Felipe Massa esteve em Buenos Aires, na Argentina, no final de semana dos dias 7 e 8 de outubro para mais uma etapa da Stock Car. Além da disputa nas pistas, o brasileiro se manifestou novamente por sua luta na Justiça em relação ao mundial de 2008 da Fórmula 1.
Em entrevista ao portal local infobae, Massa conversou sobre diversos assuntos da sua carreira. No entanto, o foco foi o caso conhecido como "Singapuragate", ocorrido no GP de Singapura de 2008. Na avaliação do piloto, o título da F1 daquela temporada, conquistado por um ponto pelo britânico Lewis Hamilton, foi injusto por conta do escândalo na prova de Singapura.
— Me roubaram, com certeza. Foi um campeonato perfeito, que acabou por um ponto em Interlagos. Mas depois vimos que teve uma prova manipulada (Singapura), e o resultado dela devia ser cancelado. Não fizeram porque não quiseram destruir o nome da F1 — afirmou Massa, que recordou da entrevista do ex-chefão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, dizendo que sabia da manipulação.
— Para mim foi uma situação muito difícil. Preparamos uma equipe com grandes advogados de seis países. Vamos lutar até o final porque o que aconteceu não foi justo para o esporte, para mim, para o meu país, para os torcedores e para a Ferrari — complementou o brasileiro, que corria pela equipe italiana na época.
Massa revelou que a equipe de advogadas é grande e composta de profissionais que trabalham com casos como esse há anos.
— É um caso de manipulação. Temos que trabalhar para a justiça do esporte. Vamos aguardar a resposta que vão nos dar e se vamos entrar na corte ou em um tribunal, isso é algo que ainda vamos decidir — explicou o brasileiro, que espera uma definição da Federação Internacional de Automobilismo (Fia) e da Formula One Management Group (Fom) — grupo que promove a F1.
A definição em 2008
A temporada de 2008 da Fórmula 1 foi decidida no GP do Brasil, em Interlagos, São Paulo. Na ocasião, Massa precisava vencer a corrida e torcer para Lewis Hamilton chegar pelo menos em sexto. O brasileiro venceu e levou a torcida presente no autódromo ao delírio, uma vez que veria um piloto do Brasil ser campeão da F1 novamente desde 1991, quando Ayrton Senna se tornou tricampeão.
Massa foi campeão por 38 segundos. Após ele cruzar a linha de chegada, Hamilton conseguiu ultrapassar Timo Glock na última curva e assumiu a quinta posição. Com isso, o jovem inglês conquistou seu primeiro título na carreira por um ponto.
— Fui campeão por 38 segundos, mas isso não é verdade. Eu fui campeão para sempre — afirmou Massa.
Perguntado se culpava Glock pela derrota, o brasileiro disse que o piloto alemão não teve culpa, uma vez que estava chovendo muito na ocasião e ele não conseguia segurar bem o carro por não estar com os pneus adequados.
Após 2008, Massa seguiu correndo na F1 até 2017, mas não teve a chance de vencer o título. O brasileiro afirmou, sobre o processo que move contra a F1:
— Com certeza, na minha busca por justiça, há dinheiro para reclamar. Mas a base da minha reclamação é o campeonato. O troféu é o mais importante para mim.
O Singapuragate
O chamado "Singapuragate" foi um dos casos mais rumorosos da história da F1, que aconteceu em setembro de 2008, na 15ª de 18 etapas daquela temporada. Na ocasião, Massa disputava o título com Hamilton. Foi o pole position da corrida e liderava a prova quando Nelsinho Piquet sofreu uma batida, que mudou os rumos da disputa. Fernando Alonso, da mesma equipe Renault de Nelsinho, acabou ficando com a vitória naquele GP.
Um ano depois, Nelson Piquet veio a público para denunciar que seu filho batera de propósito por ordem de Flavio Briatore, então chefe da Renault, para beneficiar o companheiro de equipe. O caso foi investigado pela Fia, que puniu os envolvidos. Briatore foi banido da F1, embora a decisão já tenha sido revogada, e o engenheiro Pat Symonds, outro responsável pela ordem para a batida, foi suspenso por cinco anos — atualmente é o diretor técnico da F1.
A polêmica foi revivida no início de março deste ano, quando Ecclestone concedeu entrevista ao site F1-Insider na qual admitia que ele e o então presidente da Fia, Max Mosley, estavam cientes da armação ainda em 2008, após o episódio, antes mesmo da denúncia de Nelson Piquet, feita apenas no ano seguinte.
— Decidimos não fazer nada. Queríamos proteger o esporte e evitar um grande escândalo. Por isso me esforcei para convencer meu ex-piloto Nelson Piquet a manter a calma — disse Ecclestone, em referência ao período em que era chefe de Piquet na já extinta equipe Brabham.
O então chefão da F1 admitiu que poderia ter anulado a prova por causa da manipulação da Renault.
— Naquela época, havia uma regra de que uma classificação ao Mundial após a cerimônia de premiação da Fia no fim do ano era intocável. Então, Hamilton foi presenteado com o troféu e estava tudo bem — explicou.
Se a prova tivesse sido anulada, Massa poderia ter se sagrado campeão mundial, uma vez que Hamilton terminou em 3º, enquanto o brasileiro foi apenas o 13º, sem somar pontos, após enfrentar um problema nos boxes — o pit stop havia sido motivado pela entrada do safety car na pista após o acidente protagonizado por Nelsinho Piquet.
— Felipe Massa se tornaria campeão mundial, e não Lewis Hamilton. Hoje me solidarizo com Massa, sinto muito por ele. Afinal, ele ganhou a corrida em casa, em São Paulo, mas foi enganado e não levou o título que merecia. Hoje, eu teria feito as coisas de outra forma — reconheceu Ecclestone na entrevista.
No entanto, meses depois das declarações, o ex-chefão da F1 disse que não lembrava ter dito nada disso e que a busca por justiça de Massa era apenas por dinheiro. O brasileiro rebateu o ex-dirigente, alegando que Ecclestone estava com medo de tudo vir a tona.