Um estádio moderno, uma fábrica de jogadores para a seleção uruguaia e uma esticada até o distante norte da Venezuela, na quinta cidade mais violenta do mundo em 2016. Esse será o caminho do Grêmio na largada em busca do Tetra da Libertadores. A caminhada começa entre 27 de fevereiro e 1º de março, em Montevidéu, contra o Defensor. Depois, segue com o Monagas vindo à Arena. O turno do Grupo 1 fecha com a ida até a recém inaugurada Nueva Olla para enfrentar o Cerro Porteño, atual campeão paraguaio.
No returno, o Grêmio sairá apenas uma vez, mas precisará atravessar a América do Sul até Maturín, o endereço do Monagas, um emergente venezuelano que saiu da Série B em 2016 e conquistou o título nacional no início de dezembro. Conheça agora um pouco mais sobre as três equipes que irão encarar os gaúchos em 2018.
O alçapão moderno e time rodado
O Grêmio enfrentará mais do que Cerro Porteño em Assunção, na terceira rodada. Precisará encarar a sua fortaleza. O Estádio Nueva Olla foi inaugurado em agosto, no mesmo lugar do antigo, o La Olla, no bairro Obrero, em Assunção. Ali, o Cerro fez novo jogos. Oito pelo Campeonato Paraguaio e um pela Sul-Americana. Ganhou todos pela competição nacional — e empatou o outro duelo. Mais, ali, o "Azulgrana" ganhou seu 32º título paraguaio ao vencer o Sol de América, por 3 a 2. Tudo isso com média de público próxima de 40 mil pessoas.
O Nueva Olla vale um capítulo à parte nesta descrição de quem é este Cerro. O estádio foi construído em dois anos e oito meses e custou US$ 22 milhões (cerca de R$ 69 milhões), o equivalente a 5% do custo do Maracanã. Sua capacidade é para 45 mil pessoas, e o Cerro se orgulha de ser o mais moderno do país.
No campo, o time tem como técnico o colombiano Leonel Álvarez, volante daquela seleção histórica que tinha Higuita, Rincón, Asprilla e Valderrama na Copa de 1994. Álvarez conta com um time rodado, a começar pelo goleiro Anthony Silva, reserva da seleção. O sistema de marcação fica a cargo de três Cáceres: Raúl, lateral-direito, Marcos, zagueiro, e Victor, volante, ex-Flamengo – os dois últimos são irmãos. Álvarez adota o 4-4-2, com duas linhas de quatro e Oviedo e Churín o na frente.
Churín, argentino, 28 anos, foi o goleador do Apertura, com 11 gols e é uma das referências do time, ao lado do meia Colmán, 19 anos. Só que Colmán será vendido ao Orlando City. Para o seu lugar, Álvarez pediu o veterano Macnelly Torres, ex-Nacional-COL e Colo-Colo. O grupo conta ainda com o veterano Haedo Valdez, com trajetória pela Alemanha e pela seleçã paraguaia.
O provável time:
Silva; Raúl Cáceres, Martín Cáceres, Ignácio Palla e Santiago Arzamendia; Rodrigo Rojas, Victor Cáceres, Jorge Rojas e Óscar Ruiz; Oviedo e Churín.
O Monagas espera o Grêmio na quinta cidade mais violenta do mundo
É possível que o Grêmio leve ao Estádio Monumental de Maturín um público digno de jogos de beisebol. E isso, meus caros, significa lotação quase total. O esporte dos bastões e do pitcher é a paixão dos venezuelanos. Mas o futebol, aos poucos, avança. Tanto que desbancou o basquete como segundo esporte no ranking de preferência. Maturín, a casa do Monagas no norte da Venezuela, e uma das cidades mais “futeboleiras” do país, aponta o repórter Óscar Ríos, do Líder, diário esportivo com redação em Caracas e de circulação nacional. Também é a quinta mais violenta do mundo, pelo levantamento de 2016.
