O ano é 1920, e a Seleção Brasileira fez escala em Buenos Aires para um amistoso beneficente contra a Argentina. Eis que o jornal local Crítica publica uma crônica intitulada "Monos em Buenos Aires: um saludo a los 'ilustres huespedes". Acompanha o texto uma caricatura com macacos vestindo o uniforme da equipe brasileira. Este é, talvez, o primeiro incidente racista envolvendo Brasil e Argentina, no universo do futebol e fora dele, mas que se reproduz até os dias de hoje.
Ao longo do tempo, são incontáveis os casos de jogadores e de torcedores brasileiros ofendidos racialmente em competições sul-americanas com conivência quase total da Conmebol.
Através do monitoramento dos casos de racismo realizado pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol a partir de 2014, apenas dois casos foram punidos pela Conmebol – só com multa pecuniária com valores que variam entre US$ 10 mil e US$ 12 mil. Na última segunda-feira, a entidade puniu o Independiente com multa de US$ 15 mil pelo incidente no jogo contra o Flamengo, no ano passado, e ameaçou sancionar o clube com mais rigor se algum novo ato de racismo de seus torcedores fosse flagrado. Pelo que se pode observar no primeiro jogo da final da Recopa Sul-Americana, a ameaça de nada adiantou.
Novamente, torcedores do Independiente foram flagrados imitando macaco em direção aos torcedores do Grêmio. Agora, vamos aguardar se tal ameaça da Conmebol vai se concretizar ou se a entidade vai fechar os olhos para a questão como tem feito ao longo de sua história. A alternativa dos clubes brasileiros seria pedir que a CBF intervenha na questão, mas como esperar algo de uma confederação que pouco trabalha no combate ao racismo?
Do governo, tampouco podemos esperar atitude mais enérgica. Pelo menos, desta vez não vai se repedir a atitude do ex-presidente Epitácio Pessoa, que pediu ao diretores da então CBD que apenas jogadores de pele mais clara e cabelos lisos fossem convocados. Hoje em dia, o futebol e a sociedade não se calariam.
Entretanto, já passou da hora de termos atitudes mais severas atingindo os envolvidos em incidentes racistas. Precisamos evoluir no respeito ao próximo, e o esporte precisa dar o exemplo.