De brucutus a criadores. Estigmatizados, ao longo dos anos, pela pecha de meros destruidores, os volantes vingam-se de seus detratores e se convertem em centro criador da maioria das equipes.
Uma história frequentemente contada por Élton Ferstenseifer, ex-jogador da dupla Gre-Nal, falecido em 2010, sintetiza a evolução obtida por eles. Em 1963, contratado pelo Botafogo, no qual luziam estrelas da expressão de Nílton Santos, Garrincha e Zagallo, Élton recebia durante os jogos uma inusitada orientação de Gérson, que se consagraria com o apelido de canhotinha de ouro.
- Tira a bola deles e me passa - impunha o meia. Uma instrução que o alemão nascido em Roca Sales, forte como um touro, cumpria sem reclamar.
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Com algumas exceções, os volantes daqueles tempos não iam mesmo muito além disso. Não por falta de qualidade, e, sim, por orientação de seus treinadores. Élton, por exemplo, sabia jogar, garante o ex-meia Dorinho, hoje integrante do departamento de avaliação do Inter.
- Ele tinha bom passe, sabia se posicionar. É que jogar com caras como Gérson era um sonho e ele não se importava em apenas desarmar - diz Dorinho, 70 anos.
Mesmo volantes de reconhecida qualidade técnica sofriam com a restrição dos treinadores. Era o caso de Clodoaldo, cujo talento foi mostrado ao planeta ao driblar quatro italianos no início do lance do quarto gol brasileiro na final da Copa de 1970. No Santos, ele era proibido pelo técnico Antoninho Fernandes de sair do lugar.
- Ele dizia: moleque, você é muito folgado. Se passar do meio de campo, vai sentar no banco - recorda Clodoaldo, com um sorriso.
Recado semelhante era dado por Telê Santana ao volante Pintado no time do São Paulo que se sagraria campeão mundial de 1992 contra o Barcelona que tinha Pep Guardiola na frente da área.
- Telê recomendava: tu não sabes atacar. Marca, pega a bola e passa para o Raí e o Palhinha - lembra Dinho, que também fazia parte daquele grupo e, anos depois, viria para o Grêmio.
Os tempos eram outros. Hoje, Telê e Antoninho e Gérson certamente iriam aplaudir a audácia de um Walace, do Grêmio, que, com a qualidade de um armador, invadiu a área do Atlético-PR, quinta-feira, e quase marcou um bonito gol. Coisa de médio-apoiador, como gostava de dizer o técnico Roger Machado.
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Para os volantes de hoje, ser somente marcador é pecado sem perdão. Willian Arão, do Flamengo, Tchê Tchê e Moisés, do Palmeiras, Thiago Maia, do Santos, Rafael Carioca, do Atlético-MG, Walace, do Grêmio, e Rodrigo Dourado, do Inter, são, no atual Brasileirão, alguns dos exemplos de cabeças de área com talento suficiente para avançar, armar e até fazer gols.
- Dourado é ótimo. Rafael Carioca também. Mas, para mim, Tchê Tchê é o melhor do Brasil na posição. É muito mais intenso. Ele se multiplica na segunda e terceira funções - opina Tinga, mestre nesta posição em clubes como Grêmio, Inter e Cruzeiro.
Foi na passagem pelo futebol alemão, como jogador do Borussia Dortmund, que Tinga diz ter compreendido a pleno a importância de um volante numa equipe. Hoje, os alemães Toni Kroos, do Real Madrid, Gündogan, do Manchester City, e Kimmich, do Bayern Munique, são seus preferidos na posição. Os três possuem, em comum, a característica de imprimir velocidade aos lances, com economia de toques na bola.
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- No futebol moderno, o volante é o meia. E o bom volante se mede pela sequência que o jogo adquire a partir do passe dado por ele. Ele faz o jogo andar - opina Tinga.
Para Clodoaldo, o melhor de todos é o santista Thiago Maia. Habituado a ver o nascimento de estrelas do porte de Robinho e Neymar na escolinha Meninos da Vila, ele percebeu, já em 2010, que sobrava qualidade ao garoto nascido em Roraima, em 1997.
- Ele é cria minha. É um dos melhores volantes do país. Tem uma condição física fabulosa e muita qualidade na saída de bola. Logo será titular da Seleção Brasileira com Tite - prevê Clodoaldo.
Dinho aponta Rafael Carioca, do Atlético-MG, como o melhor dos volantes em atividade no Brasileirão. Mas também elogia Jailson e Ramiro, do Grêmio, pela capacidade que demonstram de executar mais de uma função.
- Eu já fazia isso há 20 anos. Chegava à frente, batia pênalti, batia falta. O futebol atual exige que se faça mais de uma coisa - observa.