Falar no Cruzeiro remete a alguns nomes históricos dos nos 1960 e 1970. Jogadores que superaram os limites das Minas Gerais e se tornaram referências no futebol brasileiro. Essas lendas, na noite desta quarta-feira, estarão diante da TV numa torcida apreensiva pelo clube das cinco estrelas no peito. A apreensão pode ser encarada como respeito ao Grêmio.
ZH ouviu cinco desses nomes históricos do Cruzeiro sobre esta decisão por vaga na Copa do Brasil e perguntou-lhes sobre o que temiam no rival gaúcho. Tostão, o craque da bola e das palavras, apontou a intensa troca de passes como fator de desequilíbrio. Dirceu Lopes, o Príncipe mineiro, indicou Luan como o jogador a ser batido. Darci Menezes, o bajeense gremista que chegou há 50 anos a Belo Horizonte e virou cruzeirense roxo, alertou para a força do conjunto dos gaúchos.
A decisão começa às 21h45min. Está aberta. Mas, se até as lendas das Minas Gerais estão apreensivas, digamos que metade do caminho foi percorrido.
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Dirceu Lopes: "Se estiver inspirado, Luan desequilibra"
Um dos maiores jogadores da história do Cruzeiro, o ex-meia Dirceu Lopes, 71 anos, deixou legião de súditos no Mineirão. Apelidado de "Príncipe", foi decisivo na conquista da Taça Brasil de 1966 sobre o Santos de Pelé. Nesta quarta-feira, assistirá ao jogo com o Grêmio pela TV, no sofá de sua casa em Pedro Leopoldo, a 45 quilômetros de Belo Horizonte.
– O coração não aguenta mais ver jogos no Mineirão – brinca.
Com a autoridade de quem tem trajetória de luxo no Cruzeiro, Dirceu Lopes acredita em reversão da vantagem de 1 a 0 do Grêmio. Confia que seu time possa repetir o desempenho do 3 a 3 com o Palmeiras pelas quartas de final. Mas também entende que o time gaúcho é um dos melhores do Brasil, principalmente pela regularidade. Dirceu teme que Luan possa calar o Mineirão como em 2016.
– O Grêmio tem futebol envolvente e rápido no contra-ataque. E um jogador que é sua grande arma. Se estiver inspirado, Luan desequilibra - alerta o Príncipe.
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Palhinha: "O Grêmio tem um matador, o Cruzeiro não"
Ídolo do Cruzeiro, o ex-atacante Palhinha, 67 anos, foi o artilheiro do time na histórica conquista do título da Libertadores em 1976. Atento ao time de Mano Menezes, revela temor com a sua instabilidade defensiva:
– O Cruzeiro oscilou muito nas últimas partidas. Só o goleiro Fábio me passa confiança, ele é quem mais dá segurança ao time.
Questionado sobre o Grêmio, Palhinha é só elogios. Destaca o futebol consistente e a grande fase de Luan e Pedro Rocha. O ex-atacante entende que a principal diferença entre as equipes está no ataque.
Enquanto o Barrios vive boa fase no Grêmio, o Cruzeiro sofre com a busca por um centroavante. Até porque Sobis está há 12 jogos sem fazer gol e pode até dar espaço ao jovem Raniel, 21 anos, na noite desta quarta-feira.
– O Grêmio tem um matador, o Cruzeiro não. Sobis é bom jogador, mas não tem o poder de definição que se exige de um centroavante – entende Palhinha.
Tostão: "O time do Grêmio é superior ao do Cruzeiro"
Maior artilheiro da história do Cruzeiro com 245 gols em 383 jogos, Tostão, 70 anos, foi um dos grandes craques do clube mineiro e brilhou na Seleção do Tri. Hoje colunista do jornal Folha de S. Paulo, o ex-craque entende que o Grêmio chega com ampla vantagem ao Mineirão. Não só pelo 1 a 0 obtido da Arena, mas também por ter mais qualidade.
– O time do Grêmio é muito bom, superior ao do Cruzeiro. A principal dificuldade é essa. É uma equipe que fica muito com a bola, troca muitos passes – diz Tostão.
Sua principal dúvida é quanto ao comportamento que os mineiros adotarão hoje. Com o apoio de mais de 50 mil torcedores, pode se atirar ao ataque desde o início, marcando o Grêmio lá na frente. Ou ser mais cauteloso, esperando pelo contra-ataque:
– Se o Cruzeiro pressionar, corre o risco do contragolpe com as arrancadas do Pedro Rocha. Se jogar mais recuado e sofrer um gol, terá de fazer três para se classificar.
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Piazza: "O Grêmio é estável em todos os setores"
Volante do Cruzeiro de 1975/1976, batizado pelos mineiros como supertime, Piazza entrou para a história do futebol brasileiro improvisado como zagueiro. Foi recuado por Zagallo para formar a dupla de área com Britto e abrir espaço para Clodoaldo na conquista do Tri, em 1970. Como bom jogador de defesa, Piazza observa a decisão da noite desta quarta-feira, no Mineirão, através dos sistemas de marcação.
– Vejo o Grêmio como uma equipe equilibrada, tem uma postura defensiva muito boa. O time tem estabilidade em todos os setores – aponta Piazza, 72 anos e atual presidente da Federação das Associações de Atletas.
Piazza prevê dificuldades para o Cruzeiro. Cita o DNA copeiro do Grêmio e se recorda do mata-mata pela Taça Brasil de 1966. O Cruzeiro, que acabou campeão, venceu, mas o quinteto Natal, Tostão, Evaldo, Dirceu Lopes e Hilton Oliveira teve de suar para superar Aírton e Ortunho.
Darci Menezes: "A principal arma do Grêmio é o conjunto"
Gaúcho de Bagé, de onde saiu do Guarany aos 18 anos para virar zagueiro titular no Cruzeiro recém campeão da Taça Brasil de 1966, Darci Menezes segue vinculado ao futebol. Aos 67 anos, é o gerente do Democrata, de Governador Valadares (MG), e acompanha atento ao Grêmio, seu time na infância, e ao Cruzeiro, "onde chegou adolescente, foi 11 anos titular e adotou como clube do coração". Para a noite desta quarta, Darci aposta em dureza para os mineiros.
– A principal arma do Grêmio é o conjunto. Com algumas peças se destacando, casos do Pedro Rocha e do Luan. Agora, vai sentir demais a ausência do Geromel. Será um jogão, quem assistir se sentirá privilegiado – diz o bajeense.
Darci fez parte de duas épocas douradas do Cruzeiro nos anos 1960 e 1970. Por 11 anos, formou dupla de zaga com Morais. Pai de cinco filhos e avô de cinco netos, Darci, depois de muitos anos, virá no fim do mês ao Rio Grande, para visitar os irmãos.
*ZHESPORTES