Às 6h50min de quarta-feira, 29 de fevereiro, Osvaldo Voges, presidente do SER Caxias e do grupo empresarial que leva seu sobrenome, foi acordado por um telefonema de seu guia espiritual, frei Jaime Bettega. - Sabe qual é o santo de hoje? - indagou o religioso. - É Santo Osvaldo.
Bispo de origem dinamarquesa da Inglaterra, Santo Osvaldo era conhecido pelo dinamismo e pela generosidade, explica Frei Jaime.
- O perfil do santo coincide muito com o do Voges - testemunha o frei.
Ovídio Deitos, ex-presidente do conselho do clube que convocou a hoje famosa "reunião do Bela Vista" - referência a um hotel tradicional de Ana Rech, bairro de Caxias - vai além:
- O Voges fez um verdadeiro milagre no Caxias.
Mais cedo do que o habitual, o contato entre o frei e o empresário foi o começo de um dia tenso, que levou à vitória no primeiro turno do Campeonato Gaúcho um time que, havia cinco anos, estava quase sumido sob dívidas de R$ 25 milhões. Este ano, depois de anos de gestão empresarial, o clube tem a ambição de pagar todas as despesas com a receita de R$ 8 milhões. Pelos cálculos de Deitos, Voges já teria aplicado ao menos R$ 30 milhões de recursos próprios no clube.
- Caso o clube evolua para se tornar uma SA, como defendo, ele deveria ser o controlador - insiste Deitos.
Há cinco anos, o empresário assinou um contrato por 15 anos assumindo a cogestão do clube identificado com as camadas populares da torcida caxiense. Era o início de uma história de exceção no futebol gaúcho e de um novo capítulo do universo empresarial.
- Quando me procuraram para salvar o Caxias, achei que era uma oportunidade de dar visibilidade à marca Voges, que tentava substituir a tradicional Eberle na cidade. Era mais negócio do que paixão - assume Voges.
Com exceção de poucos cargos ligados ao dia a dia do clube, toda a direção do Caxias é formado por empresários como André Vecchi, diretor da Selltis, empresa que vende máquinas. Na descrição de Vecchi, o milagre foi um bem-sucedido plano de administração, que passou por saneamento financeiro, reorganização interna, reestruturação das categorias de base e do futebol e retomada do investimento.
- Ele começou com olhar de homem de negócios, mas hoje virou torcedor fanático - observa Vecchi.
Filho de um caminhoneiro e uma dona de casa, o menino Osvaldo torcia mesmo para o Inter. Foi office boy e só conseguiu se formar em Administração de Empresas porque passou na UFRGS - o curso seria gratuito. Ainda na faculdade, recebeu o convite de uma empresa de São Paulo, a Metalcorte, para representá-la em Caxias. Vendia aço para as grandes indústrias metalmecânicas da cidade, como Marcopolo e Randon. Em seguida, comprou a antiga fundição Eberle e, pouco depois, a fábrica de motores da tradicional marca de Caxias.
- Ele é atrevido, um empreendedor nato. Busca oportunidades que outros encaram com medo - diz Carlos Heinen, presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços da cidade.
Modesto, o empresário e dirigente que completará 43 anos em março, pai de Júlia, seis anos, e hoje casado com a caxiense Viviane, afirma:
- Eu também erro muito. A diferença é que acerto mais do que erro, o que é importante é o saldo.