– Gremista ou colorado?
– Novo Hamburgo.
Jones Fehse, 15 anos, é o único da sala de aula que responde assim, quando perguntado sobre o time do coração. Sem torcer nem para Grêmio e nem para Inter, o menino é da mais nova geração de uma família 100% anilada.
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A paixão pelo Novo Hamburgo surgiu com o avô Marcos Fehse, que tinha apenas quatro anos quando, levado pelo pai Arno, testemunhou a derrota do time do Vale do Sinos, então chamado Floriano, para o Rolo Compressor, do Inter, na final do Gauchão de 1947. Era o segundo vice-campeonato, de um total de cinco da história do clube.
O pênalti duvidoso marcado em favor dos colorados aos 43 do segundo tempo gerou revolta na torcida local, que invadiu o gramado do Campo do Adams e só deixou Carlitos bater na semana seguinte. Seu Marcos, hoje com 73 anos, ainda não se conforma.
– Escandaloso! Foi dois metros fora da área. Na hora eu disse: "Jamais vou torcer para Inter ou Grêmio". Eles eram beneficiados sempre. Nunca gostei de coisa injusta. Ali nasceu o meu amor pelo Novo Hamburgo – conta.
Vinte e cinco anos depois, Marcos Fehse assumiu a presidência do Novo Hamburgo, levando a equipe ao título de Campeão do Interior, em 1972, em um grupo que tinha, entre os destaques, jogadores como Helenílton e Xameguinha. Nesse tempo, cultivou a paixão pelo clube na família. Dependendo das vitórias da equipe, Marcos aumentava a mesada do filho Bruno.
– Não era mesada, eu ganhava bicho por vitória – corrige, aos risos, Bruno.
Em 1989, Marcos retornou à presidência do Novo Hamburgo e nomeou o filho como vice de futebol. Tinham no elenco o centroavante Gilson Cabeção, que anos depois viria a ser campeão da Copa do Brasil pelo Grêmio.
Após uma série de maus resultados, temendo uma derrota, a dupla convenceu o goleiro Marquinhos Troucourt, futuro preparador do Inter, a entrar em campo no dia seguinte ao casamento.
– Ele era o titular e vinha em um bom momento. Não podíamos perder o jogo. Falamos com ele e o convencemos a jogar no domingo. A única coisa que ele pediu foi para poder dormir com a noiva. Nós o dispensamos da concentração, mas ele jogou – relembra Bruno.
Em 2002, novamente como vice de futebol, Bruno contratou o volante Dinho, ídolo do Grêmio, para a disputa do Gauchão.
– Uma vez estávamos conversando sobre a premiação, e o Dinho, que estava acostumado com os valores de grandes clubes, espantou-se: "Nossa, tanto dinheiro para cada jogador". Na verdade, era o valor que seria dividido entre o grupo todo.
Em 2005, foi a vez de Bruno ser eleito presidente do Novo Hamburgo, seguindo os passos do seu pai. Sob o seu comando, o clube conquistou a Copa RS e a Copa Emídio Perondi. O time tinha como destaque o meia Preto, atual capitão.
– Ao final do ano, recebemos uma proposta do São Caetano pelo Preto. Aliás, aquilo foi o que me salvou – relembra, aos risos.
Hoje, seu Marcos e a mulher Maria Teresa, 72, são os patriarcas de uma família anilada. Com os filhos Bruno, Juliana e Patrícia e os netos Pedro, Jones e Ana Júlia, formam três gerações de torcedores 100% Noia.
Às vésperas da final do Gauchão, a família Fehse vive a expectativa de comemorar o primeiro título e aumentar o número de torcedores 100% Noia.
Já seu Marcos, mais do que isso, quer soltar o grito de campeão que ficou preso em 1947.
– Pode ser que agora a justiça venha.