O inimigo é o Pachuca, e então mãos à obra. Passou a ser este o lema do Grêmio logo depois que os mexicanos venceram os marroquinos do Wydad Casablanca no sábado, em Abu Dhabi, não sem sofrer demais, salvos por um golzinho no fim da prorrogação. Imediatamente, o Centro Digital de Dados (CDD) começou a preparar vídeos e estatísticas para Renato planejar a semifinal de terça-feira (12), em Al Ain. O adversário agora tem nome e sobrenome, e ontem mesmo os jogadores já falavam sobre o obstáculo que há entre o Grêmio e a final do dia 16.
Aos poucos, Renato foi preparando o ambiente, trocando a euforia natural pelo tri da América e algum deslumbramento pela chegada aos Emirados Árabes Unidos pelas asperezas do dia a dia. No primeiro treino, sentou todos no meio-campo e conversou com os 23 que vieram embalar o sonho do bi mundial durante mais de meia hora. No domingo (10), treino fechado, para já começar a ensaiar armadilhas e antídotos. A imprensa foi convidada pela Fifa a sair não só do campo, mas do estádio. Foram todos para a rua.
– Tem a questão da estreia, que pode travar um pouco. À medida que o CDD for nos passando tudo, e com as decisões do Renato, isso vai melhorando – diz Marcelo Grohe, um dos mais procurados para fotos no hotel em Al Ain.
A bola aérea foi um destes exercícios. A observação do jogo de sábado indicou que o Pachuca busca a primeira trave nos escanteios e bola parada, sempre com alguém se deslocando na diagonal. O Grêmio entende que os zagueiros mexicanos são lentos, então o ideal é criar situações para deixar Fernandinho e Luan no mano a mano. Mas há temor diante do ataque considerado rápido do Pachuca, municiado pelo uruguaio Urretaviscaya.
Já se sabe que o lado direito de defesa do Pachuca, com o lateral Martinez e o zagueiro Herrera, é fraco. Entre os jogadores, e até para o presidente Romildo Bolzan, passando pelo auxiliar técnico Alexandre Mendes, que foi ao estádio ver o jogo entre Pachuca e Wydad Casablanca, restou uma impressão básica. O Pachuca não jogará tão mal contra o Grêmio contra os marroquinos, deixando espaços no meio-campo.
E tem o goleiro. Oscar Pérez tem 44 anos e 1m72cm. É baixo para a posição. Edilson, sempre medindo as palavras, pensa em tirar proveito disso.
– Não tanto pela altura, que a experiência dele compensa com o tempo do lance e impulsão. Mas tem a mobilidade. Meu chute tem potência, e ele pode demorar a reagir – admite Edilson, fazendo aquela expressão de quem vai rezar à noite por uma cobrança de falta na entrada da área ou mesmo espaço para o arremate com bola rolando.
Marcelo Grohe também encheu Oscar Perez de elogios. Frisou que é preciso méritos para jogar em alto nível até os 44 anos e sem a altura hoje exigida para a posição. Mas deixou escapar que Renato certamente vai pensar maneiras de o Grêmio se beneficiar do biótipo do goleiro mexicano.
– Com calma, vamos ver como tirar proveito de tudo, inclusive dessa questão do goleiro – resumiu Marcelo Grohe.
O treino durou cerca de uma hora. No hotel, hora de jantar salmão, bife ao molho madeira com carne da Nova Zelândia e Austrália e vários tipos de massa, salada e frutas. Ainda deu tempo de Kannemann conceder uma entrevista para o site da Fifa, dando um pouco de folga a Lucas Barrios. É que o inglês do centroavante é fluente, e o repórter da TV Fifa é britânico. Nada que uma repórter espanhola, esta do site, não resolvesse com Kannemann, para variar um pouco as vozes gremistas para o mundo.
Hoje, Renato e Geromel serão os personagens da entrevista oficial no local do jogo, o Hazza Bin Zayed Stadium. Na sequência, uma breve caminhada no gramado. E de tênis. A Fifa proíbe treino no local da partida. Está chegando a hora da estreia, e o Grêmio já começa a se preparar para ela com nome e sobrenome que monopolizará o dia a dia azul nos Emirados: Pachuca. E com a vantagem da tranquilidade de Renato. Antes de força-lo a falar rapidamente no Sala de Redação, ele disse em um bate-bate papo com jornalistas.
– E aí, Renato: tudo bem? – foi a pergunta, que recebeu uma resposta bem ao estilo do técnico tricampeão da América, mostrando o espírito da delegação em terras árabes, emoldurada por um sorriso confiante.
– Comigo está tudo sempre bem – garantiu o treinador.