A partir desta sexta-feira (9), quem cruzar a Avenida Goethe, próximo ao Parcão, em Porto Alegre, irá deparar com uma estátua do atacante Pedro Rocha, ex-jogador do Grêmio. Esculpida em bronze, com 1m80cm de altura e pesando 150 quilos, a escultura faz referência ao gol marcado pelo atleta na final da Copa do Brasil de 2016. Localizada em frente a um prédio comercial, a obra chama a atenção por duas situações: pelo local onde foi instalada e pelo fato de não ter sido confeccionada pelo clube.
— Não é o Pedro Rocha. É uma obra de arte que está la, que procura demarcar aquele momento do gol contra o Atlético-MG. Lembro do dia que a mãe dele foi ao atelier, olhou a estátua e disse: "Está igual ao meu filho". Ali, nos demos por satisfeitos — declarou o artista Vinícius Vieira, co-autor da obra ao lado do uruguaio Mario Caldeira, que é torcedor gremista. — A gente, que acompanhou o período vitorioso da década de 1990, estava com saudade dos títulos.
Feita a quatro mãos – desde a montagem de uma maquete, passando pela modelagem em barro, gesso e, por fim, fundição em bronze -, a estátua levou seis meses para ficar pronta. Mas é preciso frisar: a ideia de imortalizar Pedro Rocha não partiu do Grêmio, mas de um orgulhoso pai. Natural do Espírito Santo, Jessé Neves não teve dúvidas em fazer as malas e acompanhar o filho que, em 2014, havia sido contratado para integrar as categorias de base do Tricolor gaúcho. Por isso, quando o atacante fez dois gols na vitória de 3 a 1 sobre o Atlético-MG, no Mineirão, ele não titubeou.
— A ideia da estátua nasceu da vontade de eternizar o momento após o gol. Agora, com a sua inauguração, temos a esperança de que esse período vitorioso do Grêmio estimule as novas gerações, servindo de exemplo aos jovens e mostrando a importância da prática esportiva — descreve Jessé.
Porém, enquanto a escultura era confeccionada, surgiu uma nova preocupação: onde ela seria instalada? Chegou a se cogitar a possibilidade de que a Arena servisse de abrigo. Depois, foi sugerido o CT Hélio Dourado, onde os garotos da base treinam em Eldorado do Sul. Porém, o estatuto do clube exige que o tema fosse votado no Conselho Deliberativo. Entretanto, sem o apelo do ídolo (e agora técnico) Renato Portaluppi, que em breve ganhará sua versão no estádio tricolor, o pedido foi negado. Pensou-se então em uma rótula, localizada em uma rua entre a Arena e o condomínio de prédios em que moravam o jogador e sua família.
— Fomos procurados um tempo atrás. Alertamos que, por ser de bronze, a estátua corria risco de vandalização em um espaço público — revela Eduardo Hahn, coordenador da Memória Cultural, setor da prefeitura responsável por avaliar quais esculturas podem ser instaladas em vias públicas.
Foi aí que apareceu uma nova parceria: a administração do Edifício San Sebastian, um prédio comercial com lojas dos mais variados tipos – desde produtos de informática a comércio de itens para costura. O local é próximo de onde um dia foi a Baixada, o primeiro estádio gremista. Ainda assim, mesmo instalada na calçada, a estátua ficará situada em uma área privada, em frente ao condomínio. Ou seja, o projeto não precisou passar pelo crivo da prefeitura.
— Existe uma legislação municipal que incentiva a instalação de esculturas em condomínios, em recuos de jardins. Mas aí a manutenção é de responsabilidade dos condomínios — diz Hahn.
Embora o local tenha ligação histórica com o Grêmio, o prédio fica na avenida Goethe, tradicionalmente usada por torcedores para a comemoração de títulos - inclusive dos rivais colorados. E, mesmo que não esteja sob domínio público, a obra ficará exposta na rua. Por isso, é inevitável imaginar que seja alvo fácil de pichações – para não citar qualquer outro dano à escultura. Caso isso aconteça, a manutenção ficará a cargo da família do atleta, já que o condomínio apenas vai ceder o espaço.
— Não dá para ficar preocupado com o risco de possível vandalismo. É preciso correr esse risco e tornar a escultura visível, atá para que a população se aproprie daquele objeto. Se fosse colocada dentro de um estabelecimento, não cumpriria sua função social — pondera o escultor Vinícius Vieira.
Dentre a gama de futebolistas que já desfilaram pelos gramados do Brasil, poucos tiveram a honra de receber estátuas em sua homenagem. Alguns sequer viram a obra em vida. É o caso de Fernandão, capitão do Inter na conquista Mundial de 2006, que foi imortalizado no pátio do Beira-Rio meses depois de sua trágica morte em 2014. O maior craque da história do futebol, Pelé, deve ter sido o atleta mais esculpido até então - são cinco estátuas no Brasil e uma na Índia -, sendo a mais famosa aquela localizada em uma praça na cidade de Santos.
No Maracanã, duas referências do futebol nacional: em frente ao estádio, o capitão da Seleção Brasileira na Copa de 1958, Bellini; na zona mista de imprensa, o ídolo flamenguista Zico. Também no Rio de Janeiro, outros ícones: em São Januário, Romário; no Engenhão, Nilton Santos, Garrincha e Zagallo. Diante desta lista de peso, parece até blasfêmia citar Pedro Rocha, hoje no Spartak Moscou, da Rússia. Entretanto, a partir desta sexta-feira, o jovem de 24 anos será eternizado em uma calçada porto-alegrense.