Eduardo Delgado trata de provocar o irmão gêmeo Alberto assim que se acomoda na cadeira ao redor da longa mesa de reuniões em uma das salas do Tribunal de Justiça do RS.
– O Inter vive uma Batalha dos Aflitos a cada nova rodada do Brasileirão. Não está sendo mole ser dos vermelhos, um sofrimento – sorri, olhando de canto de olho para o mano, que responde de imediato:
– Os gremistas estão felizes, mas vamos rir por último, o Inter não cai, pode escrever.
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Alberto nasceu 10 minutos antes de Eduardo. Talvez por isso tenha um jeitão mais sério. Eduardo é mais mais solto. Gêmeos univitelinos, têm o mesmo tom de voz, alturas iguais e até o jeito de caminhar é semelhante. Sempre tiveram muito próximos ao longo dos 54 anos de vida. Vestiram roupas parecidas, estudaram na mesma escola e universidade, tiveram amigos em comum – talvez até algumas namoradas. Degô é o apelido de ambos. A trajetória profissional não foi diferente: seguiram carreira jurídica e hoje são desembargadores do TJ. O time do coração, porém, nunca foi o mesmo.
Guri, Alberto se encantou pelo Inter induzido por uma legião de primos. Era época em que o vermelho predominava as ações do futebol gaúcho, no começo dos anos 1970, e os jovens craques brotavam no Beira-Rio. O menino tomou gosto pelo clube. Não perdia um jogo e fazia a alegria do pai, Alberto Delgado Filho, jornalista coloradão falecido em 1986. Embrenhou-se tanto que foi um dos fundadores da torcida Falcão Povão, extinta quando o craque foi brilhar na Roma em 1980. Os filhos seguiram a toada do pai. Pedro, 25 anos, Lucas, 24, e Juliana, 20, respiram ar vermelho.
– Vamos em família ajudar o time, ainda mais agora nesta hora difícil – destaca Alberto.
Eduardo não surfou na onda dos primos. Foram duas as responsáveis por sua escolha: a mãe, Alcinda, e, uma especialmente, a tia, Glorinha. Ela, uma torcedora fanática do Grêmio e cozinheira de mão cheia, fez a cabeça do garoto.
– Ela é minha madrinha também, me levava ao Olímpico desde o começo dos anos 1970. Depois das partidas, ia para casa dela comer aqueles pastéis maravilhosos de massa caseira. Convenceu também pelo estômago – diverte-se. – Foi paixão mesmo, era difícil torcer para o Grêmio naquela época, o Inter ganhava tudo. Mas não me arrependo, o Grêmio deu a volta e chegou ao topo anos depois.
Hoje, Eduardo, pai da gremistinha Sophia, oito anos, vive a grande expectativa: ver o adversário rebaixado pela primeira vez. Não fica em frente à TV secando o adversário – assiste só a jogos do Grêmio –, mas acompanha tudo pelo grupo da família no WhatsApp.
– É a maior zoeira, sem estresse. A Segundona não é tão ruim assim, é uma experiência que todos têm de passar – brinca Eduardo.
O mano Alberto balança a cabeça, meio concordando, meio discordando:
– Muita discussão, mas sempre com muito respeito. Mas que ele (Eduardo) não vai ter o gostinho de nos ver rebaixado, ah, não vai, de jeito nenhum.
Eduardo e Alberto soltam uma gargalhada e caminham juntos para voltar ao trabalho. Neste domingo de Gre-Nal estarão separados. Cada um na sua casa, cada um na sua torcida.
O WhatsApp da família Delgado vai bombar.
* ZHESPORTES