Se um dos novatos em Copas do Mundo do elenco da França quiser saber qual o melhor modo de levantar o troféu em caso de vitória sobre a Argentina, no domingo (18), Didier Deschamps pode passar um tutorial completo. Suas digitais estão nas taças mais cobiçadas do futebol.
Nos tempos de jogador, o técnico francês foi a personificação de que não é necessário ser um craque para incrustar seu nome entre os virtuosos do planeta bola. Ele foi um soldadinho em campo, um volante operário que fazia o trabalho de força para os artesãos brilharem. Assim conquistou duas Champions League — a com o Olympique Marseille o transformou no capitão mais jovem a erguer a orelhuda —, cinco campeonatos nacionais, um título do mundial interclubes, entre muitos outros.
Seu posicionamento sempre foi preciso. Sempre esteve no lugar certo na hora certa, seja na hora de recuperar uma rara bola perdida por Zidane ou na hora de vencer a Copa. Ele era o camisa 7 daquele time que derrotou o Brasil por 3 a 0. A braçadeira de capitão pertencia ao braço de Blanc. Na semifinal, o zagueiro recebeu o segundo amarelo e cumpriu suspensão na final. Coube ao predestinado Deschamps segurar a Copa do Mundo com as duas mãos.
No baú da memória do futebol estão os gols de Fontaine, a classe de Platini, a cerebralidade de Zidane, o oportunismo de Henry e, agora, o pacote de qualidades apresentado por Mbappé, mas a cara da vitória do futebol francês atende pelo nome de Didier Claude Deschamps, responsável por também levantar o troféu da Eurocopa em 2000 e técnico no título do Mundial de 2018.
Caso a final em Lusail tenha o mesmo desfecho de quatro anos atrás, o menino que iniciou a vida esportiva jogando rugby se igualará a Pelé como tricampeão, ficando atrás só das quatro conquistas de Zagallo, seu companheiro no trio de nomes que foram campeões como técnico e jogador — o terceiro integrante é o alemão Beckenbauer. Também igualará o italiano Vittorio Pozzo com dois títulos seguidos.
— Odeio perder. Não consigo perder jogo e sorrir. Sempre me incomodou ter companheiros que não tinham a mesma reação do que eu. Constantemente me fecho após uma derrota — explicou sobre sua mentalidade após o título de 2018.
A vida como treinador espelha a da época em que calçava chuteiras. Deschamps está longe do brilhantismo das estrelas como Guardiola, Mourinho, Jürgen Klopp, mas segue um vencedor. Chegou aos Bleus após o sucesso em Juventus, Monaco e Olympique Marseille. Na Juve e no Olympique também grafou seu nome como atleta.
São 10 anos à frente da França. A campanha no Catar passa pela superação de desfalques. Só para citar os mais cotados, o treinador não conta com Kanté, Pogba, e Benzema. Mas sempre foi assim. Em 2014, não teve Ribéry. Em 2018, Benzema era baixa por questões extracampo.
O que comprova que Deschamps não foi feito para brilhar. Foi feito para vencer.