Até a sexta rodada do Gauchão, a campanha do São José indicava que o clube brigaria até o final para não voltar à Divisão de Acesso – por onde passou pela última vez em 1997. Mas uma campanha de quatro pontos de 18 possíveis sofreu transformação a partir do jogo seguinte, contra o Passo Fundo, no Vermelhão da Serra.
Ao vencer por 2 a 0 longe de casa, o time de China Balbino – que esteve muito perto de ser demitido – recuperou a força de 2016, quando foi campeão do Interior (o Juventude foi vice-campeão). A equipe fechou a campanha em oitavo lugar e agora terá o Novo Hamburgo em uma disputa por um lugar na semifinal do Gauchão.
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Mas a surpreendente classificação, assim descrita até pelo treinador, foi antecedida por variados tipos de percalços. Até de indisciplina, revela China Balbino.
O São José sempre é bem cotado no começo do Gauchão. Mas, pelo começo ruim, a classificação surpreendeu muita gente. Surpreendeu você também?
Com certeza. Sou bem transparente e procuro passar o que a gente vive. Poderia trazer teorias, mas o que aconteceu: criamos expectativa pelo trabalho do ano passado e, pelo que a gente vinha fazendo já há alguns anos, gerou-se uma expectativa grande. Porém, não achamos equilíbrio para as vitórias no começo. Muito se fala que se manteve base (no São José), mas manter base é terminar o ano jogando. Se analisar ano passado, muitos saíram. Fomos campeões da copinha mas com atletas muito jovens. Os outros retornaram. Depois, ao longo da competição, o que faltava era equilíbrio no último terço de campo, faltavam os gols. Se analisar, mesmo na zona de rebaixamento, éramos a defesa menos vazada do campeonato. Mas depois achamos o ponto no momento certo, contra adversários diretos.
A confiança sempre esteve intacta?
Os jogadores chegavam para mim e diziam "vai dar, a gente faz tudo certo. Não é possível que não vai dar". Foi quando, antes do jogo contra o Passo Fundo, isso nos marcou muito, a direção me chamou e conversou comigo. Me deram oportunidade para mais um jogo. Eu sabia que se não ganhasse sairia. Depois da minha reunião, o grupo de atletas falou com a direção e disse que não era o comandante, mas os atletas que não estavam conseguindo reverter a situação. E a gente conseguiu. Ganhamos do Passo Fundo e então já podíamos até pensar na zona de classificação. O mais importante foi os atletas terem convicção no trabalho para evoluirmos dentro da competição.
Então você esteve perto de ser demitido.
Tu imagina o cara investindo há três, quatro anos no clube, e ter o rótulo de segunda divisão com um treinador que tu apostou? Seria frustrante. Então conversaram comigo, falamos sobre reforços, saíram três por indisciplina e as coisas melhoraram.
Indisciplina? Primeira vez que passa por isso como treinador?
Com certeza. Em dois anos, sempre cumpriram horário, aceitaram reserva. Mas desta vez aconteceu com três jogadores. Então eu troquei ideia com o Cléber Xavier (auxiliar de Tite na Seleção), que foi meu treinador na base do Inter. Eu nunca tinha passado por isso. Aí estava lendo o livro do Tite e me deparei com situações que a gente também vive no nosso dia a dia aqui. Ele me falou que essa é a hora de agregar, trazer valores, acreditar no trabalho e de tomar decisões para que o grupo possa ter crescimento.
Teve outro problema ao longo do campeonato?
Bem no meio da competição, minha mãe entra em coma. E para conciliar isso? Minha mãe não queria ir no hospital. Levamos domingo, duas da manhã, após o jogo contra o Ypiranga. Isso me marcou muito. Aí tivemos um mês tratando dela, o pessoal me ligando e não podendo atender. E tu pensas que parou? Quando ganhamos do São Paulo, meu pai tem um AVC. Depois do jogo, todo mundo feliz e três da manhã tentei ligar e ele não queria ir para o médico. Hoje os dois estão se recuperando. Por isso digo para minha filha: tem que honrar nossos pais em vida, mesmo com seus defeitos, porque não é fácil vê-los no hospital.
Mas o fato é que eles superaram e o seu São José também. Agora, sua equipe pega o Novo Hamburgo, a melhor da competição até aqui.
O líder de ponta a ponta. Mas futebol é bom por isso, estamos preparados. Eles são favoritos pelo grande trabalho que fizeram, que não foi surpresa. Quando fazem isso no Interior, não é surpresa, porque estão se qualificando com profissionais de qualidade. A boa campanha não é surpresa porque estamos em evolução no futebol gaúcho. Temos que louvar isso e analisar. Mas estamos em oitavo e, agora, zera tudo. Vamos estudar mais o adversário nos dias restantes e tentar fazer bons jogos, porque o que faz a diferença é o dia do jogador, sua inspiração e concentração.
*ZHESPORTES