Ambos dispensam apresentações, ainda mais em fim de semana de Gre-Nal. Essa semana, o ex-volante Tinga, 38 anos, revelou o projeto de presidir o Inter. Deputado federal pelo PSD, o ex-goleiro Danrlei, 42, sonha o mesmo sonho no Grêmio. Paixão? Gratidão? Tudo junto? Por que eles querem o posto máximo de Inter e de Grêmio? Por que almejam a presidência de seus times do coração, se poderiam viver de glórias e taças sem correr os riscos da crítica? Eles respondem.
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O projeto de presidir o Inter é para valer?
Sim. Sei que é assustador falar em planos para 10 anos no Brasil, mas acredito que neste período muitos conceitos mudarão no futebol rumo ao profissionalismo, inclusive os estatutos dos clubes. Vou me preparar. Fiz cursos de gestão, administração. Estudei inglês e alemão. Até oratória e teologia eu cursei. Se realizei o sonho de ser jogador e chegar onde cheguei, partindo de onde parti, presidir o Inter é até mais simples.
Você pretende começar com um cargo no Beira-Rio?
A ideia é um dia trabalhar no meu clube do coração, mas não estou me oferecendo. Já recusei ofertas de clubes grandes desde que me aposentei. Não estou trabalhando nessa área porque não quero. Meu amigos dizem: "pega, aceita, o cavalo não passa encilhado duas vezes!". Sei a hora de entrar e sair. Foi assim na minha carreira. O cavalo passa encilhado de novo, sim, e até mais bonito e arrumado - desde que você se prepare.
Mas e o Inter?
Não me interessa aceitar pela vaidade. Respeito demais o meu clube para aceitar um emprego de qualquer maneira. Aprendi muito com Piffero, Carvalho, Luigi. Se acontecer, terá de ser por mérito em uma nova função. O Inter não me deve nada. Eu é que sou devedor de um clube que nunca faltou comigo.
Qual seria o diferencial de um presidente ex-jogador?
Tenho um amigo presidente de uma fábrica de calçados que passou por todas as áreas. Bateu prego em sola do sapato. Minha universidade é o vestiário, o campo. Alguém pode ter agenda de contatos igual a minha. Maior, duvido. Hoje (sexta-feira) conversei com o Argel, pela manhã. Falcão, à tarde. Roger, à noite. Não passei pelo futebol: me envolvi com as pessoas. Por isso me atendem. Na Europa, você vê ex-jogadores na gerência. Makelele, no PSG. Matthias Sammer, no Bayern. Só ser ex-jogador não basta, claro. Jogar e gerir são coisas bem diferentes. Mas quem procura conhecimento acha. Sonho é para ser sonhado. E não custa nada.
E o lado político deste processo de pleitear a presidência?
Isso me preocupa. Vejo clubes partidarizados em movimentos internos. Respeito a todos, mas a divisão passou dos limites. Mandela reconstruiu a África do Sul pós-Apharteid perdoando seus algozes brancos, sem exclusões. Unido, o Inter ganhou tudo. Fomos campeões. O Inter é um só.
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O seu plano de presidir o Grêmio é antigo. Está de pé?
Totalmente de pé. Sei que administrar é completamente diferente de jogar. No vestiário, nas questões referentes ao futebol, sobre essas eu fecho o olho e sei exatamente o que fazer. Mas gerir um clube é mais complexo e totalmente diferente. Estou me aprimorando para quando este dia chegar. Eu teria de trabalhar mais o dia-a-dia com o sócio, com os conselheiros. Nesse momento da minha vida, como parlamentar, é mais difícil.
O mandato parlamentar é uma primeira etapa?
De certa forma, sim. Tento ser um canal gremista no Congresso para temas como o Profut, a Lei de Incentivo ao Esporte. Você aprende a reunir, dialogar, harmonizar opostos, encontrar soluções. O contato com o presidente Romildo é constante e aberto, também para ajudar a resolver o entorno da Arena, dentro das minhas possibilidades.
Você não quer o cargo só pelo nome e popularidade, é isso?
Exato. Não quero cair de paraquedas numa função tão essencial. Quando for o momento, se eu for útil para o clube e estiver preparado, vai acontecer. É preciso, antes, respeitar cada vírgula do estatuto do Grêmio e suas regras eleitorais.
Qual o diferencial de um ex-jogador presidente?
A razão do Grêmio é o futebol. Aliás, a razão e coração. O futebol é o sentido único de um clube de expressão mundial como o Grêmio. Ele existe para isso, em resumo. Eu nasci no Grêmio. Morei sete anos no Olímpico. Passei 16 anos de minha vida no meu clube do coração. Venci. É como aquele presidente que sobe todos os degraus da sua empresa, e por isso a conhece e a sente por dentro como ninguém. Acho que este poderia ser o meu diferencial. Claro que eu dependeria de uma equipe de trabalho para dar certo. Ninguém faz nada sozinho.
Você determinou um prazo para alcançar a presidência?
Não tenho pressa para realizar esse sonho de vida. O importante é que eu vivo o Grêmio intensamente, todos os dias, mesmo quando estou em Brasília. Foi, é e será sempre assim.
*ZHESPORTES