Três décadas atrás ressurgia para a glória um dos times que dorme na memória e nos sonhos dos apaixonados pelo futsal. Em 19 de dezembro 1993, a Associação Atlética Enxuta, de Caxias do Sul, conquistava a Série Ouro com uma vitória por 5 a 3 diante da SER Itaqui, fora de casa. Era o primeiro título do tricampeonato fechado com as taças de 1994 e 1995.
Não foi a única sequência de três estaduais da Enxuta. Em 1986, 1987 e 1988, a equipe da Serra também dominou o Estado. No entanto, nos anos seguintes, o time enfrentou uma redução orçamentária, que se agravou em 1991 e 1992 e fez com que o elenco fosse composto majoritariamente por jovens.
O terceiro ano da década de 1990 representou uma retomada. O time ainda não estava recheado de estrelas, como aconteceu meses depois, mas se destacou pelo coletivo. O brilho individual ficava por conta de Jorginho, recém eleito melhor jogador do mundo pela Fifa. Lesionado, o pivô ficou de fora das finais, mas não deixou de viajar a Itaqui para apoiar os companheiros.
— Foi um título muito difícil. Esse título para a Enxuta, para Caxias do Sul e para o Jorginho 13 foi inesquecível. A equipe da Enxuta treinava de cinco a seis horas por dia. Eu tenho uma gratidão enorme à Enxuta e a Caxias, onde eu sou ídolo até hoje. Tenho um filho caxiense. A Enxuta deu condições de um menino pobre, das quebradas do Rio de Janeiro como eu, chegar onde eu cheguei — comenta o ex-jogador, conhecido como Jorginho "13", por conta da numeração que utilizava no uniforme.
O esquadrão histórico da Enxuta foi comandando pelo treinador Jarico. O atual coordenador do Sercesa, de Carazinho, dava os primeiros passos na carreira como técnico. Considerado jovem demais para assumir a Enxuta, Jarico foi emprestado pela equipe de Caxias para a Sercesa, como uma espécie de "período de amadurecimento".
Tínhamos um time valente, com um coletivo muito forte, e muitos jovens oriundos da base, mesclados com jogadores de fora
JAIME LUIZ WALKER
Presidente da Enxuta na época
O treinador retornou à Enxuta em 1993 em meio à temporada para substituir Rudy Vieira. A missão era recuperar a campanha dentro da Série Ouro. No caminho, estavam equipes poderosas e com jogadores de seleção, como a Lagoense, a SER Itaqui, a Perdigão, de Marau, e a Uruguaianense, como recorda o técnico.
— Para mim não foi tão difícil porque eu amadureci como técnico. Eu já tinha trabalhado como auxiliar técnico na Enxuta. Então, eu conhecia aquele time. O Barata (treinador) e o próprio Rudy tinham deixado trabalhos bons, mas, talvez, não tenha encaixado — lembra Jarico, que, ao final do ano, deixou a Enxuta para retornar a Carazinho.
Da Serra para o Brasil
O nome "Enxuta" se deve à patrocinadora master do time, uma empresa de eletrodomésticos sediada em Caxias do Sul. Com o passar dos anos, o time também recebeu outros investimentos. Na conquista da Série Ouro de 1993, a Fibrocimento Zatilit se somou à Enxuta.
O presidente da época, Jaime Walker, afirma que a equipe tinha o apoio da comunidade caxiense. Para a final contra a SER Itaqui, segundo ele, foram 17 ônibus com torcedores de Caxias do Sul para uma viagem de aproximadamente 700 quilômetros.
— Tínhamos um time valente, com um coletivo muito forte, e muitos jovens oriundos da base, mesclados com jogadores de fora. Foi um envolvimento muito grande da comunidade, que se converteu até em patrocínios — explica Weiler.
Ao todo, a Enxuta conquistou seis campeonatos estaduais e três Taças Brasil, a mais importante competição nacional da época. A partir de 1994, chegaram ao elenco nomes que fizeram do time uma atração no país inteiro, como o fixo Manoel Tobias e o ala Fininho, ambos com passagem pela seleção brasileira, assim como Jorginho.
— Fazíamos excursões pelo Norte e o Nordeste com jogos para 12, 13 mil pessoas — conta Weiler.
O então diretor da empresa Enxuta, Paulo Triches, avalia o patrocínio como muito proveitoso para a marca, que se tornou mais conhecida em determinados locais do Brasil pelo futsal do que pelos produtos vendidos.
— No Norte e no Nordeste do Brasil, as pessoas se surpreendiam quando chegavam os produtos da Enxuta porque pensavam que era só futsal. Tivemos bom aproveitamento. O futsal não tem um custo exorbitante, como no futebol. O time teve um crescimento muito rápido e alcançou certa supremacia — acrescenta Triches.
A patrocínio da Enxuta para o time de futsal acabou em 1996 por "motivos financeiros", diz o empresário. O crescimento da equipe elevou os custos, o que contribuiu para a decisão de acabar com o time. A empresa encerrou as atividades por volta dos anos 2000.
— Foi uma decisão dolorosa — recorda.
Comemoração
A retomada dos títulos nos anos 1990 será motivo de comemoração no próximo sábado (16). Ex-atletas e integrantes da diretoria irão se reunir no Ginásio Enxutão, antiga casa do time, em Caxias do Sul, para uma homenagem e um jogo comemorativo. As festividades devem iniciar às 17h.
No Norte e no Nordeste do Brasil, as pessoas se surpreendiam quando chegavam os produtos da Enxuta porque pensavam que era só futsal
PAULO TRICHES
ex-diretor da empresa Enxuta
A festa terá a recepção aos convidados e seguirá com as exposições dos troféus da Enxuta e, às 17h45min, haverá uma partida amistosa contra o Combinado Sadia/Santa Cruz, de Concórdia, Santa Catarina. O ingresso é um quilo de alimento não perecível.
De acordo com um dos organizadores e ex-supervisor da Enxuta, Ercilio Covolan, já confirmaram presença nomes como Jorginho, Tchelo, Serginho, Augusto, Manta, Bella, Glauco, Edesio e Léo.