A CBF quer manter Tite no cargo, mas a permanência do treinador para o ciclo da Copa do Mundo de 2022 ainda é incerto. Caso decida deixar a função, o técnico manteria uma tendência brasileira nas últimas décadas: trocar o comando da Seleção logo após o Mundial — foi assim após os títulos de 1994 e 2002, com Carlos Alberto Parreira e Luiz Felipe Scolari; e também depois das eliminações de 1998, 2006, 2010 e 2014, com Zagallo, Parreira, Dunga e Felipão, respectivamente.
Nas últimas decisões em busca de um treinador, a CBF não manteve um padrão. Quando escolheu Dunga, em 2006, optou por um símbolo da Seleção, mesmo que ele não tivesse qualquer experiência como treinador. No seu retorno, em 2014, acumulava também um trabalho pelo Inter, mas estava sem clube.
Em 2010, quem assumiu foi Mano Menezes, em evidência devido a um bom trabalho no Corinthians — embora a primeira opção da CBF fosse Muricy Ramalho, que comandava um projeto de destaque no Fluminense. Quando Mano foi demitido em 2012, a opção foi outra vez por um nome expressivo no contexto da Seleção, ainda que estivesse sem clube: Felipão, pentacampeão em 2002, mas que fracassou em 2014.
Para o novo ciclo, o nome favorito depende do perfil que a CBF buscaria. Mano Menezes surge por já ter experiência na Seleção e ter acumulado bons trabalhos no futebol nacional. Renato Portaluppi vive o melhor momento da carreira e acumulou títulos no Grêmio nos últimos anos. Se procurar um treinador com o perfil semelhante ao de Tite em termos táticos, Roger Machado, do Palmeiras, é uma alternativa. Há outros nomes que estão sem clube, como Abel Braga e Cuca, além da sempre contestada opção estrangeira. O espanhol Pep Guardiola, que nunca comandou uma seleção nacional, é o nome que gera mais impacto.
— Considerando que a cúpula da CBF descarta um técnico estrangeiro, com razões totalmente questionáveis, só vejo três nomes possíveis neste momento. Em ordem: Renato, Abel e Cuca. Renato e a equipe que trabalha com ele evoluíram muito e estão fazendo um trabalho muito bom no Grêmio, dando volume de jogo e tirando o máximo de cada jogador, algo que o Brasil tem tido problema durante as Copas — analisa Vitor Sérgio Rodrigues, comentarista do Esporte Interativo.
O próprio Renato admite o desejo de comandar a Seleção Brasileira. Contudo, defende a permanência de Tite.
— Tenho o sonho de treinar a Seleção, sei que minha hora vai chegar. Mas no Brasil, quando não tem o resultado esperado, o treinador não presta. Não tinha tanto orgulho em ver a Seleção há muito tempo, reaprendemos a gostar de ver o Brasil jogar. Gostaria que o Tite continuasse — assegurou o treinador gremista, logo depois do amistoso com o Corinthians no domingo.
A alternativa de buscar um técnico de um país rival é quase nula. Lucho Silveira, especialista em futebol argentino, não vê treinadores do país vizinho com o perfil para treinar o Brasil, ainda que a escola argentina tenha sido presença frequente em outras seleções.
— Simeone é a cara da Argentina, Sampaoli se queimou, Bielsa é louco como diz o próprio apelido e Pochettino vive um ótimo momento na Inglaterra. Gallardo e Schelloto não têm esse tamanho ainda. Talvez o único estrangeiro que poderia ser alternativa é o Guardiola. Não creio no Mourinho — pondera.
Na avaliação de Gustavo Hofman, comentarista da ESPN, a CBF teria que convencer Guardiola a deixar o futebol inglês caso Tite optasse por deixar a Seleção:
— Não vejo alguém com esse perfil no futebol brasileiro. Tite é o melhor treinador brasileiro. Se ele não quiser seguir no cargo, que a Seleção busque o melhor do mundo: Pep Guardiola. O que, sabemos, seria praticamente impossível pelo contrato dele com o Manchester City.
Segundo Vitor Sérgio, a experiência de Abel no futebol internacional e o sucesso de Cuca no Brasil também são credenciais para assumir a Seleção.
