros protocolos sanitários de controle da pandemia, a notícia anima muitos brasileiros que atuam no futebol português. Um deles é o meia Lincoln, ex-Grêmio.
Atuando no Santa Clara, clube do Arquipélago dos Açores, o jovem de 21 anos concedeu entrevista a GaúchaZH e relatou o comportamento dos portugueses durante a quarentena, além da ansiedade pela volta dos jogos.
Como recebeu a notícia da retomada do futebol em Portugal?
A gente fica muito feliz porque é uma coisa que a gente ama fazer. Foi bastante difícil passar por essa pandemia, que está matando muitas pessoas, infelizmente. Sabemos que é uma situação muito delicada, temos de nos prevenir, mas estamos muito felizes pela retomada da competição. Acredito que todo mundo deseja que essa pandemia passe logo e que a gente dispute as fases finais da competição, sem que ela seja encerrada. Se Deus quiser, vai ocorrer tudo bem.
Que tipo de cuidados o clube pediu para vocês? Na Coreia do Sul, por exemplo, os jogadores não puderam se abraçar para comemorar um gol.
Na verdade, o clube ainda não passou nada. Apenas nos disseram que a competição vai retomar, mas não vai ser na nossa casa. A gente vai ir para o continente. Nós e o Marítimo somos times da ilha. Portanto, os jogos serão em Lisboa, Porto ou algum outro lugar. Vai ser longe da nossa torcida, vai ser difícil, mas temos de seguir. Não definiram a data exata ainda, mas eles querem realizar o primeiro jogo até a primeira semana do mês que vem.
Quando foi a volta aos treinos? E como você está fisicamente?
Nós não ficamos parados. Fazíamos treinos em casa, por chamadas de vídeo. Há duas semanas, retomamos os treinos, mas em dupla, com cada atleta em uma parte do campo. Não foi liberado mais do que isso. Antes, estávamos correndo, fazendo trabalho de funcional, de prevenção de lesões, mas a gente sabe que isso não é a mesma coisa. Semana passada, voltamos em grupos maiores, com quatro de cada lado, para trabalhar passes e finalizações. Então, ajudou um pouco. Acredito que estou bem fisicamente. Até por perder um pouco de massa muscular, por ficar parado, o clube deu todo suporte para continuarmos com a forma física de quando paramos.
Como você e sua família passaram por este período de quarentena aí na ilha?
Os europeus são muito rígidos. Vejo as notícias do Brasil, que as pessoas não ligam muito, mas isso tem que ser levado a sério. Estou na ilha de São Miguel, nos Açores, mas a maior quantidade de casos foi no continente. Na ilha mesmo foram poucos casos. Por isso, o governo foi ainda mais rígido, não deixando as pessoas entrar, respeitando o isolamento. Nossos treinadores vieram do continente para cá e tiveram de fazer quarentena. Logo depois que surgiram os casos de coronavírus, tínhamos que usar máscara e luvas para ir ao mercado, obedecer distância de dois metros nas filas... Mas o povo suportou muito bem isso aqui.
Como é o clube em que você joga? E tem falado com outros brasileiros que estão aí em Portugal?
Aqui em Portugal, eles gostam de atletas brasileiros. A maioria dos times têm muitos. Só no meu time são oito. O clube nos dá todo suporte. E nós (brasileiros) acabamos conversando mais nos dias de jogos mesmo. É muita correria. Lembro que no meu primeiro jogo contra o Porto, o Alex Telles estava ao meu lado no túnel, olhou para mim e disse: "Não estou acostumado a te ver de vermelho, só de azul. Nem te reconheci". Aí a gente conversou. Falei também com o Otávio (ex-Inter). Desejo todo sucesso a eles, mas agora, com a retomada da competição, é vida que segue. Nosso objetivo principal, que é permanecer (na primeira divisão), já está praticamente alcançado. Agora estamos comprometidos em trabalhar por algo mais. Pode ser a Liga Europa, quem sabe.