Quando o Juventude perdeu Brenner, seu goleador no Gauchão, por lesão e, logo em seguida, negociado ao Inter, houve quem imaginasse que a campanha no Estadual estivesse definitivamente comprometida. Engano. Brenner foi liberado porque um reforço recém-chegado da África tinha a total confiança do técnico Antônio Carlos: Roberson.
Aos 27 anos, o atacante surgido na base do Grêmio estava de volta ao Alfredo Jaconi, após uma temporada no ostracismo no Mouloudia Club, da capital Argel, time da primeira divisão da Argélia. Roberson estreou no Gauchão somente em 30 de março. Em cinco jogos, marcou cinco gols – o que ainda permite lutar pela artilharia do campeonato, uma vez que o goleador ainda é Heliardo, do São José, com oito. Nas semifinais contra o seu ex-clube, marcou gols em Caxias do Sul e na Arena, tornando-se um dos principais carrascos da equipe de Roger Machado no Estadual.
– Fui para a Argélia no ano passado, mas tive problemas de documentação e falta de sequência com o treinador argelino Lotfi Amrouche, que preferia contar com jogadores locais. Queria jogar, mas as coisas não se encaixaram. Como ainda tenho contrato com o Juventude até o final de 2016, decidi voltar. Fiz a coisa certa – conta Roberson.
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O camisa 9 do Juventude surgiu na temporada 2009 do Grêmio. Já sem chances de título no Brasileirão, o Grêmio chegou à última rodada em meio aos times que disputavam o campeonato. Precisava ir ao Maracanã, enfrentar o Flamengo. Uma vitória ou empate gremista no Rio, aliada à uma vitória do Inter sobre o Santo André, no Beira-Rio, daria o tetracampeonato ao rival.
A torcida tricolor exigia uma derrota. Afinal, ninguém queria ver os colorados festejando na Avenida Goethe. Com boa parte dos titulares poupados, o Grêmio mandou uma gurizada a campo: Grohe, Mário Fernandes, Douglas Costa, Maylson, Adilson, Thiego e... Roberson. O Inter encerrou o primeiro tempo goleando o Santo André por 4 a 1. No Rio, o Grêmio fez um, gol de Roberson – David Braz empatou em seguida, mas, no intervalo, o Inter ainda era campeão.
– Os titulares não foram, o treinador já era o Marcelo Rospide. Éramos quase todos muito jovens. Todos querendo dar o melhor, em um clássico visto pelo Brasil inteiro. Não jogamos para entregar, o Flamengo virou porque era superior – recorda Roberson. – No intervalo, ninguém da direção foi ao vestiário, não houve pressão interna pela derrota. Mas, quando voltamos a Porto Alegre, houve tumulto no aeroporto, com a torcida nos xingando. A polícia precisou agir. Fiquei marcado no Grêmio por aquele gol. Não sei se isso me tirou as chances no clube, mas fiquei marcado, sim – lamenta Roberson, que tem no ex-companheiro de Grêmio, Jonas, a referência de atacante.
No ano seguinte, Roberson foi emprestado ao Juventude. Não participou do último título do Grêmio, o Gauchão de 2010, porque já atuava no Jaconi. Até 2014, quando o seu contrato com o Grêmio chegou ao fim, o atacante havia sido emprestado ao Sport, ao Avaí, outra vez para o Juventude e ao Náutico.
– Assinei de vez com o Juventude em 2014, depois de jogar o Pernambucano com o Náutico. Precisava de um cara como o Antônio Carlos, um treinador que me deu sequência e forças para voltar a jogar bem – diz Roberson, ao comentar a boa fase. – Quando o momento é bom, você chuta de qualquer maneira e a bola entra. Como foi na Arena. Quando a bola bateu no Bressan, pensei que iria para fora – acrescenta o atacante, lembrando do gol que deu a vaga às finais para o Juventude, enganando Grohe.
Roberson garante que sempre confiou na vaga à final. Mesmo quando a pressão do Grêmio se tornou quase insustentável na Arena, havia a segurança da vitória por 2 a 0, no jogo de ida. O Inter, aposta o atacante, viajará a Caxias do Sul com maior cautela para o começo das finais, neste domingo.
– O Grêmio deveria ter se preparado melhor. Nós estávamos voando. O Inter já virá com outra postura. Por isso, não sofrer gols no Jaconi é quase tão importante como marcá-los. Nosso sonho é conquistar o Gauchão, e queremos ter o regulamento a nosso favor no Beira-Rio – deseja Roberson.
* ZH ESPORTES