O Grêmio chega à decisão mais aguardada da temporada, nesta terça (28), contra o Estudiantes-ARG, na Arena, com muitos ajustes por fazer na equipe. Tarefa que recai nas mãos de Renato Portaluppi, ainda uma unanimidade, mas já vendo contestadas algumas de suas preferências. Algo raro desde a noite de 21 de setembro de 2016, quando abriu sua terceira passagem pelo clube, como técnico, eliminando o Atlético-PR nos pênaltis e avançando às quartas de final da Copa do Brasil. Desde então, foram quatro conquistas em 16 meses, suficientes para fazer dele o treinador mais elogiado do país.
Os problemas do time nas últimas partidas vão além da posição de centroavante, onde André e Jael se revezam. Passam pelas laterais, setor em que Léo Moura, 39 anos, enfrenta dificuldades para manter a mesma intensidade ao longo de 90 minutos, e Bruno Cortez apresenta problemas de acabamento. Também avançam pelo setor de criação, a partir da irregularidade de Luan e a perda de eficiência por parte de Ramiro.
Assim, a 25 dias de completar dois anos na casamata do clube do coração, Renato tem nas mãos a tarefa de montar um time capaz de manter vivo o sonho do tetra da Libertadores. Por ter marcado um gol fora, dia 7 de agosto, em Quilmes, o Grêmio garante vaga nas quartas de final com vitória simples. Se ganhar por 2 a 1, forçará a decisão em cobranças de pênaltis.
Quem está na mira da torcida
Léo Moura - As dores musculares e o cansaço têm sido inimigos implacáveis de Léo Moura nesta temporada. A frequência com que o lateral tem sido substituído nas partidas do Grêmio faz com que a torcida o veja como uma mudança certa no time. Na derrota para o Vasco, ele cedeu vaga para Douglas. Contra o Flamengo, no primeiro jogo das quartas de final da Copa do Brasil, foi substituído por Leonardo Gomes. No jogo de volta, perdeu a vez para Marinho. No empate com o Cruzeiro, Renato o trocou por Alisson para dar maior força ao ataque.
— Léo Moura é Léo Moura — avaliza o técnico, rechaçando a hipótese de que o veterano jogador possa perder de vez a posição para o emergente Leonardo.
Por enquanto, a única certeza é de que, em caso de dificuldades ofensivas hoje à noite, Léo Moura será o primeiro a ser substituído.
Cortez -A cena se repete em quase todas as partidas do Grêmio. Acionado, Bruno Cortez chega com alguma facilidade ao fundo do campo, mas deixa a desejar no cruzamento. Para um time que tem no apoio dos laterais uma de suas principais alternativas de ataque, não deixa de ser preocupante. Em 2018, ele tem três assistências para gol.
Cortez, 31 anos, ainda assim não tem sua titularidade questionada. Em boa parte porque Marcelo Oliveira, seu reserva, sofre forte restrição dos torcedores. Preservado por dores muscular no jogo em Quilmes, ele fala sobre os cuidados que o Grêmio precisará adotar hoje.
— Temos que fazer a leitura correta do jogo. (O Estudiantes) é uma equipe jovem, que apoia bem, mas dá muito espaço. É preciso saber o momento certo de apoiar e defender. O importante é conseguir a classificação — resume.
Ramiro - Sem ser craque, Ramiro virou uma referência no Grêmio de Renato. Fixado no lado direito do ataque desde a chegada do técnico, em setembro de 2016, tornou-se peça decisiva no modelo tático da equipe. Sua queda de rendimento tem relação direta com os problemas enfrentados pelo time nas últimas partidas, avalia o ex-jogador Carlos Miguel.
— Uma das causas da atual dificuldade do Grêmio é a queda acentuada de alguns jogadores. Ramiro é um deles. É um jogador que parece ter perdido a confiança. E ele dava muito equilíbrio ao time. Era o elemento surpresa na área do time adversário — opina.
A temporada se iniciou de forma promissora. Ramiro marcou quatro vezes e rivalizou, por alguns momentos, com os goleadores do time. A fonte, contudo, secou. Assim como as contribuições com assistências. Até agora, são somente duas, ambas no Gauchão. A ponto de Carlos Miguel deduzir que Alisson talvez seja melhor alternativa para começar o jogo contra o Estudiantes.
— Tomara que seja somente uma fase. Jogadores passam por esses momentos. Se continuar, será preciso ver se não é algum problema físico — entende o ex-meia.
Luan - Eleito o melhor jogador da América em 2017, Luan tem sofrido com falta de regularidade neste ano. O mesmo jogador que fez a luxuosa assistência para Everton marcar o gol da vitória contra o Corinthians desperdiçou uma cobrança de pênalti apenas quatro dias depois, frente ao Cruzeiro. O conselheiro Dênis Abrahão, que está entre seus defensores, destaca que ninguém consegue jogar sempre bem.
— Luan está sobrecarregado. Precisa marcar, criar, entrar na área. Não há jogador no mundo que faça isso. Ele precisa flutuar em campo, como sempre fez — entende Dênis, que prevê rigorosa marcação argentina sobre o atacante hoje à noite.
Para boa parcela de torcedores, Luan deveria atuar novamente como falso nove, como em 2016. Renato não emite sinais de que isso vá ocorrer. E expressa sua confiança no jogador, que participou do treino de ontem e garantiu escalação:
— Não vamos esquecer o que ele fez pelo Grêmio. Tem muito crédito comigo, com todos aqui dentro, com a torcida. Não vamos crucificá-lo. Até pouco tempo atrás, foi o melhor da América. Merecia estar na Copa do Mundo.
André - Tudo indicava que Jael começaria a partida contra o Cruzeiro, dia 22. Em crise técnica, André incomodava a torcida, que o apontava como um dos responsáveis pela baixa produção do ataque. Renato, contudo, manteve o ex-centroavante do Sport, embora, ao retirá-lo no intervalo, possa ter dado um sinal de fim de paciência. O mistério, como repete o treinador, irá perdurar até uma hora antes da partida.
Indagado sobre sua preferência, o comentarista Lauro Quadros é taxativo:
— Colocaria Jael sem nenhuma dúvida. A torcida do Grêmio se identifica mais com ele. É corpulento, viril, participativo. A identidade história do clube, principalmente dos torcedores mais velhos, é com centroavantes competitivos, como Juarez, Alcindo.
Os números favorecem a Jael. Quase sempre uma alternativa para o segundo tempo, ele marcou seis gols na temporada, três a mais do que André.