Os lances polêmicos nos jogos entre Inter x Sport - em que o gol de Lisandro López foi validado após longa discussão do grupo de arbitragem - e Chapecoense x Palmeiras - com a insólita "desexpulsão" de Egídio - tiveram a participação e o protagonismo dos quartos árbitros. Francisco Silva Neto e Daniel Nobre Bins ajudaram os trios titulares na tomada das decisões que chamaram a atenção no último final de semana. E ambos garantem: não houve interferência da tecnologia.
Confira as entrevistas:
Francisco Silva Neto
Quarto árbitro em Inter 2x1 Sport
"O cara acerta e mesmo assim vem a polêmica"
O que houve no lance do gol de Lisandro López?
O árbitro (Bráulio da Silva Machado) estava dando gol, e o auxiliar (Luiz Claudio Regazone) disse que não tinha convicção do segundo lance (depois de o goleiro defender e o atacante colocar para a rede). Eu cheguei para ele e disse: "É gol, cara. Ele deu o gol, segue o jogo".
Mas isso foi na primeira vez em que se aproximou do auxiliar?
Não, na primeira vez fui para afastar os jogadores, que o estavam cercando, pressionando. Voltei alguns passos, refleti, deu uns cinco segundos, e voltei para dizer a ele que havia sido gol. Depois, o Diego Souza veio discutir comigo, disse: "Você não sabe se foi gol!". Eu respondi para ele: "Sei, sim, pelo tempo que tenho de arbitragem, rapaz."
Como você percebeu que o gol havia sido regular?
Estava no meio do campo, olhando o lance. No primeiro momento (quando Lisandro conclui com o ombro), deu para ver claramente que não havia sido irregular. No segundo lance, o árbitro deu o gol na hora. Eu tive convicção através do árbitro.
Houve quem dissesse que foi usado o recurso do vídeo.
Não existe, como o quarto árbitro teria visto pelo vídeo? Onde tem vídeo na beira do campo? O futebol está ficando chato, o cara acerta o lance mesmo assim vem a polêmica.
Como funciona a ação do quarto árbitro? Vocês têm algum ponto eletrônico avisando de lances espinhosos?
O quarto árbitro atua mais pela visualização. Pela nova diretriz de participação definida pela Comissão Nacional, são oito olhos para ver o jogo A gente não usa ponto eletrônico, é pela nossa visão mesmo.
Daniel Nobre Bins
Quarto árbitro em Chapecoense 5x1 Palmeiras
"Não teve uso de outra tecnologia"
O que houve no momento do lance?
O rádio estava com problemas. Eu falava, e eles não me escutavam. Corri até o Bruno (Boschillia, auxiliar) e disse: "Foi na bola". O Bruno me disse: "Pra mim também". Foi quando falei para ele: "Então, chama o Jaílson". O Bruno teve a percepção, mas estava em dúvida. O problema foi todo o tempo perdido, abriu o precedente para especulação.
O rádio foi testado antes do jogo?
Sim, testamos em todo o aquecimento. Mas com o jogo rolando, o rádio ficou muito ruim, em alguns momentos trancava, em outros a voz saía baixa. Encostei no Bruno (Boschillia) no início do jogo e perguntei se estavam escutando. No intervalo, troquei o rádio e se inverteu. Eu escutava, mas o meu microfone não funcionava. Isso prejufica bastante o trabalho.
Esses rádios são dos árbitros?
Não, são da federação local. Mas foi testado, estava funcionando antes. O delegado pediu para colocar no relatório do jogo esse defeito o equipamento.
Você teve ajuda de alguma outra tecnologia além do rádio?
Não, nenhuma. Se tivesse uma câmera no quarto árbitro, veria que estava controlando o banco do Palmeiras e, assim que foi possível, fui até o auxiliar. Disse antes do jogo para o Jaílson (Macedo, árbitro) que não havia saído de Novo Hamburgo às 4h e ido de carro até Chapecó de graça. Dei minha contribuição, mas a polêmica tira um pouco do brilho do meu trabalho. Paciência, na arbitragem é assim.
Você é a favor do vídeo? Aconteceria confusão como essa da Arena Condá?
Acho que não. O uso de vídeo seria bom e importante principalmente para definir se foi ou não foi gol, se a falta foi dentro ou fora da área, se a bola saiu ou não ou em agressões. Em lance de interpretação, seguirá prevalecendo o critério do árbitro. O vídeo colaboraria, mas não acabaria com as polêmicas.
*ZHESPORTES