Depois de três meses de trabalho, Mano Menezes está de saída do Cruzeiro. Será a 33ª troca de comando ao longo das 38 rodadas do Campeonato Brasileiro. Com isso, a edição de 2015 bate o recorde de 2014 e se transforma na temporada em que mais treinadores deixaram o posto - por intenção própria ou não.
O único sobrevivente foi o técnico campeão, Tite. E aqui cabe o questionamento sobre a relação entre causa e consequência: Tite não foi demitido porque colheu bons resultados, ou colheu bons resultados porque não foi demitido? A lógica adotada pelos dirigentes brasileiros cria um paradoxo, pois a continuidade tende a gerar resultados positivos, mas, sem resultados positivos, não há continuidade. Para comprovar a tese, basta lembrar da demissão de Marcelo Oliveira, então bicampeão brasileiro pelo Cruzeiro, depois do fracasso na Libertadores de 2015, com uma equipe desfigurada em relação ao elenco do ano passado.
O imediatismo responsável pelas mudanças precipitadas não é recente. Um levantamento realizado pelo jornal mexicano El Economista entre 2002 e 2014 revelou que o treinador brasileiro dura, em média, quatro meses no cargo. Somos a pátria que menos estabilidade oferece aos profissionais responsáveis por conduzir equipes inteiras - e sobre os quais costuma recair toda a responsabilidade em caso de fracasso.
Comparar nossa realidade com a Europa nem sempre é justo, mas, nesse caso, os números são tão divergentes que a reflexão se torna impositiva, e também perturbadora. Se somarmos todas as mudanças de treinadores ao longo da temporada 2014-15 nos quatro principais campeonatos europeus - inglês, alemão, espanhol e italiano -, não chegaremos ao número de trocas realizadas ao longo das 38 rodadas do Brasileirão de 2015. Ao todo, foram 32 trocas nas quatro ligas: uma a menos do que no Campeonato Brasileiro deste ano.
Para amenizar essa situação, a Federação Paulista de Futebol determinou que, em 2016, os clubes do Paulistão não poderão contratar treinadores das equipes adversárias. A imposição pode soar autoritária, mas prefiro encará-la como uma manobra de lucidez em meio ao caos. Precisamos reivindicar a qualidade, e ela depende de projetos consistentes, capazes de, pelo menos, garantir a continuidade do trabalho de seus líderes. A outra alternativa é assistir ao nosso futebol padecer - e bater mais recordes negativos.