Felipão aceitou o trabalho no Palmeiras sem seu principal auxilar: Flávio Murtosa. Foram 35 anos trabalhando juntos. Segundo Scolari, seu companheiro afirmou que precisava resolver questões particulares e não poderia lhe acompanhar. Em seu lugar, entrou o ex-zagueiro Paulo Turra.
Em entrevista a GaúchaZH, Turra comemorou seu trabalho ao lado de Felipão no clube paulista. Confira a íntegra:
São pouco mais de dois meses de trabalho no Palmeiras. O que a comissão técnica liderada pelo Felipão conseguiu agregar ao time nesse período?
Avaliação que a gente faz é extremamente positiva. Hoje a gente completa 63 dias à frente do Palmeiras. São 17 jogos. A gente está muito vivo no Brasileirão e muito vivo na Libertadores. Tivemos na quarta uma eliminação para uma grande equipe que é o Cruzeiro na Copa do Brasil, mas isso não abate a nossa equipe. Temos um padrão de jogo já bem definido. Apesar de nesse tempo termos feito 17 jogos, o que dá um jogo a cada três dias e meio, mas mesmo assim, pela estrutura que o clube nos oferece, com a qualidade dos atletas e com a capacidade do professor em gerir, treinar e ver o jogo, conseguimos dar um padrão tático bem definido. Hoje o Palmeiras tem uma identidade. Seguimos trabalhando para continuarmos fortes até o final da temporada.
Como o grupo reagiu à eliminação para o Cruzeiro na última quarta?
Isso já está absorvido. Perdemos para uma equipe muito boa, que tem um padrão de jogo definido há dois anos e meio com o mesmo treinador, que está há quatro anos no clube, com uma pequena saída para a China, com jogadores que estão desde 2013 no clube. Sabemos que isso no futebol conta muito. Em um duelo extremamente equilibrado, perdemos um jogo em casa onde teve interferência direta do tal de VAR. Mas sabemos que faz parte. Não vamos arranjar desculpas. No jogo do Mineirão, a gente teve um jogo de igual para igual com eles. Empatamos e perdemos no número de vitórias que eles tiveram na nossa casa. Mas o grupo é experiente, temos qualidade e já estamos pensando no jogo de domingo contra o Cruzeiro. Estamos muito bem no Brasileirão e espero que possamos continuar assim.
Nos 17 jogos da comissão técnica de vocês, chama atenção o bom desempenho da defesa. São apenas cinco gols sofridos. Dá para se dizer que no Palmeiras do Felipão a defesa é a prioridade?
A defesa não é a prioridade. É um dos setores da equipe que é muito forte, com jogadores de extrema qualidade. Nos três campeonatos que estávamos até quarta e agora nos dois estamos, temos potencial para evoluir ainda mais. A defesa não é só o sistema defensivo, os quatro zagueiros e o goleiro. A defesa começa na frente. Temos um padrão de jogo bem definido. Marcamos com muita intensidade, marcamos próximos. É um estilo de jogo bastante agressivo sem a bola, que não é maldoso, mas é agressivo. Os jogadores entenderam. Estamos mantendo um rendimento satisfatório. São 17 jogos, dez vitórias, cinco empates, duas derrotas, 19 gols a favor e cinco contra. É o mérito de toda equipe. Toda equipe joga, toda equipe defende e também participa do ataque.
Os números da defesa melhoram muito depois que vocês assumiram. A que se deve isso?
