O confronto entre Santos e Grêmio neste sábado, às 21h, na Vila Belmiro, vai reunir dois treinadores adeptos do futebol ofensivo. Com um mesmo propósito, o de montar times protagonistas, Renato Portaluppi e Jorge Sampaoli são atrações no duelo válido pela 20ª rodada do Campeonato Brasileiro.
Em três anos de Grêmio, Renato Portaluppi se orgulha dos seis títulos conquistados, mas também do estilo de jogo que mantém na sua equipe. O treinador costuma ressaltar que em nenhum momento abre mão do ataque. O argentino Jorge Sampaoli chegou ao Santos no início de 2019. Mesmo com um elenco modesto em relação aos principais rivais, mantém a ideia de que seu time deve ser protagonista e de que tenha a posse da bola independente do adversário.
— O Grêmio gosta de ganhar, gosta da bola, gosta de agredir. Não ganhou seis títulos à toa. Encara qualquer time na casa do adversário de igual para igual — reforçou Renato Portaluppi após o Grêmio vencer o Palmeiras, no Pacaembu, e conquistar a vaga na semifinal da Libertadores.
Logo em sua apresentação no Santos, Sampaoli deixou claro que não iria abrir mão de sua ideia. Ele vê como fundamental no futebol ter a bola e agredir o gol adversário.
— Gosto sempre de mirar o gol do rival. As táticas podem ser modificáveis, mas nunca o estilo. Tudo vai estar vinculado à bola. O que tenho visto nos últimos tempos, no futebol mundial, é que muitos times não querem a bola. E para nós a bola vai ser o melhor argumento para defender e para atacar — disse o argentino.
Os números mostram que Renato e Sampaoli colocam em prática seus discursos. Grêmio e Santos então empatados como os times de maior média de posse de bola do Brasileirão, com 57%.
A diferença está na forma como atuam com a bola também é refletida nos números. O Grêmio adota um estilo de valorizar a posse rodando a bola enquanto o Santos costuma ser mais direto nos seus ataques. Em razão disso, o Tricolor é o segundo time com maior número de passes no Brasileirão (9.476), atrás apenas do Fluminense (9.815). Nesse quesito, o Santos é apenas o oitavo (7.823). Já em relação a finalizações, o Peixe é o segundo que mais chuta a gol na competição (278), perde somente para o Atlético-MG (285). O Grêmio é oitavo nesse fundamento (241). Os dados são do Footstats.
— Renato e Sampaoli são representantes de escolas diferentes, com trabalhos que mostram que é possível ser ofensivo não apenas de vários modos, mas com diversas metodologias — avalia Leonardo Miranda, analista tático e colunista do site globoesporte.com.
Forma de treinamento
Com o mesmo propósito de ter seus times como protagonistas, Renato e Sampaoli têm formas de trabalhar diferentes. O técnico do Grêmio valoriza as atividades individuais nos treinamentos enquanto o argentino é adepto dos treinos que enfatizam a parte coletiva.
— Sampaoli é um treinador metódico e muito adepto do chamado “jogo de posição”, que basicamente é atacar em zonas. Cada jogador tem uma zona e fica nela até receber a bola e tocar para outro companheiro. Esse estilo faz o time ser muito dominante, sempre avançado, e também torna o jogo muito perigoso nos lados. Renato é um treinador mais brasileiro, típico da nossa cultura. A marcação é sempre individual e o time não tem tantas posições. Há sempre uma ideia dos meias jogarem por dentro e os laterais bem abertos. O forte do time do Renato é a iniciativa individual de Alisson, Jean Pyerre e Éverton, que vem jogando cada vez mais centralizado no ataque — ressalta Leonardo Miranda.
Origens diferentes
Semelhantes na maneira ofensiva de pensar futebol, Renato Portaluppi e Jorge Sampaoli têm trajetórias completamente diferentes no esporte. Enquanto Renato foi um dos grandes jogadores da história do futebol brasileiro, Sampaoli sequer conseguiu se tornar atleta de alto nível. Aos 19 anos, ele sofreu uma grave lesão que acabou colocando ponto final no seu sonho de se tornar jogador profissional.
A paixão pelo futebol fez Jorge Sampaoli não desistir de seguir no esporte. O argentino passou a estudar esquemas táticos e se tornou treinador em clubes de divisões regionais do seu país. Ele teve passagens por Peru e Equador antes de ganhar destaque continental trabalhando na Universidad de Chile. Bicampeão chileno, Sampaoli conquistou também a Copa Sul-Americana com a La U, em 2011.
O sucesso na Universidad de Chile fez Jorge Sampaoli chegar à seleção chilena, quando conquistou seu maior título: a Copa América de 2015. Do Chile, Sampaoli seguiu para a Espanha, onde treinou o Sevilla. Após uma primeira temporada em que terminou em quarto lugar no Campeonato Espanhol, deixou o clube para realizar o sonho de comandar a seleção argentina.
Sampaoli assumiu a Argentina quase como unanimidade no país. Suas ideias, porém, não encaixaram na Albiceleste. Com uma série de mudanças e sem encontrar bom rendimento entrou em atrito com os atletas mais experientes da seleção, incluindo a estrela Lionel Messi. Após a eliminação na Copa do Mundo de 2018 para a França nas oitavas de final, Sampaoli foi demitido pela AFA e seguiu sem trabalho até assumir o Santos no começo deste ano.
Títulos de Renato Portaluppi como técnico:
- Copa do Brasil: 2007 e 2016
- Libertadores: 2017
- Recopa: 2018
- Campeonato Gaúcho: 2018 e 2019
- Recopa Gaúcha: 2019
Títulos de Jorge Sampaoli
- Copa Sul-Americana: 2011
- Campeonato Chileno (Clausura): 2011
- Campeonato Chileno (Apertura): 2011 e 2012
- Copa América: 2015
Único confronto
Grêmio 1 x 2 Santos, na Arena, pela 1ª rodada do Brasileirão (28/4/2019)