Contratado pelo Grêmio em 2006, ele foi símbolo de um momento de reconstrução do clube, que recém havia deixado para trás a Série B do Campeonato Brasileiro. Meia de boa visão de jogo e habilidoso em cobranças de falta, o paranaense Anderson Simas Luciano, o Tcheco, viveu de tudo no Estádio Olímpico.
Primeiro, tornou-se referência técnica e de liderança no clube, onde foi capitão de uma equipe que conquistou dois títulos estaduais, em 2006 e 2007, mas que viu as grandes conquistas escaparem, em 2007 pela Libertadores, e em 2008 no Brasileirão.
No Grêmio, Tcheco foi criticado em alguns momentos, mas sempre contou com a admiração da maioria. Desta forma, o camisa 10 criou uma grande ligação com o clube gaúcho, onde atuou em 184 partidas, marcando 43 gols.
Nesta semana, com o Grêmio em Curitiba para decidir uma vaga na final da Copa do Brasil, ele recebeu a reportagem de GaúchaZH para um bate-papo em seu escritório, no Centro Esportivo Tcheco, um complexo com academia e quadras esportivas, que mantém no bairro Capão Raso, na capital paranaense.
Ao longo da conversa, falou sobre como vê o Grêmio de Renato, dos confrontos com Athletico-PR e Flamengo, recordou de sua passagem por Porto Alegre e da "atmosfera que tinha o Estádio Olímpico", e contou como e onde assistiu ao histórico jogo contra o Palmeiras, pela Libertadores, na semana passada, ao lado da esposa, que é torcedora do time paulista.
Confira na íntegra a entrevista de Tcheco:
O Grêmio tem a classificação encaminhada depois do 2 a 0 sobre o Athletico-PR no primeiro jogo?
A gente está falando de futebol, esporte que apresenta reviravoltas históricas, mas eu tenho certeza que o Grêmio tem os pés no chão e respeita a equipe do Athletico-PR e, dessa forma, possivelmente vai encaminhar a classificação. Pelo que venho acompanhando de mobilização dos torcedores, para eles aqui é o jogo do ano. O Athletico foi eliminado da Libertadores e perdeu a Recopa e ganhou a Copa Suruga e está depositando todas as fichas nesse jogo. Acho que o começo será muito forte e o Grêmio tem que segurar um pouco, mas sem sair do seu estilo para tirar proveito. Não está resolvido, mas encaminhado, desde que o Grêmio mantenha respeito com o adversário como sempre faz.
Pelo que venho acompanhando de mobilização dos torcedores, para eles aqui é o jogo do ano. O Athletico foi eliminado da Libertadores e perdeu a Recopa e ganhou a Copa Suruga e está depositando todas as fichas nesse jogo"
TCHECO
Ex-meia do Grêmio
Você é daquelas pessoas que acha o futebol praticado pelo Grêmio agradável?
Não é de agora, é de algum tempo. Às vezes tem um pouco de oscilação, mas é compreensível pelo número de campeonatos que o Grêmio participa. Não tem um elenco grande e o revezamento se faz necessário e às vezes tem um pouco de oscilação em alguns jogos, como no Brasileirão, onde está numa posição que não gostaria de estar. É um jogo bonito, que já tem um padrão e o carimbo Renato Portaluppi. Por isso que o Grêmio está há muito tempo brigando por título, porque criou uma identidade. Outro aspecto positivo que tem é a sintonia entre a diretoria e a comissão (técnica). Muitas vezes se tem vaidades, algumas conturbações. Mas por o Renato ter uma história no clube e o respeito de todos, isso se reflete dentro do campo. Não é por acaso que o Grêmio vem jogando um futebol bonito há muito tempo.
Falando nisso, ainda tem o duelo com o Flamengo, de Jorge Jesus, que também diz praticar um futebol bonito?
É difícil prever o que vai acontecer. São duas equipes que jogam pre frente. São as duas que estão jogando nesse momento, no futebol brasileiro. Com a chegada do Jorge Jesus, o Flamengo já encontrou um padrão e as duas equipes estão no mesmo patamar, no sentido padrão de jogo, confiança, com espírito bom, as torcidas confiantes. Acho que uma vantagem que o Grêmio pode ter é de jogar o primeiro jogo em casa. E se fizer o resultado pode tirar proveito da fase.
Aqui no seu Complexo Esportivo tem um pequeno museu, com taças, fotos, faixas, medalhas. Como surgiu a ideia de montar isso?
A ideia foi dos meus pais, desde as categorias de base do Paraná Clube. Quando saia foto nos jornais, algum comentário que enchia de orgulho os pais, eles acabavam guardando as coisas e eu nem não dava bola pra isso. Mas aos poucos foi crescendo, a história da minha carreira foi ficando legal e quando encerrei, eles resolveram colocar aqui numa parte do nosso complexo e é muito legal. Hoje eu posso dizer que faria o mesmo pro meu filho. Quando a gente está ali atuando não tem muita noção do que representa essas coisas. Mas são fotos, troféus, medalhas, cartazes e às vezes até dá um pouquinho de saudade. São recordações que realmente enchem a gente de alegria.
