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A possibilidade de redução no intervalo entre uma partida e outra no futebol brasileiro foi ventilada no fim de semana pela Federação Nacional de Atletas de Futebol (Fenapaf). Em entrevista ao programa Domingo Esporte Show, da Rádio Gaúcha, o presidente da Fenapaf, Felipe Augusto Leite, afirmou que propôs à CBF a diminuição do período de 66 para 48 horas entre os jogos, a fim de que o Campeonato Brasileiro possa ter asseguradas as suas 38 rodadas.
— É a atitude mais drástica. Mas não serão 38 rodadas a cada 48 horas. Encontraremos uma saída para que um clube faça, no máximo, um ou dois jogos assim, em praças esportivas próximas. Jamais a equipe vai jogar em Porto Alegre e depois em Recife. Isso é inimaginável. Tenho convicção de que não será preciso estabelecer esse debate. Vamos encontrar outra saída. Toda decisão deve passar pelo respeito a saúde do atleta. A qualidade do espetáculo está atrelada a isso — explicou Leite.
A ideia, no entanto, não é vista com bons olhos pela dupla Gre-Nal. O presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior, não acredita que a proposta da Fenapaf irá prosperar.
— Não vejo isso como possível. Os dias de descanso dos atletas têm de ser mantidos. É preciso manter a integridade física dos jogadores. Até porque temos viagens longas aqui no país. Essa regra de um jogo a cada 66 horas tem de ser mantida — afirmou Bolzan.
Da mesma forma, o vice-presidente de futebol do Inter, Alessandro Barcellos, entende que a sugestão não tem como sair do papel. Os principais dilemas são a questão física dos jogadores e a logística para os clubes do Sul e do Nordeste, que demandam mais tempo para se deslocar de um lado para outro do Brasil.
— O Inter é totalmente contrário a essa decisão. Por mais que necessitemos que o Brasileirão seja disputado com as 38 rodadas, assim como as outras competições, não tem tempo de recuperação física dos atletas em 48 horas. Em 66 horas já é difícil, imagina de dois em dois dias. Vivemos em um país de dimensões continentais, as equipes do Sul precisam ir ao Nordeste para jogar. É praticamente um dia de viagem — comentou Barcellos.
Felipe Augusto Leite, presidente da Fenapaf, ponderou que esse seria um "último recurso" e que ainda serão consultados médicos e fisiologistas sobre o assunto. Além disso, ele assegura que a integridade dos atletas será preponderante para que a medida avance ou não.
— A Fenapaf tem a obrigação de ouvir os sindicatos estaduais e os atletas. Se essa opção vir à tona, todas as categorias serão ouvidas. Não desejo que faltem datas, mas se esse assunto prosperar, daremos prioridade a questão médica — disse.
Atualmente, o regulamento geral das competições da CBF diz, em seu artigo 25, que "os clubes não poderão disputar e os atletas não poderão atuar em partidas por competições coordenadas pela CBF sem observar o intervalo mínimo de 66 horas". Essa regra foi acordada pela entidade máxima do futebol brasileiro com a própria Fenapaf em junho de 2017 e foi fixada a partir de 2018.
A norma prevê, inclusive, punição em caso de descumprimento. Os clubes que desobedecerem a essa determinação e escalarem um atleta para uma partida em intervalo inferior a 66 horas são julgados com base no artigo 214 da Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que trata de atletas irregulares e prevê perda de pontos e multa em caso de punição.