É possível que Maiquel Vargas tenha realizado, aos 28 anos, o sonho de todo guri que gosta de jogar bola. Ele fez um gol de voleio sensacional, em um ginásio lotado de torcedores a seu favor, em sua cidade natal, faltando um segundo para o fim de um jogo decisivo.
Se fosse cinema, a plateia reclamaria de falta de verossimilhança. Mas é tudo verdade: Cascão, como é chamado nas quadras, fez o gol do Campo Bom contra o Penharol Arvorezinha pelas quartas de final da Série Bronze nos instantes finais do confronto.
Graças àquele voleio, a partida foi para a prorrogação e seu time subiu para a Série Prata. Vivendo um "dia de artista", já que tinha "mais duas entrevistas agendadas", o autor da pintura conversou com Zero Hora.
O que lembra do lance?
Faltava pouco tempo e estava 2 a 2. Eu já tinha feito o primeiro gol, eles viraram e o empate era deles. Estávamos com o goleiro-linha, a bola foi para a esquerda e o Mateus Sander dá de primeira para cima.
Era exatamente onde você estava.
Sim, ela veio no jeito para dar o voleio. E eu dei. Pufff. Lá na asa a bola.
Vocês tinham ensaiado essa jogada ou foi no desespero?
No desespero. Na verdade, acho que não era desespero. Foi Deus. Assim, ficava sempre na área e eles me olhavam, estavam tentando me achar. Antes de a bola chegar, já sabia que ia dar o voleio.
Duvido que tenha sensação melhor do que essa em um jogo.
Não tem sensação melhor. O ginásio veio abaixo. E assim, era todo mundo a nosso favor. Então imagina a energia aquela hora.
Como têm sido os dias depois daquele gol?
Nem sou muito de Instagram, essas coisas. Não posto quase nada. Sou de ganhar títulos, não sou de redes sociais. Mas quando vi, tinha mais de 500 novos seguidores. Tem mais repórteres procurando, outras duas entrevistas agendadas para hoje (terça) ainda. Estou virado em um artista (risos)
O que ainda aspira no esporte?
Treino, jogo em tudo que é lugar.
Mas trabalha com isso?
Não, tenho outra profissão.
O que faz?
Sou vendedor.
Vende o quê?
Vendo serviços de internet. Provedor.
Joga amador então?
Isso, tipo assim, acerto um valor, sou contratado para jogar em times amadores aqui na volta.
Chegou a ser profissional?
Só no campo. Joguei no Guarany de Bagé e no 15 de Novembro (de Campo Bom).
E ainda sonha em ser profissional?
Claro. Queria me dedicar só a isso. Espero oportunidade. Tomara que esse gol ajude a abrir portas. Imagina se algum time da Série Ouro vê.
Última pergunta: por que esse apelido Cascão?
Ele vem do meu vô. Ele jogava bola e não tinha chuteira, então ficava de pés descalços e eles estavam sempre embarrados. Chamavam de Cascão. Daí meu pai, que também jogou, ficou sendo Cascão. E eu era o Cascãozinho, mas cresci e fiquei Cascão.
Tem filho?
Sim, tem a minha esposa, a Neimara, e o meu filho Gael, de quatro anos.
Então ele vai ser o Cascãozinho.
Tomara, né? (risos)