O lateral-direito Victor Ferraz foi um dos personagens da vitória do Grêmio sobre o São José nessa quinta-feira (30) na Arena. O cruzamento para Everton abrir o caminho para a virada foi a primeira assistência dele com a camisa 2 gremista. O jogador, de 32 anos, que em 2019 foi o lateral que mais deu passes para gol no futebol brasileiro, espera confirmar em Porto Alegre a fama de garçom e projeta coroar sua passagem pelo clube com títulos.
Em conversa com GaúchaZH, Victor Ferraz contou suas impressões das primeiras semanas na nova casa e ressaltou que encontrou um elenco com ambição por taças. Isso era algo que buscava quando tomou a decisão de deixar o conforto de capitão do Santos que tinha na Vila Belmiro para chegar ao Tricolor em busca de um novo desafio na carreira.
Você fez o cruzamento para o primeiro gol do Everton contra o São José. O torcedor gremista pode esperar muitas assistências suas nesta temporada?
— Nos últimos anos venho dando bastante assistências. Em 2019 fui o lateral que mais deu assistências no Brasil. É uma característica minha, mas não adianta ficar só nos números e falar, tenho de fazer dentro de campo. Me preparei muito antes de vir para cá para que eu pudesse ajudar e suprir as expectativas sobre mim.
O Renato destacou a mudança de atitude do time no jogo contra o São José. O intervalo foi de muita cobrança?
— O que ele falou de mudança de atitude não foi de vontade. Ele até disse que a gente estava com vontade, mas correndo um pouco errado. As movimentações não estavam sendo as corretas. A movimentação do São José estava encaixando no nosso jogo. Ele mexeu um pouco taticamente e nos ajudou a encontrar as brechas. O fato de o São José cansar também interferiu. Você vai correndo atrás e vai cansando também psicologicamente. A gente foi feliz e conseguiu aproveitar as finalizações.
O Renato é muito elogiado pela relação que tem com os jogadores. Como tem sido esse dia a dia com ele?
— Eu estou muito feliz. Estou gostando bastante. O Renato é um cara sensacional, que cobra na hora que tem de cobrar, mas que brinca e deixa o clima leve. Ele é um ídolo da torcida e nos dá respaldo, nos dá confiança para fazer o nosso trabalho de forma mais leve. O jogador profissional hoje é muito cobrado, principalmente com as redes sociais. Eu peguei o antes e o depois das redes sociais. Certamente, a cobrança agora é 10 vezes maior. Em pouco tempo de clube deu para perceber que ele consegue deixar o jogador bem à vontade. Ele tem esse peso com imprensa e torcida e em pouco tempo deu para notar que ele passa tranquilidade para o grupo.
Você falou em redes sociais. No ano passado, ganhou destaque uma entrevista sua no Santos em que você abordava esse assunto. É algo que te incomoda?
— O jogador profissional, principalmente na base, precisa ter um trabalho muito grande em relação a isso. A tendência é de que essa pressão aumente cada vez mais. Penso que daqui a 10 anos a pressão será fora do normal. Eu acredito com que isso faz com que o nível do futebol diminua. Quanto mais um jogador estiver pressionado, menos ele joga. Um jogador confiante desenvolve o futebol com tranquilidade. Pressionado, o nível dele cai.
O que mais te chamou atenção no grupo do Grêmio?
— O fato de o Grêmio ter conquistado títulos nos últimos anos aumenta a responsabilidade de quem chega. Nós temos de dar sequência a esse período de conquistas. O que me chamou muita atenção foi a ambição dos jogadores que estão aqui e já ganharam bastante. Maicon, Kannemann, Geromel e Cortez, esses caras têm uma ambição muito grande de seguir ganhando. Isso motiva. A fome de títulos deles segue igual. Isso me chamou atenção e fiquei muito feliz. Quando você está de fora pode pensar que é diferente, mas chegando aqui isso me chamou atenção. Encontrar jogadores que já ganharam aqui com essa vontade motiva ainda mais quem está chegando. Quero muito poder vencer e marcar meu nome na história do Grêmio.
Você começou a carreira no São José. Isso ajuda na adaptação a Porto Alegre?
— O São José foi o meu primeiro clube como profissional. Eu morava no clube e não tinha muitas possibilidades de sair do estádio. Estou conhecendo Porto Alegre agora. Eu já tenho um jeito mais caseiro. Saia algumas vezes para ir na igreja ou ao shopping e voltava.
Foi especial enfrentar o São José pela primeira vez?
— Foi legal porque passou um filme na minha cabeça. Passei bastante dificuldade para poder chegar ao Grêmio agora. O São José abriu as portas para mim naquele momento. Joguei o Gauchão, a Série D e a Copinha no segundo semestre. Foi no Passo D'Areia que comecei a jogar nos profissionais. Fico feliz de voltar a Porto Alegre em um outro momento e reencontrar o Zequinha. Foi um momento especial.
Como foi a decisão de deixar o Santos, onde você era capitão e tinha identificação com a torcida?
— Não foi uma decisão fácil. Foram muitos jogos no Santos, cheguei a completar 100 partidas como capitão. Penso que foi o momento certo. Todo ciclo chega ao fim e era o momento de mudar de ares. Tive a chance de vestir outra camisa importante e me desafiar. Não estava acomodado lá, mas foi desafiante vir para um outro clube. É uma novidade buscar títulos por outra equipe. Fiquei muito feliz com o interesse do Grêmio e com bastante desejo de vir.
Há muita diferença entre Sampaoli e Renato?
— O Sampaoli é um cara muito diferenciado. Eu tive uma relação muito próxima com ele, o que é normal entre capitão e treinador. Ele é um cara extremamente estrategista, que nunca repete a mesma tática. Ele sempre busca explorar as deficiências do adversário. Onde ele vê um ponto fraco, tenta explorar. Não quer dizer que isso o torna melhor ou pior que os outros. Estou aprendendo com o Renato coisas novas também. O Renato tem um outro estilo. Ele tem um jeito de jogar e os outros times que tentem se adaptar e marcar a equipe dele. Ele tem personalidade e acredita nesse estilo, tendo títulos e respaldo para isso. São estilos completamente diferentes, mas são dois grandes treinadores.
A Libertadores é a sua grande obsessão neste primeiro ano de Grêmio?
— O grande sonho de um jogador que atua na América do Sul é conquistar a Libertadores. Cheguei perto com o Santos e vim para cá com muita vontade de vencê-la. A partir do momento que acertei minha vinda, recebi muitas mensagens de torcedores falando da Libertadores. Deu para sentir que realmente é uma obsessão do torcedor. Vou me preparar muito bem para quando chegar as partidas da Libertadores estar em um grande nível para poder ajudar.