O mistério vai perdurar até uma hora antes do jogo mais importante da história do Grêmio. A menos que Renato as dissipe nesta sexta-feira durante a entrevista oficial e protocolar da Fifa, no Zayed Sports City Stadium, aqui em Abu Dhabi. Como jogará o Grêmio? E com que mudanças, se é que haverá mudanças?
Ocorre que jogadores essenciais do time de Renato, líderes reconhecidos de vestiário, lançaram algumas pílulas de nebulosidade no deserto. Foi durante o penúltimo treino antes da decisão do Mundial de Clubes, neste sábado, contra o Real Madrid, realizado no estádio construído dentro das instalações das Forças Armadas.
Ramiro, com sua cada vez mais apurada facilidade para se expressar com riqueza de vocabulário, produziu a primeira bruma sobre como Renato escalará o Grêmio. Não tratou de nomes, como Jael no lugar de Lucas Barrios ou Everton na vaga de Michel, o time que terminou a prorrogação contra o Pachuca enfiando os mexicanos para dentro da própria área. Não é do seu escopo de atuação. Mas, a certa altura, entre declarações de plástico para não criar cizânia e interpretações erradas em véspera de decisão, Ramiro largou com algum estilo literário ao falar:
- Quem sabe a gente talvez tenha de sair um pouco do nosso estilo de jogo. Talvez. Ou não. Vamos ver _ filosofou Ramiro, com entonação e pausas expressivas que remetem a caminhos de mudança.
Ocorre que, contra o Al Jazira, o time do Real bateu em 70% de posse de bola, para além das 35 finalizações. Não será assim contra o Grêmio, porque o Grêmio não é o Al Jazira. Os europeus respeitam os sul-americanos, sejam eles quais forem. Já levaram laço deles apesar do favoritismo em outras edições. Quase ao fim do seu papo, Ramiro arrematou:
- Podemos mudar o jeito de atuar, mas sem abrir mão da postura vencedora
Em tradução livre, isso significa se defender com muitos atrás da linha da bola, mas sempre preparando a equipe para um contra-ataque demolidor e bicampeão. Neste caso, se trataria mais de necessidade do que vontade. A ausência de Arthur tirou mobilidade do Grêmio na transição. O que prejudicou Luan.
Arthur era o jogador do meio-campo com quem ele mais trocava passes, conforme os dados estatísticos. Maicon, o substituto ideal, não tem condições. E mesmo Michel, que já deu resposta nesse sentido, voltou instável da artroscopia no joelho.
- O Real é naturalmente ofensivo e tem mais posse de bola contra qualquer adversário. A gente, talvez, adote uma postura mais defensiva. Mas é um jogo de futebol, e o futebol permite que o superior nem sempre vença. Vamos estudar o nosso adversário, como eles nos estudarão _ disse Marcelo Grohe. _ Em jogos assim, é preciso que a gente esteja em um dia feliz, com todos dando o máximo. E, do outro lado, nem tanto.
Uma das mudanças cogitadas é Jael no lugar de Lucas Barrios. A presença de Jael com os titulares que correram em volta do gramado, nesta quinta-feira, provocou um diz-que-diz nas instalações das Forças Armadas dos Emirados. Será?
Lucas Barrios ficou na roda de bobinho, com os reservas. Depois, no treino em campo reduzido, Everton arrasou. A bola caía no pé dele e zás: drible e gol. A confiança dele impressiona após o golaço contra o Pachuca, que lhe rendeu um dia de celebridade, com direito a perfil no diário espanhol AS.
Nesse caso, Ramiro seria recuado para ser uma espécie de dublê de Arthur, dando chance a Everton numa extrema e, na sua, duas opções: Fernandinho ou até Leo Moura, para reter a bola.
Se a ideia é formar uma barreira humana na frente de Marcelo Grohe, as chances maiores são para repetir a escalação e mudar apenas a postura. O fato é que o Grêmio busca, sem Arthur, o equilíbrio contra o poderoso Real Madrid, em busca de um sonho que parecia impossível, mas agora está a 90 minutos, talvez um pouco mais, de distância. É como diz Kannemann, de contrato praticamente renovado até 2020:
- Vamos atrás do nosso sonho.