É um jogo bonito, que já tem um padrão e o carimbo Renato Portaluppi. Por isso que o Grêmio está há muito tempo brigando por título, porque criou uma identidade"
TCHECO
Ex-meia do Grêmio
Tem muita coisa de Grêmio. Qual a primeira coisa que vem à sua cabeça, quando se fala a palavra Grêmio?
A primeira coisa que vem na minha cabeça é entrar nos jogos no Olímpico e sentir a atmosfera que ele tinha. Ouvia muitos relatos de jogadores adversários que falavam: é entrar lá e a gente sabia que seria muito difícil de ganhar e a maioria perdeu. Eu no Grêmio perdi quatro partidas dentro do Olímpico. Então eu me lembro muito dessa atmosfera. E até hoje muitos torcedores me relatam isso. Me dá muito orgulho, que eles dizem que isso fez crescer de novo o espírito, o orgulho deles de torcer pro Grêmio. E isso é um pouco daquele elenco de 2006/07/08 e até mesmo de 2009, quando chegamos às semifinais da Libertadores. Foi o resgate do orgulho num época muito difícil, financeiramente. Tinha jogadores que não queriam jogar lá (no Grêmio) por isso, por falta de estrutura e isso era complicado. Mas a gente fez prevalecer a história do Grêmio, que literalmente ressurgiu das cinzas a partir da Batalha dos Aflitos e teve um upgrade muito grande e hoje vem colhendo frutos do processo. Foram bons momentos, apesar de os títulos importantes não terem sido ganhos, mas o torcedor reconhece o esforço feito.
Muitos jogadores que atuam no Rio Grande do Sul mantém uma forte ligação com os clubes de lá, após saírem. Porque isso acontece?
Desde o momento em que você chega no clube, os diretores, os funcionários, os torcedores, acabam induzindo você a ter a rivalidade, sempre sadia. Primeiro com o Inter, depois com o restante do Brasil. Eu lembro que a gente enfrentou o Corinthians, na última rodada de 2007, que eles estavam pra cair e nós tínhamos 5% de classificação pra Libertadores. E os torcedores queriam que a gente fizesse o jogo pra derrubar o Corinthians. A maneira do povo gaúcho de exercer a rivalidade, do bairrismo, num bom sentido, de toda a cultura que tem o Rio Grande do Sul, que a história fala por si faz que as pessoas que chegam lá comecem a entrar nessa dança e eu tenho um pouco disso também né e acabei entrando num clube que tem isso e gera uma exposição dos jogadores. Eu vejo o André Lima, assim e outros e vai acontecer também com os de agora, o Everton, o Kannemann, o Geromel, o Maicon, o Marcelo (Grohe) que joguei junto e que hoje atua no mesmo clube que eu joguei na Arábia. É uma identificação muito grande que a gente acaba e não tem medo de se expor. Mesmo que um dia eu me torne treinador, eu não tenho que ter medo de fazer isso, porque se enfrentar o Grêmio vou defender as minhas cores, mas o meu carinho e o meu respeito pelo Grêmio sempre vai existir.
Nos últimos tempos você tem feito muitos vídeos em redes sociais demonstrando todo o seu gremismo. Como foi agora contra o Palmeiras, time da sua esposa?
A minha esposa é palmeirense (a apresentadora de televisão Kelly Pedrita) e teve a casualidade do enfrentamento na Libertadores e ela quis fazer uma aposta de cantar o hino, na sacada de casa, do time rival. E quando o Palmeiras ganhou o primeiro jogo eu sofri gozação dela nessa semana: "Vai ter que cantar o hino do Palmeiras, já tá sabendo". E o Grêmio reverteu o placar. Ela quis ir ao jogo (no Pacaembu) e eu fui com ela, fiz a minha zoação com ela lá, jamais com o Palmeiras, por que tenho respeito. Mas a minha brincadeira era com ela, especificamente. O duro é que a gente estava na torcida do Palmeiras e eu não podia comemorar os gols. A torcida já estava braba, ela também. Mas eu fiz uns vídeos discretos, cantei o hino assoviando pra irritar ela. E ela vai pagar a promessa, ainda tá se recuperando, ia cantar domingo, mas levou outra pancada do Flamengo e tá com a cabeça inchada. Mas eu falei pra ela: não se meta com o tricolor dos pampas, você não sabe onde té metendo a mão. Macaco velho não põe a mão em cumbuca. E isso acabou se espalhando pelo Instagram, de forma sadia, muito legal.
Revelado pelo Paraná e com passagem pelo Coritiba, onde foi jogador, dirigente e treinador interino, evitando que o clube fosse rebaixado no Brasileirão de 2013, após vitórias sobre Botafogo e São Paulo e um empate com o Inter, Tcheco promete estar nas arquibancadas da Arena da Baixada, nesta quarta-feira (4), como mais um dos torcedores gremistas. Se a classificação vier, é provável que se tenha uma nova comemoração em sua redes sociais, já que a rivalidade com o Athletico-PR também fez parte de sua carreira.