Veio de um lateral operário e incansável a melhor definição do que significa para o Grêmio o jogo sem TV de na noite desta quinta-feira (4), em Santiago do Chile, contra a Universidad Católica. Disse Leonardo Gomes, um dos nomes certos no time de Renato para a decisão que começa às 19h:
— Não é mata-mata, mas é decisão.
Bingo. Ao contrário do ano passado, quando foi possível atrasar até as oitavas de final a contratação de André, tais as facilidades da primeira fase entre os Monagas da vida, desta vez nem bem chegou março e o Grêmio está no Chile para uma final. Não é exagero. Em último lugar no Grupo H, dois pontos atrás justamente da Católica, segunda colocada, tem de somar pontos com urgência, sob pena de virar realidade o risco de ser eliminado cedo. A tensão, em doses administradas cirurgicamente por Renato, está no ar por entre as 37 comunas que formam a capital chilena.
Começou com o "tesão" de Ijuí. Ali, em um torneio menor em relação ao que representa um tetra de Libertadores, Renato explodiu e exigiu vontade, determinação, aquela pegada sufocante que trouxe o Grêmio de volta ao caminho dos títulos. É só observar ações, frases e até o rachão de quarta, no CT da Universidad de Chile. Todos os movimentos ao pé da Cordilheira dos Andes trabalham por retomar aquela eletricidade.
— Começamos mal. Para nos classificarmos, temos de atuar fora como sempre jogamos na Arena. Perder dificultaria tudo por nos manter na lanterna. Temos de sair para o jogo, não tem jeito — disse Kannemann, em entrevista exclusiva ao jornal El Mercurio, um dos mais relevantes do continente.
— Abandonamos um pouco o nosso estilo nos últimos jogos — reconheceu Everton, referindo-se ao empate em 1 a 1 com o Rosario Central e, especialmente, a derrota na Arena para o Libertad. — Precisamos retomar esse DNA.
E o que seria esse código genético? Nos treinos em Porto Alegre, o Grêmio trabalhou muito o retorno da marcação alta. Perder a bola e perseguir os calcanhares chilenos sem descanso será o princípio. No CT Luiz Carvalho, deu para ouvir Alexandre Mendes cobrar estes movimentos o tempo todo, quase sem silêncios:
— Pressiona, Dedé! Pressiona!
Dedé é o apelido de André. Se o centroavante terá de rinhar os dentes e encurtar espaços, imagine os que estiverem nas linhas atrás dele. André pode até não sair jogando, pois o mistério de escalação segue. Tardelli começa ou entra depois? E na direita: o favorito Alisson, pela disciplina de recompor sem deixar de ser agudo no corredor, apostando na velocidade dele e de Everton? Ou Matheus Henrique, Thaciano, talvez Montoya, opções com outras características?
Não importa quem jogue. Este é o ponto. A ordem é que todos retomem aquela volúpia de tirar os espaços, sem a bola. Até porque o Grêmio sabe que a Católica, ao menos nos minutos iniciais, vai pressionar.
— Todo time faz isso em casa. Eles também tem de ganhar. Temos de estar preparados para marcá-los em todos os setores do campo — completou Everton.
A relevância do jogo é tal que, no rachão de quarta, Renato caprichou nas tiradas, justamente para aliviar um pouco o ambiente. Aquela história do risco de, sob tensão excessiva, travar tudo. Fez piada com Cortez, mandando anotar cada passe certo seu. E assim por diante. Mas, na sequência, mandou todos treinarem finalizações. Jean Pyerre, Matheus Henrique, Luan e Everton também exercitaram cobranças de falta. O Grêmio não entrará para empatar, mas para vencer. Um ponto só será considerado conforme as circunstâncias do jogo. Porque, como bem captou Leonardo Gomes, não é mata-mata — mas é decisão.