Seis décadas depois de ter criado a nova camisa da Seleção Brasileira, nas cores verde e amarela, o gaúcho Aldyr Schlee, 79 anos, rejeita ver o que fizeram com sua sua obra. Indignado com a CBF, que ele vê submissa ao patrocinador, chama o atual modelo de "pijaminha".
— A fornecedora trai um permanente favorito ao título. Olhem a dignidade da camisa da Inglaterra e da Holanda? A nossa é ridícula — sentencia.
O modelo que até hoje é usado pelos jogadores começou a ser criado em julho de 1953. O desafio era incluir na camiseta o amarelo, o verde, o azul e o branco. Schlee admite que os primeiros rascunhos "eram absurdos". Com o ímpeto dos jovens, o artista ousava até com listras verticais e horizontais.
Sua única dúvida era sobre qual cor deveria predominar. Se optasse pelo verde, os detalhes amarelos mal seriam vistos. Escolheu, então, o amarelo, com detalhes verdes, deixando o azul para o calção e o branco para as meias.
O curioso é que, enquanto criava, Schlee ainda não havia se inscrito para o concurso promovido pelo jornal carioca Correio da Manhã para substituir a camisa de então, de cor branca, tida como azarada pela derrota na Copa de 1950.
Os rascunhos permaneceram guardados em Pelotas por conta de uma viagem a São Paulo e Rio. Quando retornou, no final de agosto, a nova camisa já estava formatada na cabeça.
— Fiz mais de cem esboços em 10 dias, até que a família aprovou — conta.
A quatro dias do encerramento das inscrições, um primo enviou o desenho à redação do Correio da Manhã, que divulgou o resultado em 15 de dezembro.
— Fui na agência da Varig em Pelotas buscar os jornais do dia. Entre eles, o Correio da Manhã. Na terceira página, lá estava o meu desenho, com a manchete: este será a nova camisa do Brasil. Fiquei louco — conta.
Como prêmio, além de um estágio de seis meses no jornal promotor do concurso, Schlee ganhou uma cadeira cativa no Maracanã e um valor equivalente hoje a R$ 20 mil. Ele só lamenta não ter pedido à então Confederação Brasileira de Desportos (CBD) nenhuma camisa de recordação. Na época, não se vendiam camisetas avulsas. A não ser que alguém se dispusesse a comprar um terno completo.
A estreia da nova camisa ocorreu em fevereiro de 1954, em jogo contra o Chile, eliminatório para a Copa. Como, naquele tempo, Schlee ainda se envolvia com a Seleção, não houve como segurar a emoção.
— A emoção foi brutal, fiquei sem conseguir falar — conta.
Torcedor "doente" do Brasil-Pel, o artista recusou-se, muito tempo depois, a criar um novo modelo de camisa para o clube do coração. Mesmo que isso garantisse ao clube uma elevada soma oferecida por empresários.
— Vocês estão loucos? Mudar a camisa do Brasil? Não faço isso de jeito nenhum — respondeu aos dirigentes que lhe procuraram com a proposta.