Após chegar à semifinal do Gauchão pela primeira vez em sua história, o Avenida se prepara para voos mais altos. O clube de Santa Cruz do Sul aposta em um trabalho de longo prazo, liderado pelo técnico Fabiano Daitx, para tentar surpreender o Grêmio neste domingo (25). O exemplo do Novo Hamburgo, em 2017, mostrou que o sonho é possível.
Mas, se a vaga na final não vier, o Avenida já estará no lucro. O clube pretende utilizar o êxito dentro de campo para reforçar sua estrutura, com a ampliação do Estádio dos Eucaliptos, que hoje tem, oficialmente, 2,5 mil lugares, para 10 mil. Mas, para que isso possa ser atingido, o envolvimento da torcida será fundamental.
Uma prova disso pôde ser vista nesta sexta-feira, com longas filas ao redor do estádio que receberá o jogo com o Grêmio. Dois dias antes da partida, os ingressos já estavam esgotados. O grande momento da equipe também já se traduz no quadro social. O Avenida, que tinha 400 sócios antes da classificação sobre o Caxias, na terça-feira, já ganhou mais 100 novos associados. A meta, segundo o presidente Jair Eich, 51 anos, que está no cargo desde 2005, é atingir ao menos mil para que o clube possa fechar o caixa a todo mês sem sustos. Mas, fora de campo, o clube soube sanear suas contas. Sem dívidas, a saúde financeira do Avenida está em dia. A folha salarial, que chega a R$ 180 mil mensais, neste ano foi bancada com a cota que o clube recebeu pelos direitos de TV do Gauchão.
— Com o momento que vivemos neste ano, podemos atingir esta meta de mil sócios. Nosso projeto é esse. Hoje, temos 700 torcedores em média, por jogo. A partir daí, oscila conforme o resultado, chega a 1,5 mil conforme o desempenho da equipe — explica Eich.
Um dos fatores que hoje impedem a ampliação do quadro social é o fato de o Avenida não disputar competições o ano todo. Segundo o presidente do Conselho Deliberativo, Ivan Textor, 60 anos, a perspectiva de obter uma vaga na Série D pode modificar este quadro.
— Como a gente jogava três meses, não tínhamos o que oferecer ao sócio no segundo semestre. Mas, com esta campanha sem perder nenhum jogo em casa, se criou um apelo popular. Alguns sócios vieram e pagaram a mensalidade de novo pelo time estar bem — conta o dirigente.
A classificação para a Série D é dada como certa nos bastidores do Avenida. No regulamento do Gauchão, está prevista uma vaga para a competição nacional, que seria destinada ao terceiro colocado. A outra é dada ao campeão da Copa FGF. Mas se a FGF seguir como quarta colocada no ranking de federações da CBF ao final do ano, a tendência é de que o Estado receba uma terceira vaga para a Série D, que seria destinada ao quarto colocado do Estadual, posto já garantido pelo Avenida. Caso Grêmio ou Inter obtenham vaga na Libertadores 2019, o clube de Santa Cruz poderá jogar também, pela primeira vez, a Copa do Brasil.
— Esta vaga na Copa do Brasil seria importante para a gente. Pelo o que está pagando de premiação, poderia viabilizar novos projetos — conta Eich.
Se o Avenida está perto de viabilizar sua primeira participação em uma competição nacional, boa parte do sucesso da equipe em campo se deve ao planejamento montado também pelo vice de futebol, Guilherme Eich, filho do presidente, junto ao técnico Fabiano Daitx. Após o rebaixamento para a Divisão de Acesso em 2015, o clube resolveu modificar sua gestão de futebol. Em 2016, Daitx foi contratado para criar as bases do grupo que conquistaria o acesso à elite no ano seguinte. Do time que foi vice-campeão da Segundona em 2017, 11 jogadores foram mantidos e 12 contratados. Com a continuidade e o entrosamento, o grupo conseguiu fazer do Avenida, que era apontado como um dos candidatos ao rebaixamento no início do Gauchão, um dos semifinalistas.
— Enxergamos que, se a gente quisesse ter sucesso e crescimento, teríamos de fazer um projeto a longo prazo. Identificamos no Fabiano um perfil muito bom para isso, ele tem uma visão das coisas parecida com a nossa. A confiança é a base de tudo para dar certo — conta o vice de futebol.
Para Daitx, não só a continuidade do trabalho fez a diferença no sucesso da equipe. O relacionamento no vestiário é parte importante do processo.
— Temos direção, comissão e jogadores em um projeto só. Temos continuidade, base de time. Quem chegou, entrou nisso e somou. Esse é o segredo do Avenida, não foi sorte — diz o técnico.
Depois de bater o Caxias, o time de Santa Cruz sonha com a vaga na final do Gauchão. Ter o poderoso Grêmio tricampeão da América pela frente não faz o Avenida tremer. Pelo contrário.
— O favoritismo e a obrigação são do Grêmio, mas sonhar não custa nada. Se a gente conseguir fazer algo fora do comum e os deuses lá de cima nos ajudarem, podemos fazer por merecer uma vaga na decisão — sorri Guilherme Eich.