Primeiro que a gente treina muito. No pouco tempo que temos para treinar, damos ênfase muita a trabalhos específicos de setores. Eu fico mais com a parte defensiva, e o professor e o Carlos Pracidelli ficam mais com a parte ofensiva. Então, trabalhamos bastante isso. Aí a gente junta os setores para fazer a transição. São trabalhos que a gente exige muito deles. Não são trabalhos longos. São trabalhos curtos, mas muito intensos. Dentro disso aí, como são jogadores de extrema qualidade, eles absorvem rápido as instruções e praticam bem dentro de campo. São muitos jogos, pouco tempo de trabalho. Eles praticamente treinam nos jogos e fazem aquilo que a gente pede pra eles durante os treinos com as ações que eles tem com e sem a bola. E isso ajuda. Conta muito a qualidade que eles têm. Tomamos poucos gols, é uma equipe que recompõe rápido. Os 17 jogos que fizemos até agora servem como prova que, com muito detalhe e treinos que a gente consegue fazer, a gente consegue resultados. Esperamos e temos a certeza que a gente vai continuar até o final.
Existem várias maneiras de se jogar futebol. Entre um futebol vistoso de posse de bola e um futebol mais pragmático, de resultados, seria correto afirmar que o Palmeiras adota a escola do futebol de resultados?
Eu acredito que o mérito do treinador é tu potencializar o individual e as características dos jogadores. Se você tem uma equipe com jogadores que tem características mais de posse de bola, de cadenciar o jogo e de virada de jogo, vai ter que trabalhar esse potencial. A gente já acompanhava o Palmeiras. Como acompanhamos futebol, sabemos as características dos jogadores e da equipe. Quando o professor acertou com o Palmeiras, sabíamos dentro do que entendíamos que a nossa equipe tem como caraterística ter jogadores velozes, com qualidade, mas que poderia fechar bem os espaços, marcar de forma intensa e ser rápida na transição defesa-ataque. E foi nisso que potencializamos. E dentro disso, estamos tendo sucesso. Os jogadores entenderam perfeitamente e estão fazendo isso na maioria dos jogos. O problema é que daqui a pouco tu pegas uma equipe que não tem essa característica e quer fazer ela ser assim. Na nossa opinião, a gente não consegue. Mérito do professor que já sabia que o Palmeiras poderia render muito mais. Dentro do pouco tempo de trabalho que tivemos, potencializamos as características. O Palmeiras é uma equipe que tem jogadores que jogam na vertical, jogam com ligações diretas, com bola longa. A Copa do Mundo foi um exemplo disso. E hoje tu não tens um modelo de jogo definido, se é mais tic-taca ou mais transição. Tu tens que potencializar os teus jogadores com as características que eles têm. A gente viu que os jogadores do Palmeiras teriam que atuar com essa características. E é isso que a gente trabalha.
O Felipão foi muito criticado após a derrota pela Seleção Brasileira na Copa de 2014. Muitos acreditavam que o tempo dele talvez já tivesse passado. O Luiz Felipe se atualizou, se reciclou? Como se deu esse retorno do treinador ao futebol de ponta do Brasil?
Isso é uma opinião particular minha. Em 2014, no acontecido lá, eu publiquei nas minhas redes sociais, que não podemos julgar um profissional por uma infelicidade. Não posso te julgar por uma reportagem, por uma entrevista. Temos que julgar o teu trabalho todo, pela tua responsabilidade e equilíbrio que tem nas entrevistas. Não podemos achar que o professor Felipe, por ter sido o treinador de uma equipe que teve aquela derrota, que seria ultrapassado ou que teria acabado para o futebol. Não foi por causa daquele resultado que ele procurou atualização ou procurou se reciclar. É tudo um processo. Não é por que ele tem 69 ano que automaticamente ele vai chegar dizer "eu sei tudo e eu sou o cara". Nós fazemos reuniões diárias. Dentro disso aí, tudo é uma evolução. Mas, como estamos em um país que está à procura de conceitos de tudo, não sabe o que tem, a gente prefere martirizar um dos poucos ídolos que o país tem por um resultado apenas e esquece todos os outros 33 títulos que ele teve, inclusive o último mundial que o Brasil conquistou em 2002, invicto com 7 vitorias em 7 jogos. Mas faz parte. Ele é experiente suficiente e já absorveu isso aí. Foi para a China, ganhou 7 títulos de 11 disputados, e aqui no Brasil, no seu retorno, está fazendo grande campanha com o Palmeiras.