A camiseta amarela da Seleção Brasileira é mais do que um simples uniforme esportivo. Ela é um símbolo de paixão, orgulho e tradição dentro do cenário esportivo. Ao ter sido usada por alguns dos maiores jogadores de todos os tempos, tornou-se representação da habilidade, criatividade e estilo de jogo único do futebol brasileiro. Com ela, a Seleção sagrou-se cinco vezes campeã mundial, além de testemunhar outros momentos inesquecíveis e conquistas gloriosas. Nesta quarta-feira (28), a camisa canarinho completa 70 anos.
Em 16 de junho de 1950, o Cine Rio Branco (na cidade uruguaia de mesmo nome, que faz fronteira com Jaguarão) interrompeu o filme que exibia para o anúncio de que o Uruguai havia superado o Brasil e conquistado a Copa do Mundo. Lá estava Aldyr Garcia Schlee, então com 16 anos e já um curioso da arte de desenhar. A derrota no Maracanazo foi um marco na história do futebol brasileiro e gerou, entre outras coisas, o questionamento de que se usar um uniforme branco seria o mais adequado.
Eis que então, três anos depois, o jornal Correio da Manhã abriu um concurso para o novo uniforme da Seleção. Aldyr Schlee, natural da cidade fronteiriça com o Uruguai e que nesta altura já morava em Pelotas, compartilhava a paixão de desenhista com o futebol. Ele resolveu participar e superou outros 300 concorrentes.
— Eu me transformei em desenhista copiando as figuras que via no Él Gráfico (revista argentina) e Mundo Deportivo (jornal do Uruguai), que reproduziam os gols com os bonecos dos jogadores. Quando eu estava no estádio, fazia um esboço e depois tentava dinamizar, com traços mostrando os movimentos — explicou Schlee no documentário Gaúchos Canarinhos, da série Curtas Gaúchos, da RBS TV, exibido em 2007.
Desenho artístico
Até chegar no desenho definitivo a ser enviado, Schlee testou as mais variadas combinações das cores amarelo, verde, azul e branco. Quando concluiu que não havia mais alternativas, definiu por uma camiseta “amarelo ouro” com detalhes “verde bandeira”, calção “azul cobalto” e as meias brancas. O diferencial, segundo o pesquisador José Francisco Alves, foi o tom artístico do desenho: um jogador vestindo o uniforme completo, com o Maracanã ao fundo.
— Como ele era artista, mandou um desenho artístico. Esse era o diferencial. Uma obra de arte muito viva. Provavelmente havia outras camisas amarelas, combinações parecidas. Mas com este contexto só o dele. E venceu até um sobrinho do presidente da CBD, que organizava o concurso — afirmou José Francisco Alves, que é Doutor em História da Arte.
Estreia
O novo uniforme foi apresentado em 20 de janeiro de 1954, em uma grande festa no Maracanã. Porém, a estreia em uma partida ocorreu um mês depois, em 28 de fevereiro, quando o Brasil venceu o Chile por 2 a 0, em Santiago, na primeira partida das Eliminatórias para a Copa do Mundo. Baltazar, jogador do Corinthians e conhecido como “cabecinha de ouro”, marcou o primeiro gol da amarelinha. E o “amarelo ouro”, semelhante às cores de um canário, ajudou a Seleção a ser apelidada de Canarinho.
De amarelo, a primeira conquista da Seleção Brasileira foram os jogos Pan-Americanos de 1956, no México. Dois anos depois veio a primeira Copa do Mundo. E com o passar do tempo, mais quatro. Lendas como Pelé, Garrincha, Tostão, Jairzinho, Rivellino, Zico, Romário, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho são sempre lembradas vestindo a canarinho.
Aldyr Garcia Schlee, que se tornou um famoso escritor, morreu em novembro de 2018, justamente no dia em que se enfrentariam Brasil e Uruguai, a seleção por qual torcia, em um amistoso. Antes da partida, o Emirates Stadium, em Londres, parou para homenagear Schlee. Um dos filhos do escritor, Aldyr Rosenthal Schlee ainda conserva os desenhos originais.