Ter anulado Messi na primeira rodada da Copa do Mundo 2018 não é o único fato curioso na vida do lateral-direito da Islândia, Birkir Saevarsson. Além do futebol, o jogador trabalha como operário em uma fábrica de sal, na capital islandesa Reykjavík. Fã da Seleção Brasileira, o atleta viajou para França quando ainda era garoto para torcer pelo penta do Brasil, na Copa de 1998. Hoje, aos 33 anos, luta pelo sonho viking na Rússia.
Todas essas confidências foram feitas pela mãe do atleta, a gerente de escritório Helga Birkisdottir, 53 anos, que viajou quase 5 mil quilômetros para acompanhar o filho no Mundial e conversou por cerca de 20 minutos com a reportagem de GaúchaZH na Praça Vermelha, na região central de Moscou.
— O meu filho começou a jogar futebol com seis anos. Hoje ele atua no Valur (time da Islândia), mas trabalha também em uma fábrica de sal. Ele trabalha das 9h às 16h e depois treina das 17h até às 19h — conta Helga.
Como o esporte na Islândia é predominantemente amador, é comum os jogadores terem outras atividades além da bola. O goleiro Hannes Halldorsson, por exemplo, trabalha como cineasta e produz filmes comerciais. Já o técnico Heimir Hallgrímsson é dentista. Para atuar de forma profissional, é necessário sair do país.
— O Birkir jogou dez anos profissionalmente na Noruega e na Suécia, mas ano passado voltou para a Islândia, e aí ele precisa trabalhar. Então, ele trabalha na indústria de sal. Ainda bem que a fábrica de sal o liberou para jogar a Copa — brinca a mãe do atleta.
O futebol faz parte da vida da família Saeversson desde a Copa de 1994, quando Birkir se tornou fã da Seleção Brasileira durante a conquista do tetracampeonato, nos Estados Unidos. A vontade era tanta de ver o Brasil jogar que, quatro anos depois, a família viajou para ver de perto a Seleção de Ronaldo e Rivaldo.
— Nós sempre torcemos pelo Brasil. Eu e o meu filho inclusive fomos para a França na Copa de 1998 para ver um jogo da Seleção Brasileira. Mas, infelizmente, a Seleção perdeu para a Noruega — relembra Helga, mostrando para a reportagem duas fotos do então garoto Birkir, de apenas 13 anos, fardado com a camisa brasileira no Estádio Vélodrome, em Marselha, onde o time de Zagallo perdeu por 2 a 1 na primeira fase daquele Mundial.
Depois de se emocionar com o Brasil, chegou a hora de se emocionar com a Islândia. Helga estava no Estádio Spartak, no último dia 16 de junho, quando os islandeses empataram em 1 a 1 com a poderosa seleção da Argentina. No jogo, Saevarsson marcou simplesmente Lionel Messi e conseguiu anular o craque do Barcelona em campo.
— Foi incrível. Foi emocionante para mim. O Messi não conseguiu fazer o que todos esperavam. O meu filho fez um bom trabalho na lateral-direita. É muito estranho lembrar disso. Eu nem sei o que dizer. É a vida. São sonhos que viram realidade. Falei com ele após o jogo. Ele estava muito feliz. Não conseguia dormir. Eu também não. Fui dormir acho que só depois das 3h da manhã — se emociona.
A ficha está caindo aos poucos para Helga.
— É algo incrível. Meu filho é um jogador internacional, que joga em um clube pequeno da Islândia e, ao mesmo tempo, joga uma Copa do Mundo — exclama.
O próximo objetivo de Helga (e de todo o povo islandês) é a classificação para as oitavas de final da Copa do Mundo, algo que seria inédito para a pequena Islândia, que recém faz a sua estreia em Mundiais. Mesmo assim, a mãe de Saevarsson acredita na conquista da vaga e garante que este também é o pensamento do filho.
— É claro que sim. Nós islandeses somos pessoas que trabalhamos duro. Por sermos pequenos, somos todos ligados uns aos outros, somos como uma família. Cada um apoia o outro. É algo mágico — finaliza.
O próximo jogo da Islândia ocorre nesta sexta, 22 de junho, contra a Nigéria. Na arquibancada da Arena Volgogrado, Helga estará mais uma vez torcendo pelo filho. E representando os demais 330 mil islandeses que, assim como ela e Saevarsson, querem fazer o sonho viking virar real.