Motorista acostumado a dirigir em Porto Alegre, Olavo Aparecido da Silva Cardoso, 49 anos, ainda não viu ruas decoradas para a Copa do Mundo, como acontecia antigamente. Mas não deixou de enfeitar a sua: com ajuda da esposa e cunhada, pendurou fitinhas verde e amarelo no alto da Baltimore, na Restinga Velha, extremo-sul da Capital.
— Pessoal está meio desanimado, sem espírito. Não sei se é por causa da falta de dinheiro, se estão economizando, ou se não tem patriotismo mais. É que nem Natal: antigamente se via luzinhas, enfeites. Agora a Copa e o Natal estão como a Igreja Católica: pessoal vai perdendo a fé, os mais velhos estão indo embora e os novos não acompanham mais — reflete.
Vizinho de frente de Olavo, o ferreiro Assis Costa dos Santos, 49 anos, estima que a Baltimore seja a única rua em toda a Restinga Velha que ganhou as cores da Seleção Brasileira. Acha que esse desânimo das pessoas tem a ver com o estilo de vida atual.
— É muita correria. A gente sai de casa de dia e só volta de noite. Pessoal não dá mais bola para esses assuntos — diz o vizinho, que logo considera: — Mas achei bonito. As crianças passam pela rua e gostam.
Tradição
Foi no Mundial de 2018 que a rua Baltimore foi decorada pela primeira vez. Naquele ano, Olavo e a companheira, Marinês da Caz, foram guiados pelo cunhado Ivanir Toniolo, um grande fã da Copa do Mundo. Era Ivanir quem se empolgava e saía embelezando a rua. Também pintou de verde a casa que dividia com a esposa Marisete da Cas ali na Baltimore, esquina com a Belize. Mas acabou perdendo a vida para a covid-19 em abril de 2021, aos 52 anos.
— Meu marido gostava de decorar as coisas. Era um cara muito para cima. Essa decoração também é para homenageá-lo — diz Marisete, 54 anos, que toca a transportadora em que o cunhado Olavo é funcionário.
Donos de um mercadinho na garagem da casa de Marisete e também moradores da Baltimore, Rodrigo Leistner, 47 anos, e Adriele Flores, 34, acreditam que a baixa adesão à Copa é resultado de uma série de fatores que atravessam o Brasil.
— A questão política interferiu. Tem gente que não quer usar verde e amarelo para não ser confundido. Mas também tem a ver com esses dois anos sofridos que a gente viveu de pandemia — pondera ele.
Com as fitinhas balançando ao vento no alto da Baltimore, o casal criou motivação: prometem que nos próximos dias vão enfeitar as dependências do mercadinho com bandeirinhas e até passar a atender à clientela vestindo camisas da Seleção.
— Hoje já acordei pensando no jogo do Brasil (contra a Sérvia). Isso só acontece durante a Copa do Mundo — celebra Adriele.