Com uma classificação quase na mão, a Seleção deixa o momento de glória escapar, a partida vai para os pênaltis e o Brasil volta para casa depois das quartas de final de uma Copa do Mundo. A história que se desenrolou nesta sexta-feira (9) no Catar não foi uma repetição idêntica do que ocorreu no México em 1986, mas os dois casos rimam.
Naquele ano, o país também vinha embalado de uma goleada de tirar o fôlego nas oitavas. Não contra a Coreia do Sul, por 4 a 1, mas contra a Polônia, por 4 a 0, com gols de Sócrates, Josimar, Edinho e Careca. E vinham ainda mais animados que a equipe de Tite, graças a uma fase de grupos com três vitórias e nenhum gol sofrido — a única defesa invicta da fase de grupos do torneio.
Não importou. Disputando as quartas de final com a França, o Brasil até abriu o placar com Careca, mas minutos antes do primeiro tempo acabar, sofreu o primeiro gol na competição, vindo dos pés do ídolo francês Platini. A volta do intervalo viu um jogo disputado e Telê Santana resolveu que era hora de tentar resolver as coisas com um ídolo do Brasil: Zico.
Recuperando-se de uma lesão, ele foi ao México longe de seu auge, como eventualmente ficou claro dentro de campo, após Branco ser derrubado na área francesa e conquistar um pênalti para o Brasil. Ninguém teve dúvidas de que era Zico quem deveria bater a penalidade, comemorada antes mesmo do chute do camisa 10 como o gol da classificação brasileira. Só esqueceram de combinar com Joel Bats, que defendeu o chute, fazendo a semifinal parecer cada vez mais longe.
O jogo seguiu disputado e nada foi decidido no tempo regulamentar, que terminou no 1 a 1, ou na prorrogação, que ficou no 0 a 0. Quando os pênaltis chegaram, contudo, a fortuna voltou a sorrir para Bats e os Bleus, com outro craque brasileiro parando no goleiro francês: Sócrates, o primeiro a bater, tal como Rodrygo nesta tarde.
Nenhum francês errou sua cobrança até justamente Platini bater e isolar, igualando o placar na disputa. O Brasil ganhou uma segunda chance, mas não era para ser: Júlio César, considerado um dos melhores jogadores da Seleção naquela Copa, parou na trave, tal como a de Marquinhos contra a Croácia.
Uma terceira chance não veio em 1986, com Luis Fernández finalizando o placar em 4 a 3 para a França e mandando os brasileiros de volta para casa. Os franceses seriam eliminados na rodada seguinte, pela Alemanha Ocidental, e acabariam em terceiro lugar, após vencerem os belgas. Já a taça ficaria para a Argentina, de Maradona, que conquistou no México seu bicampeonato Mundial.
Até hoje, esta havia sido a única disputa de pênaltis a eliminar o Brasil de uma Copa do Mundo e somente oito anos depois dela é que veio o Tetra, em 1994, decidido justamente nas penalidades máximas.