A Federação Gaúcha de Futebol (FGF) trabalha para que os jogos do Campeonato Gaúcho possam ter a presença de público nos estádios. A intenção é conseguir a liberação de uma capacidade reduzida de torcedores nas arquibancadas. Apesar do esforço que vem sendo feito pela entidade nas tratativas com o governo do Estado, especialistas acreditam que o movimento é precipitado.
Mais do que apenas uma ideia da federação, a pauta ganhou espaço na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Nesta semana, o vereador Mauro Pinheiro (PL) protocolou um projeto de lei pedindo a liberação de 25% do público nos estádios de Porto Alegre. A cidade terá a presença de Grêmio, Inter e São José na próxima edição do Estadual.
Presidente da FGF, Luciano Hocsman destaca que os clubes que disputarão o torneio são favoráveis à medida. Ele ressalta que, caso ocorra a liberação, ela seria de acordo com o plano de ação do Estado no combate à pandemia. A última partida com a presença de público no Rio Grande do Sul foi o primeiro Gre-Nal da Libertadores, em 12 de março.
São seis meses em que a bola rola nos gramados com as arquibancadas vazias. Se depender dos infectologistas consultados pela reportagem, o cenário atual do futebol gaúcho não deverá ser modificado a curto prazo.
— O RS está, no momento, em uma situação estável de contaminação e ocupação de leitos. Mas tenho o entendimento de que, se a gente está em uma situação de pandemia e se os indicadores não estiverem adequados, de uma semana para a outra tudo pode ser suspenso. Sinceramente, neste momento, acredito que a gente tenha outras situações que precisamos discutir e que precisam ser priorizadas — ressalta Maria Eugênia Bresolin Pinto, professora de Medicina Comunitária da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
O Gauchão 2021 terá partidas em oito cidades diferentes. Duas delas (Porto Alegre e Erechim) estão sob bandeira vermelha, de acordo com o modelo de distanciamento controlado do Estado. As outras seis (Pelotas, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, São Leopoldo, Ijuí e Novo Hamburgo) estão sob bandeira laranja. Até o momento, o RS tem 551.317 mil casos confirmados e 10.778 mil mortes. A taxa de ocupação de leitos em UTI está em 73,9%.
Apesar de a situação estar estabilizada, a preocupação está no que pode vir mais adiante.
— A história está se repetindo. Lá no começo, o que aconteceu na Europa, chegou em Manaus, depois no Nordeste, depois em Rio e São Paulo e depois no Sul — lembra Gerson Salvador, infectologista da Universidade de São Paulo (USP), prevendo que o ciclo volte a se repetir.
— O que a prudência manda fazer? Indica que devemos manter o controle. Não é hora de eventos e de aglomerações, pois isso tira as pessoas de casa — complementa.
O que foi visto na final da Libertadores entre Palmeiras e Santos, no sábado passado, no Maracanã, é visto como um exemplo a não ser seguido. A Conmebol permitiu a presença de 5 mil torcedores no estádio. Porém, além da preocupação com a presença do público nas arquibancadas, existe o receio em relação a aglomerações do lado de fora.
— O hábito do torcedor não é seguir regras. O exemplo é a final da Libertadores — argumenta Luciano Goldani, professor de infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
— Pode gerar um efeito de contaminação. Estamos com novas variantes. Não é adequado. A final da Libertadores me deixou impressionado. Olha o que gera no entorno (do estádio). Às vezes, como na final da Copa do Brasil (no ano passado), tinha mais gente fora do que dentro do Beira-Rio. Isso facilita a transmissibilidade. É inviável neste momento — enfatiza Goldani.
O Campeonato Gaúcho tem a sua primeira rodada marcada para o fim de semana de 27 de fevereiro, com ou sem a presença de público.
Capacidade dos estádios do Gauchão*:
Arena do Grêmio: 55.662 pessoas (13.915 com 25% da capacidade)
Beira-Rio: 50.128 pessoas (12.532 com 25% da capacidade)
Centenário: 22.132 pessoas (5.533 com 25% da capacidade)
Colosso da Lagoa: 22.000 pessoas (5.500 com 25% da capacidade)
Alfredo Jaconi: 19.924 pessoas (4.981 com 25% da capacidade)
Boca do Lobo: 15.478 pessoas (3.869 com 25% da capacidade)
Montanha dos Vinhedos: 12.859 pessoas (3.214 com 25% da capacidade)
Passo D'Areia: 10.646 pessoas (2.661 com 25% da capacidade)
Cristo Rei: 7.800 pessoas (1.950 com 25% da capacidade)
19 de Outubro: 5.217 pessoas (1.304 com 25% da capacidade)
Estádio do Vale: 5.196 pessoas (1.299 com 25% da capacidade)
Bento Freitas: 5.000 pessoas (1.250 com 25% da capacidade)
*As capacidades são baseadas no Cadastro Nacional de Estádios de Futebol da CBF, publicado em 2016.