Marinho é a sensação da parte de baixo do Brasileirão. Dono de golaços, como o da virada diante do Atlético-PR no domingo passado, o atacante de 26 anos virou fundamental para o Vitória de Argel Fucks. Aliás, vêm do ex-técnico do Inter os maiores elogios, inclusive citando Cristiano Ronaldo para falar da importância do camisa 7 para o time, o que o jogador vê como essencial para o momento "excepcional" em que vive.
Por telefone, ZH encontrou-o no Rio de Janeiro, onde fazia visto para entrar nos EUA com a família em férias ao término do campeonato. Marinho lembrou da falta de oportunidades no Inter, onde esteve por cinco anos – e parte da torcida colorada não sabe –, e diz que não guardou mágoa, apesar do tratamento recebido à época.
Trazido ao Inter pelo então vice de futebol Fernando Carvalho, hoje de volta ao clube colorado, Marinho era a principal promessa vinda do Fluminense, com 18 anos. Em 2013, no entanto, já sem o dirigente no comando do futebol, o jogador foi avisado por Newton Drummond, o diretor executivo na época, assim como hoje, de que passaria a treinar com a base, em Alvorada, por não fazer parte dos planos do Inter.
Três anos depois de deixar o Inter pela porta dos fundos, Marinho se vê como um dos protagonistas na reta final do Brasileirão.
Você virou essencial para o time de Argel. É o melhor momento da sua carreira?
Sem dúvida. Não só eu acho, como todo mundo vê que é uma fase excepcional que venho tendo. A sequência no ano inteiro, com confiança para jogar, me ajuda muito. Cheguei ao Vitória no início do Estadual e, desde então, estou jogando direto. Isso tem me ajudado a viver esse momento.
Qual a importância do Argel?
Digo que ele tem 50%. Também tem que dar crédito ao Vagner Mancini, que estava aqui. Sempre conversava comigo, perguntava onde eu gostava de jogar. Foi o cara que me ajudou na chegada ao Vitória. Quando o Argel chegou, me deu mais confiança. É uma pessoa que me conhece há muito tempo, me deu moral, me deixou jogando da mesma forma. Dizia que eu tinha que chamar a responsabilidade nos jogos.
Argel chegou a dizer que o time depende de ti?
Ele falou que ia precisar muito de mim, que eu vinha bem no Brasileiro e estava fazendo um grande trabalho. Disse que ia precisar de mim para chamar a galera, porque contagio o time quando estou em campo, faço o time jogar: "Te passo toda a confiança de campo para você fazer o que bem entender em prol da equipe", me disse. E em certas jogadas individuais também. Ele sempre cobra muito que a bola chegue até mim.
O treinador, em um elogio, citou Cristiano Ronaldo.
É como ele falou, não me comparou. Argel reforçou a importância. Quando você escuta isso de um treinador que passou em vários clubes grandes, é ótimo.
O Vitória briga com o Inter para não cair. Existe mágoa por você não ter tido oportunidade?
Estive no Inter, e dizem que não joguei porque não estava bem. Muita gente não sabe que eu não tive oportunidade de jogar. Fiz muitos jogos pelo time B. Porque eu pedia. Ninguém me escalava, eu que pedia para descer. Mas não guardo mágoa, não. Só que eu defendo o meu clube atual. É como no ditado: "Antes a mãe deles chore do que a minha".
Newton Drummond, diretor executivo do Inter, colocou você para treinar em Alvorada em 2013. A maturidade o fez adotar o discurso sem mágoas?
O mundo do futebol dá voltas. A gente, muitas vezes, não pode falar coisas, expor o que você pensa. Um dia você está lá embaixo, no outro está em cima. Sempre trabalhei para procurar oportunidade. Não veio? Paciência. Os clubes fazem isso quando não querem o jogador. É vida que segue.
Além dos seus golaços, você adotou a postura de líder, acalmando um companheiro que errou no gol do Atlético-PR.
O nosso lateral, em uma infelicidade, errou o passe e tomamos o gol. Falei para ele que não tinha sido só ele. Erramos todos. Jogaram a bola apertada para ele. É um moleque, que vem nos ajudando. Foi ele que me deu o passe para empatar diante do Fluminense. Mas as pessoas não veem isso. No intervalo, o Argel decidiu tirá-lo por preservação. Falei que correríamos por ele e que viraríamos por ele. Temos que nos fechar e saber que o objetivo é ficar na Série A.
Você passaram a analisar a tabela dos adversários direto, além da do Vitória?
Na verdade, sabemos que faltam quatro jogos. Por tabela, estamos à frente do Inter, mas tem time com dois pontos na nossa frente. Se você for ver, tem muita coisa para acontecer ainda. O que importa para gente é pensar no nosso trabalho. Sabemos que temos jogos difíceis, temos que ganhar independente do resultado dos nossos adversários diretos. Temos de vencer os nossos jogos e, independente da tabela dos outros, vamos nos livrar.
No discurso do Inter, vencer os jogos em casa já não é mais suficiente. É o pensamento do Vitória também?
A gente, dentro de casa, tem que jogar com o nosso torcedor. Mas temos que vencer fora de casa, queremos isso. O retrospecto fora de casa, para mim, foi bom. Ganhamos do Inter, do Grêmio, Chapecoense. É difícil para os nossos adversários também, vai ser para o Santos, tenho certeza. Temos que somar pontos, é isso.
O assédio já começou. Há a informação de que o Flamengo quer você. O futuro será no Rio?
Eu não estou sabendo de nada. Mas quero acabar o campeonato dia 4 de dezembro primeiro. Tenho contrato com o Vitória até dezembro de 2018. E, se aparecer qualquer coisa, a gente vê. Mas estou pensando no campeonato, em deixar o nosso time na primeira divisão. E, depois, vou aproveitar as férias, porque ninguém é de ferro, né?
Férias nos EUA, suponho, já que você está fazendo o visto.
Vamos para Miami, temos amigos lá. Minha filha tem cinco meses, é muito pequena para irmos à Disney. Depois, passaremos por Porto Alegre. Minha mulher, Francielle, é daí.
E tem de visitar a sogra também, né (Marinho mandou beijo para a sogra Diva em rede nacional, após empate com o Fluminense, por conta do aniversário dela)?
Também (risos). Bem provável que eu veja ela. Fiz até homenagem pelo aniversário...
* ZHESPORTES