— Acredito que, contra o Grêmio, por ser brasileiro e atual campeão da América, o estádio vai lotar. Sua capacidade é para 50 mil pessoas — diz o jornalista.
Ríos é especialista em futebol e acompanhou a saga do Monagas, um clube que até o ano passado estava na Segunda Divisão da Venezuela. Fundado em 1987, o clube alternou quedas e acessos. Em 2013, caiu e só voltou três anos depois. A ascensão se deu graças aos investimentos de um empresário ligado ao governo de Monagas. Suas ações para ajudar o clube, no entanto, não são assumidas publicamente. O fato é que, depois de fazer boa campanha na volta à elite no ano passado, o Monagas venceu o Apertura 2017 e chegou à semifinal do Clausura. Na decisão do título da temporada, entre os dois campeões do ano, venceu o Deportivo Lara, diante de mais de 30 mil pessoas.
O Monagas, confirma Ríos, não está entre os maiores investimentos do futebol venezuelano. Os salários são modestos. O diferencial, aponta, é a identificação dos jogadores, boa parte deles garimpados nos arredores de Maturín. O técnico Jhonny Ferreira fez carreira como auxiliar no Caracas F.C. e comandou o Carabobo, outro dos venezuelanos da Libertadores. Vai para sua terceira temporada no Monagas. Seus times costumam jogar com linha de quatro zagueiros, três jogadores no meio, atacantes abertos nas pontas e um centroavante. A velocidade pelo lado garantiu o título neste ano. A estratégia deve seguir na Libertadores, só que com muito mais cautela.
Para 2018, Ferreira contará com a volta do meia Luis González de empréstimo ao Dallas F.C., da MLS norte-americana. Por outro lado, perdeu seu centroavante, Blondell, goleador e craque do país em 2017, com 24 gols e seis assistências. Blondell jogará a MLS pelo Vancouver Whitecaps. Um zagueiro, um meia e um atacante serão contratados com o dinheiro da transação. O Monagas conta com três estrangeiros, o volante colombiano Palacio e os zagueiros argentinos argentinos Óscar Trejo e Joaquín Lencínas.
Defensor precisa se remontar
O grande desafio do Defensor nesta virada do ano é o mesmo de sempre: se remontar. Todos os anos, o clube organiza boas equipes com jogadores de suas categorias de base. E todos os anos, Peñarol, Nacional e clubes da Europa desembarcaram no Estádio Luiz Franzini para levar as revelações. Não é de graça que "Los Violetas" são conhecidos como um campo fértil para surgimento de jogadores no Uruguai.
A lista de nomes saídos do "semillero" do Defensor é extensa: Martín Silva, Maxi Pereira, Martín Cáceres, Diego Laxalt, Viudez, De Arrascaeta e Diego Rolán, só para citar os jogadores levados em conta por Óscar Tabárez na seleção.
Godín, atual capitão da Celeste, Godín, também passou por lá – e foi um raro caso de talento não aproveitado, já que acabou vendido ainda júnior ao Cerro por 840 pesos (R$ 96,35). Isso mesmo, menos de R$ 100.
O título do Apertura revelou Maxi Gómez. E o que aconteceu com ele? Foi comprado pelo Celta, de Vigo, por 4,3 milhões de euros. O Defensor acaba de fechar uma temporada de luxo. Venceu o Apertura, decidiu o Intermédio (um torneio curto, no meio do ano), peleou com o Peñarol pelo posto de melhor na tabela anual — perdeu nos pênaltis — e pelo título uruguaio — e empate deu o título ao rival.
No segundo semestre, o técnico Eduardo Acevedo buscou novas joias na base e lançou o lateral-esquerdo Ayrton Cougo, 21, e consolidou o atacante Gonzalo Carneiro, 22. Acevedo renovou para a Libertadores, mas corre o risco de perder meio time. Os volantes Mathías Cardacio, 30 anos, ex-Milan, e Matías Cabrera, 31, precisam renovar o contato — e o Nacional já flerta com eles. O zagueiro Lamas é outro com situação pendente. Os europeus já espicham o olho para Cougo.