Faltam duas semanas para a bola rolar na Rússia, e o tal "clima da Copa" ainda não entrou em campo no Brasil. Cadê os comerciais trombeteando "rumo ao hexa"? Cadê aquela música que vira chiclete no ouvido e embala a torcida? Cadê aquelas intermináveis polêmicas sobre a convocação final para a Copa? Nem isso tivemos, muito menos o tradicional jogo de despedida, que sela o compromisso dos torcedores com o time e renova a esperança de sucesso. Nada disso está presente no atual estágio de preparação do nosso selecionado para o Mundial de futebol.
A relação com a torcida ficou distante, quase protocolar - e a cobertura jornalística reflete isso -, apesar de Tite ter recuperado, com a campanha das Eliminatórias, parte da credibilidade e da confiança na Seleção. Valores perdidos em 2014, especialmente depois daquele trágico 7 a 1 para a Alemanha, que tentamos esquecer, mas que continua engasgado. Claro que o desencanto que levou à apatia tem a ver também com a revelação de todas as bandalheiras envolvendo as obras para a Copa e mais o envolvimento da cartolagem da CBF em grossa corrupção. A paralisação dos caminhoneiros e seus efeitos no cotidiano do país é um componente pontual a influenciar nesse processo, ao exigir o foco das atenções da população em geral.
Recente levantamento do Instituto Paraná Pesquisas indica que 77,7% dos entrevistados se dizem mais interessados no noticiário sobre a Lava-Jato do que no torneio mundial. Entretanto, estou convencido de que esses posicionamentos vão se inverter assim que a bola rolar na Copa e o Brasil fizer o primeiro gol. A possibilidade de a Seleção, uma das favoritas, chegar ao título vai atrair, mais e mais, o brasileiro para celebrar as vitórias. E certamente até as alas mais à esquerda, que, por questões ideológicas rejeitam tudo o que seja verde e amarelo, acabarão por se irmanar às correntes ufanistas.
De minha parte, vou encarar esta Copa com o mesmo espírito daquela primeira que ouvi pelo velho rádio valvulado, com a narração compassada de Mendes Ribeiro na magia do som vindo, sabe-se lá como, diretamente da longínqua Suécia. Era o primeiro título do Brasil, e o menino de oito anos se encheu de orgulho e felicidade com a conquista. Quero me orgulhar e ser feliz de novo com a nossa Seleção. Vai Brasil, rumo ao hexa!