Nas três últimas temporadas, o Grêmio teve um dono da lateral esquerda: Bruno Cortez. Desde que chegou ao clube, em 2017, disputou nove dos 12 Gre-Nais realizados no período. Só esteve de fora quando os reservas foram escalados. Aí, entrava Juninho Capixaba. Para esta quinta-feira (12), no entanto, o recém-chegado Caio Henrique deverá ser o titular no clássico histórico, o primeiro válido pela Libertadores, por opção do treinador.
Contratado por empréstimo junto ao Atlético de Madrid, o jovem de 22 anos foi um dos destaques do Brasileirão de 2019 na posição. O bom desempenho no Fluminense o levou ao Grêmio para ser o novo titular da lateral esquerda e, consequentemente, encerrar a "dinastia" de Cortez.
Mais ofensivo do que o antigo titular, como foi caracterizado pelo próprio técnico Renato Portaluppi, Caio Henrique é um lateral que chega menos à linha de fundo do que seu antecessor e busca mais jogadas combinadas pelo centro. Como tem origem no meio-campo, é um atleta acostumado a fazer o chamado jogo apoiado.
— O time do Renato tem essa característica de passe curto e posse de bola. O Caio Henrique dá essa possibilidade de retenção de bola, boas triangulações. O Cortez é mais direto. Ele passa e corre, dá mais profundidade. Não é um cara de tanta manutenção de posse — avalia o ex-lateral-esquerdo Rubens Cardoso, campeão da Copa do Brasil de 2001 pelo Grêmio.
Assim, o esquema com Lucas Silva, Maicon e Matheus Henrique poderá ser eficiente. Enquanto o ex-Real Madrid se posiciona mais próximo da linha de defensores e inicia as jogadas, os outros dois abrem para tabelar com o lateral e o atacante de lado.
Nos últimos jogos, Matheusinho tem feito combinações com Everton, como no segundo gol contra o América de Cali. Já Maicon apoia Alisson e Victor Ferraz, com tabelas e infiltrações pela direita. Aliás, o lateral-direito que chegou neste ano é outro com características de passe curto e centralização das jogadas, o que indica uma ideia da comissão técnica por um estilo de menos cruzamentos e mais bola no chão.
— Essas contratações podem indicar um conceito de jogo, sim. Até porque o Victor e o Caio são parecidos. Mas aí o treinador tem de lidar com a questão do equilíbrio — avalia Rubens Cardoso.
Esse equilíbrio ao qual ele se refere diz respeito à utilização de dois atletas de bom passe e fortes no apoio pelos flancos. No entanto, para outro ex-lateral campeão pelo Grêmio, esse modelo de jogadores de lado que centralizam as ações ofensivas facilita a marcação.
— Quando os laterais vão para o meio, encontram mais cobertura, mais gente para driblar. Por isso é importante que usem os lados do campo. O Caio ainda precisa se adaptar a isso, coisa que o Victor já tem conseguido aproveitar — destaca Paulo César Magalhães, que vestiu a camisa tricolor entre 1981 e 1985.
De fato, os números têm provado essa tese. Ainda que a amostragem de Caio Henrique seja pequena em quatro jogos pelo clube, foram apenas cinco cruzamentos. E nenhum deles encontrou a cabeça de algum companheiro. Cortez, ainda que não tenha bom aproveitamento, alçou 29 bolas para a área e acertou cinco (17,2% de precisão).
Em contrapartida, o recém-chegado acerta um percentual maior de passes — curtos e longos. Até agora, o aproveitamento de Caio Henrique pelo chão é de 93,3% e 42,8% nos lançamentos, enquanto Cortez tem 91,9% de precisão nos passes curtos e 41,6% nas bolas longas.
Problema defensivo?
Se ofensivamente fica claro o que muda com um ou outro, atrás não é muito diferente. Cortez é melhor no um contra um defensivo, mas Caio Henrique tem conseguido suprir essa dificuldade com bom posicionamento e capacidade de recuperação. Em quatro jogos, foram quatro desarmes por parte do garoto vindo do Fluminense. O veterano roubou 10 bolas em nove jogos, média semelhante à do companheiro.
Nas rebatidas, sim, Cortez é bastante superior. Foram 14 nesta temporada, enquanto Caio Henrique afastou a bola da defesa apenas três vezes. Neste ponto, o esquema com três volantes acaba beneficiando a utilização de laterais mais ofensivos.
— Com três volantes, os laterais têm, em tese, mais liberdade, porque sustentam mais a defesa — explica Rubens Cardoso.
Ainda assim, a ideia de que os volantes fazem a cobertura dos laterais não se aplica, na avaliação de Paulo César Magalhães. Ele salienta que os atacantes de lado, como Everton e Alisson, dão mais apoio defensivo pelos flancos do que Lucas Silva, Maicon e Matheus Henrique.
— Os três volantes do Grêmio estão ali para suprir o meio. Não se tem mais essa cobertura das laterais por parte deles. Faz tempo que não vemos isso — afirma.
Outro ponto que pode impactar no quesito defensivo da equipe diz respeito à escalação do adversário. O Inter mantém a dúvida em relação aos jogadores que disputarão o Gre-Nal. Entre D'Alessandro, Marcos Guilherme e Thiago Galhardo, jogarão dois. Um deles estará ali na direita, enfrentando o lateral-esquerdo do Grêmio.
— É difícil não saber quem joga. Mas nem o Caio nem o Cortez enfrentaram esses jogadores. Então, teoricamente, nenhum tem vantagem por conhecer melhor o adversário que irá encarar. Não ter essa certeza deixa o lateral um pouco preocupado antes do jogo, mas depois que a partida começa, são 11 contra 11 e ganhará quem estiver melhor — ressalta Paulo César Magalhães.
NÚMEROS PELO GRÊMIO EM 2020
CAIO HENRIQUE
- 4 jogos
- 234 minutos
- Nenhum gol
- Nenhuma assistência
- 105 passes (98 certos)
- 7 lançamentos (3 certos)
- 5 cruzamentos (Nenhum certo)
- Nenhuma finalização
- Nenhum drible
- 4 desarmes
- 1 interceptação
- 3 rebatidas
BRUNO CORTEZ
- 9 jogos
- 668 minutos
- Nenhum gol
- 1 assistência
- 434 passes (399 certos)
- 12 lançamentos (5 certos)
- 29 cruzamentos (5 certos)
- 3 finalizações (1 certa)
- 4 dribles
- 10 desarmes
- 1 interceptação
- 14 rebatidas