— Abel faz times bem equilibrados e tem experiência internacional, inclusive na Europa. E Cuca vem lastrado por títulos importantes nos últimos cinco anos, embora alguns aspectos presentes em seus times sejam bem questionáveis no primeiro nível do futebol internacional, como colocar seu time perseguindo individualmente o adversário — observa.
Para o colunista de GaúchaZH Luiz Zini Pires, a prioridade da CBF deve ser montar uma hierarquia eficiente acima da comissão técnica.
— Antes de escolher o novo treinador, a CBF precisa criar uma estrutura de futebol. Contratar um executivo de futebol, responsável pela área e acima do técnico. Sem Tite, referência nacional, não existe um número 2. Com Felipão ou Dunga no comando, Tite era opção fácil. Há os novatos, Roger, Carille, Jair Ventura, ou o mais experientes, Abel, Dorival Júnior, Renato. Fico com Roger, um jovem com ótimas ideias, alguma experiência e respeito no mercado — destaca.
Já Cléber Grabauska vê em Renato as características necessárias para conduzir com sucesso a Seleção.
— Eu não gostaria que o Tite saísse. Apesar da eliminação na Copa, considero que o Tite fez um bom trabalho. Se quisermos continuar apostando no perfil montado pelo ele, considero que Cléber Xavier, seu auxiliar técnico, poderia ser uma boa aposta. Mas pesa contra ele a falta de experiência. Meu preferido é Renato Portaluppi. Além dos títulos que vem conquistando com o Grêmio, vive seu grande momento. Mostra uma evolução consistente sob os aspectos táticos, técnicos e de comando de grupo — ressalta.
As alternativas para a CBF
Experiência na Seleção Brasileira — Mano Menezes
Dentre os treinadores que já comandaram a Seleção Brasileira, Mano Menezes é o único que tem chances reais de retornar ao cargo. A primeira passagem pela Seleção não foi das melhores, apesar dos títulos no Superclássico das Américas em 2011 e 2012. Depois de trabalhos contestados em Flamengo e Corinthians, voltou a ganhar destaque no Cruzeiro com o título da Copa do Brasil ano passado.
Destaques no futebol nacional — Renato Portaluppi
Renato tem sido o treinador mais vitorioso dos últimos anos no Brasil. Ganhou a Copa do Brasil, Libertadores e Recopa Sul-Americana com o Grêmio. Além disso, tem sido reconhecido pelo padrão de jogo gremista e pela capacidade de gestão do grupo. Já referiu o sonho de comandar a Seleção.
Prioridade tática — Roger Machado
Desde que comandou o Grêmio, Roger ficou conhecido pelos treinos intensos e pela capacidade de organização tática dos seus times. As contestações ao seu trabalho residem na falta de resultados. Até hoje, seu único título como treinador foi o Campeonato Mineiro de 2017 pelo Atlético.
Manutenção da forma de trabalhar — Fábio Carille
Quando Tite deixou o Corinthians para assumir a Seleção Brasileira em 2016, seu auxiliar foi promovido a técnico efetivo no clube paulista. Por vezes contestado, Fábio Carille manteve o estilo de trabalho do antecessor e teve resultados incontestáveis. Foi campeão brasileiro no ano passado e conquistou dois títulos paulistas antes de pedir demissão para trabalhar no Al Wehda, da Arábia Saudita. A Seleção poderia seguir o caminho do Corinthians na sucessão de Tite.
Opção estrangeira — Pep Guardiola
Para o lugar de Tite, amplamente considerado o melhor técnico brasileiro, nada mais justo do que buscar quem é amplamente considerado o melhor do mundo. O espanhol Pep Guardiola teve passagens vitoriosas por Barcelona e Bayern de Munique. No Manchester City, provou que não ganhava apenas pelo domínio natural dos clubes em que passou antes. Na Seleção, precisaria se adaptar a um novo formato, sem contato diário com os jogadores.
Opções de fora do mercado — Abel Braga e Cuca
Caso precise buscar alguém sem contrato, a CBF tem em Abel Braga e Cuca as principais alternativas. Abel está sem clube desde que pediu demissão do Fluminense, enquanto Cuca não trabalha desde que saiu de uma segunda passagem fracassada pelo Palmeiras.