Não deixa de ser irônico. Quarta-feira (23), valendo vaga na final da Libertadores, o Grêmio terá de enfrentar o time milionário do Flamengo diante de 60 mil fanáticos. Mas Renato Portaluppi estará em casa. Sim, o Rio de Janeiro, o Maracanã e o futebol carioca fazem parte de seu passado e de seu presente.
Para mostrar as relações pessoais do treinador do Grêmio com a Cidade Maravilhosa, a reportagem mergulhou na história do ídolo tricolor e descobriu personagens marcantes do início de sua carreira como técnico, no Madureira, em 2001. Além disso, mostra hábitos que o ídolo gremista tem quando curte folgas ou férias na capital fluminense.
Chope e futevôlei
Quando está no Rio de Janeiro, Renato passa boa parte do tempo jogando futevôlei na praia de Ipanema, próximo ao posto 10. Muitas vezes, joga na companhia de outros ex-jogadores, como Edmundo, Djalminha e Cláudio Adão. Na praia, frequentemente está acompanhado da filha Carol Portaluppi. Quando não está jogando, costuma tomar chope com amigos, ou na própria orla ou no tradicional bar Garota de Ipanema, na Rua Vinícius de Moraes.
— O Renato é um cara maravilhoso, muito gente boa. Gosto muito de atender ele, não por ser uma pessoa famosa, mas pelo ser humano que ele é. Atendo ele desde 1998, quando ele estava no Fluminense. Na época, a Carol era pequena. E, além de tudo, é o melhor técnico do Brasil — conta Luciano Brito, 44 anos, o garçom preferido de Renato no bar.
Normalmente, o treinador chega ao Garota de Ipanema na companhia de cinco amigos, pede um chope, sem colarinho, e uma picanha ou então uma pizza margherita, com tomate sem sementes e com manjericão e bastante ketchup. A reportagem de GaúchaZH esteve no bar e experimentou a pizza preferida de Renato. O prato foi aprovado.
Morador de Ipanema, onde reside com a esposa Maristela Bavaresco, o treinador possui também uma casa em um condomínio na Barra da Tijuca, onde cria um cachorro e um gato e é vizinho do ex-lateral do Flamengo, Júnior, hoje comentarista da TV Globo. Nas férias, o técnico também costuma viajar para Búzios com Maristela, onde ambos possuem também uma casa, na praia de Jetibá, bem próxima, claro, a uma quadra de futevôlei.
Apesar da fama de boêmio, Renato valoriza muito a família. Discreta e avessa entrevistas, Maristela teve um papel importante na escolha do treinador em retornar ao Grêmio em 2016. Tanto ela como a filha Carol fizeram um pedido para que ele se dedicasse mais à vida de técnico. O pedido foi atendido. Tanto que, logo depois, vieram os títulos da Copa do Brasil 2016 e da Copa Libertadores 2017.
— Vou levar a sério e vou me consagrar — disse Renato às duas, conforme revelado pelo próprio treinador em entrevista recente ao colunista de GaúchaZH, David Coimbra.
Mas, mesmo mais focado e mais multicampeão do que nunca, Renato segue indo ao Rio de Janeiro nas folgas e desfrutando dos hábitos que mais lhe agradam na cidade que escolheu para viver. Especialmente o chope na praia e o futevôlei.
Faixas e polêmicas como jogador
A história de Renato como jogador no Rio de Janeiro é marcada por grandes atuações, títulos históricos e também algumas polêmicas. O auge do atacante foi a conquista da Copa de União em 1987, pelo Flamengo, quando foi o melhor jogador de um time que tinha nomes como Zico, Zinho e Bebeto. Após uma passagem frustrada pela Roma, o atleta retornou ao Rubro-Negro em 1990, quando conquistou também a Copa do Brasil. O jogador ainda teria mais duas passagens pelo time da Gávea, em 1993 e em 1997.
Por incrível que pareça, a conquista mais lembrada de Renato no Rio de Janeiro não é o titulo nacional de 87 e sim o Campeonato Carioca conquistado em 1995 defendendo as cores do Fluminense. O curioso é que, naquele ano, o jogador foi oferecido ao Flamengo. No entanto, devido ao mau rendimento no Atlético-MG em 1994, acabou sendo rejeitado pelo então presidente do clube carioca, Kleber Leite, que fazia investimentos milionários e turbinava o time flamenguista com o chamado "ataque dos sonhos", com Romário, Sávio e Edmundo.
Então, o atacante acabou acertando com o rival Fluminense, que tinha um time modesto e limitado, além de passar por sérias dificuldades financeiras. Mesmo assim, o Tricolor das Laranjeiras, sob o comando de Joel Santana, conseguiu vencer o Flamengo por 3 a 2 na final, com o famoso gol de barriga. Pelo simbolismo da vitória contra o badalado rival, Renato é considerado por muitos jornalistas mais ídolo na torcida do Flu do que na do Fla.
Porém, polêmicas também marcaram a vida de Renato no Rio. No Brasileirão de 1991, defendendo o Botafogo, o jogador desfalcou a equipe na vitória sobre o Grêmio, que selou o rebaixamento da equipe gremista para a Segunda Divisão. Apesar de a versão oficial para ausência do atacante ter sido um problema médico, há quem diga que o jogador não quis entrar em campo para não contribuir para a queda do seu time do coração.
Esta não foi a única controvérsia. Em 1992, após o Botafogo perder o jogo de ida da final do Brasileirão por 3 a 0 para o rival Flamengo, Renato foi flagrado participando de um churrasco de comemoração do adversário, ao lado de todos os jogadores rivais. O atleta esteve na festa a convite do centroavante flamenguista Gaúcho, já falecido e, na época, um dos melhores amigos do ídolo gremista. O episódio, porém, pegou mal e Renato foi afastado do Botafogo, sequer participando do jogo de volta, que terminou em empate por 2 a 2.
Na temporada seguinte, Renato retornou ao Flamengo, onde se envolveu em uma nova polêmica logo no início do ano, no Campeonato Carioca. Após uma forte discussão em campo durante um Fla-Flu, o atacante e o então jovem meia Djalminha trocaram empurrões e quase foram às vias se fato, tendo que ser contidos pelos companheiros. Com moral no grupo, Renato teve a permanência bancada pelo técnico Evaristo de Macedo. Já Djalminha acabou sendo dispensado e foi para o Guarani, onde reiniciou uma trajetória de sucesso.
Em 1999, aos 36 anos, após duas passagens pelo Grêmio, depois de atuar em quase todos os grandes cariocas (exceto o Vasco), jogar na Roma e defender também o Atlético-MG e o Cruzeiro, Renato acertou com o pequeno Bangu. Como o clube havia conquistado o Campeonato Carioca em 1933 e em 1966, existia uma mística de que, a cada 33 anos, o time seria campeão. Por isso a aposta em 99 foi em Renato.
— O Renato tinha um problema sério na panturrilha. Falei para ele que precisava apostar no marketing do ano de 1999 e levei o Renato pro Bangu. Infelizmente, os problemas na panturrilha não deixaram ele jogar o que poderia, mas para o marketing dele foi excepcional — recorda Bris Belga, que trabalhou como supervisor no Bangu em 1999.
O Bangu acabou não conseguindo conquistar o Estadual. Mas aquela competição marcou o fim da carreira de um dos mais importantes personagens do futebol brasileiro.