Luís Henrique Benfica e Marco Souza
Pela segunda vez, dona Maria Enedina salva Jailson. Na primeira, em 2012, insistiu para que o filho, então com 17 anos, não desistisse de seguir jogando no Guarany de Bagé. Agora, ao trocar a calma de Caçapava do Sul pela Capital, a mãe do volante colocou a vida do garoto nos eixos. E ajuda a fazer dele um potencial titular para as partidas contra o Lanús, na decisão da Libertadores.
Colocar a vida nos eixos significa preparar as refeições de Jailson e lembrá-lo de que um atleta precisa ter um número suficiente de horas para dormir, evitando excessos noturnos. Maria Enedina converteu-se, de forma involuntária, em parceira de Renato Portaluppi na missão de salvar um jogador promissor. Meses atrás, ao perceber a queda de rendimento do volante, o técnico entendeu que precisava agir.
— Jailson estava largado. Mas, dei dois ou três puxões de orelha e ele acordou — contou Renato, quarta-feira, depois da vitória contra o São Paulo.
Ocorrida em janeiro, a venda de Walace ao Hamburgo-ALE fez de Jailson o herdeiro de sua vaga no time, mesmo que Michel já tivesse chegado. Dos 10 primeiros jogos do ano, contudo, apenas em três ele atuou por 90 minutos.
Nos demais, por rendimento fraco, foi substituído por jogadores como Bolaños, Maxi Rodríguez, Lincoln e Fernandinho. Na 13ª partida, dia 25 de março, na goleada de 4 a 0 contra o Juventude, perdeu a vaga de vez. E, talvez, a motivação, o que fez com que descuidasse da forma física.
— Ele é um bom menino. Com tanta concorrência, virou reserva e perdeu um pouco da aplicação. Renato o motivou, dizendo que ele precisaria retomar o bom desempenho do ano passado — explica o diretor de futebol Saul Berdichevski.
Duas novas chances surgiriam no final de abril, contra Guaraní-PAR e Iquique-CHI, pela Libertadores, mas em decorrência de lesão de Michel, naquele momento um titular indiscutível. Depois de escassas participações no Brasileirão, Jailson, obteve, por fim, nova sequência a partir da 27ª rodada do Brasileirão, dia 11 de outubro, contra o Cruzeiro. Com a artroscopia de Michel, formou uma eficiente parceria com Arthur e agora candidata-se a ganhar de vez a posição.
— Tudo indica que a queda de rendimento possa ter a ver com alguns excessos. Mas ninguém se compara a Renato em administrar jogadores. Jailson, agora, mora com a mãe, tem namorada e vai do treino para casa — diz o conselheiro do Grêmio Ben Hur Marchiori, técnico do volante no Guarany de Bagé, em 2013.
— Jailson sabe marcar sem fazer falta. Não toma cartão e não se lesiona. Acho que nem sabe onde é o departamento médico — sorri Marchiori.
A recuperação do condicionamento físico também envolveu um trabalho de reeducação alimentar feito pela nutricionista Katiuce Borges. Os cardápios elaborados por ela são preparados com esmero por dona Maria Edenina.
— Jailson é superdisciplinado. Rapidamente recuperou o peso anterior — conta Katiuce.
Com a titularidade nas últimas semanas, o volante começou a se soltar mais. Amigos próximos passaram a vê-lo cobrando os companheiros e chamando atenção para algumas questões táticas, um comportamento que não era habitual.
Contam, também, que a timidez também é marca registrada. Ainda que surjam relatos sobre notadas, baladas não seriam parte da rotina do jogador, apesar do gosto de reunir amigos e familiares em seu apartamento na Capital para churrascos. Um dos outros hobbies é ir até Eldorado ver os jogos dos ex-companheiros de base. Jailson gosta de passar algumas horas das poucas folgas nas arquibancadas do CT Hélio Dourado.
Ter sido titular em quatro dos últimos cinco jogos do Grêmio pode ser o mais claro indício de que Jailson está um passo à frente de Michel na disputa por ser o parceiro de Arthur. Dona Maria Enedina só aguarda.