Fluente em francês por ter jogado dois anos no Tours, time da segundona do país de
Zidane e próximo de Paris, Júlio Santos aceitou a proposta do Mazembe. Cumpriu quatro meses do contrato de um ano e voltou cheio de histórias para contar neste terceiro capítulo da série Andarilhos do Gauchão.
Júlio Santos foi zagueiro de Kidiaba na África
Um zagueiro trazido do Mazembe herdará o legado dos irmãos Pontes, famosos nos anos 70 por arrepiar atacantes que passavam por Passo Fundo. Júlio Santos, 31 anos, desembarcou no Vermelhão da Serra depois de passar pelo time de Kidiaba, o goleiro que entrou pela porta dos fundos na história do Inter.
A aventura africana de Júlio Santos durou quatro meses. Foi de janeiro a maio do ano passado. Chegou à República Democrática do Congo pelas mãos de um empresário francês. O Mazembe procurava um zagueiro, e como Júlio Santos falava francês fluente, por ter atuado dois anos no Tours, o negócio prosperou.
- A proposta era boa, mas aceitei mais pelo desafio, pela experiência de morar na
África. Além disso, o Mazembe sempre tem chances de jogar o Mundial, é uma potência do continente - explica.
Mesmo disposto a vivenciar a experiência africana, Júlio Santos confessa que o início foi assustador. Principalmente pela quantidade de pessoas em situação de miséria nas ruas. Lubumbashi, a cidade do Mazembe, é a capital de um estado rico pela extração de minério. Mas o dinheiro está nas mãos de poucos. E a taxa de desemprego é alta.
- Cresci em Osasco, vi muita coisa na periferia de São Paulo e nestas andanças pelo mundo. Mas nada se compara ao Congo - diz.
O futebol, por ser barato, é a principal atração local. Era comum 3 mil, 4 mil pessoas assistirem aos treinos. Tratados como ídolos e milionários, os jogadores só conseguiam sair do estádio com seguranças, que os protegiam do assédio de um corredor humano.
A vitória sobre o Inter e a campanha do vice mundial de 2010 são os orgulhos do Mazembe. Pelo menos uma vez por semana, um auxiliar do técnico Lamine NDiaye usava a camiseta do Inter para trabalhar. Na sala de troféus do clube, há lugar de destaque para a camisa e a flâmula do clube gaúcho.
Metade daquele time usado no Mundial ainda permanecia no Mazembe. O meia Kaluyituka, autor do segundo gol, segue como estrela. Mas ninguém bate em idolatria ao goleiro Kidiaba, 36 anos. Formado no São Paulo, onde cresceu com Julio Baptista, Marco Antônio e Kleber, Júlio Santos compara Kidiaba a Rogério Ceni. Trata-se de uma legenda do clube. Ao contrário do que se imagina, Kidiaba é um sujeito quieto. A dancinha quicando a bunda no gramado foi um espasmo de descontração. No dia a dia,
é compenetrado, o primeiro a chegar e o último a sair do vestiário. Deve seguir carreira no clube depois de deixar o futebol. O que parece promissor.
O projeto de Moses Katumbi, presidente e governador da província, é de transformar o
time em uma potência mundial. Em 2012, ele inaugurou o estádio que bancou sozinho. Seu avião leva o time por toda a parte. Uma academia moderna, no quintal de sua mansão, está à disposição dos jogadores.
Júlio Santos voltou ao Brasil sem queixas. Recebeu salários razoáveis e em dia. Depois da aventura africana, ele prepara a estreia no Gauchão. Sincero, diz que desconhecia Passo Fundo até chegar e se encantar pela cidade.
- Tenho contrato até maio, é mais uma experiência na minha vida - diz o amigo de Kidiaba.
Passo Fundo
Posição em 2012: Promovido da Segundona
Técnico: Ricardo Attolini
Quem chegou: William (G, Pelotas), Bruno Grassi (G, Araripina-PE), Jéferson
(LD, Ypiranga), Xaro (LE, Rio Branco-AC), Mathias Madruga (LD, Rentistas/Uru), Lucas Mineiro (LE, Juventude), Júlio Santos (Z, Mazembe), Mateus (V, Lajeadense), Janderson (V, Chapecoense/SC), Claiton (V, Pelotas), Henrique (M, Volta Redonda/RJ), Chiquinho (M, Riograndense-SM), Leonardo (M, XV de Piracicada/SP), João Paulo (A,
Guaratinguetá-SP) e Éber (A, Chapecoense).
Time-base: Bruno Grassi, Jeferson, Júlio Santos, Glauber e Xaro; Janderson, Gil, Diego Miranda e Claiton; João Paulo e Guto.