Quando conquistou o segundo lugar na primeira prova da etapa de Hockenheim, no último dia 13 de outubro, Mick Schumacher fez história. O alemão de 19 anos faturou, com uma corrida de antecedência, o título da F-3 Europeia – e deu mais um passo em uma carreira que parece destinada a levá-lo à Fórmula-1, para seguir o mesmo caminho do pai, o heptacampeão Michael Schumacher. Mas o que o filho mais novo do maior vencedor da história da F-1 pensou sobre o título é um mistério: além de protocolares entrevistas coletivas, Mick não fala com a imprensa.
O véu colocado sobre o piloto faz parte da estratégia que a família Schumacher adotou desde dezembro de 2013, quando Michael sofreu um acidente de esqui nos Alpes franceses e entrou em coma. Nestes quase cinco anos, Corinna, a esposa do alemão, a filha Gina-Marie e Mick mantiveram um silêncio quase absoluto sobre a situação do pai, marido e maior ídolo do automobilismo da Alemanha. Mick, que estava com Michael no dia em que ele sofreu o acidente, falou apenas uma vez sobre seu pai: o chamou de "ídolo" e de "exemplo".
E foi só – apesar de uma abertura maior nos últimos meses, sempre para falar do seu desempenho nas pistas, de acordo com o alemão Christian Menath, repórter da revista especializada Motorsport Magazine.
– Quando ele começou na Fórmula-4 (em 2015), era muito tímido, mas isso mudou nos últimos anos. Ele têm participado de mais coletivas e está melhor agora. A imprensa alemã, no geral, quer vê-lo na F-1. Seria uma história fenomenal, e os torcedores de automobilismo na Alemanha precisam do nome Schumacher de volta na F-1, já que temos apenas (Sebastian) Vettel e (Nick) Hülkenberg neste momento. Se ele for bem na F-2, vai chegar lá. Não precisa nem ser dominante ou campeão, mas apenas com uma boa temporada, com certeza alguns times vão querer contar com ele. Parte pela performance, parte pelo sobrenome que ele carrega – afirma Menath.
Fora das pistas, é quase impossível saber o que se passa com Mick. Nas pistas, a demonstração em quatro anos de carreira é de um piloto talentoso e determinado, que tem utilizado bem a sua fama para conseguir espaço em boas equipes e, assim, trilhar seu espaço rumo à F-1. Na próxima temporada, o jovem Schumacher deve fazer parte do grid da Fórmula-2, último degrau antes da categoria principal. E não deve demorar muito para ele superar essa etapa, na avaliação de Fábio Seixas, chefe de reportagem do SporTV.
– O que podemos dizer é que ele vai chegar, em algum momento, à F-1. Pelo nome que tem, por correr em equipes de boa estrutura, e pelo talento. Já vimos pilotos talentosos pelo caminho, mas o nome dele ajuda. Podemos imaginar sim, daqui a dois ou três anos, que ele estará na F-1. Mas o que vai acontecer depois é outra história, bem mais complicada – diz Seixas, que por anos fez a cobertura do Mundial de F-1 para a Folha de S.Paulo e para a rádio Bandeirantes.
Até agora, Mick tem cumprido à risca com o caminho determinado para a sua carreira. Editor do Grande Prêmio, site brasileiro especializado em automobilismo, Victor Martins destaca que o título da F-3 Europeia foi conquistado com um salto de performance ao longo do ano:
– Mick conquistou este campeonato em uma arrancada inesperada e impressionante. No começo do ano, estava andando atrás de seus outros três companheiros de Prema, a equipe mais forte do campeonato, e mal conseguia vencer. De repente, engatou uma série de triunfos que fizeram realmente se lembrar dos tempos do pai na Ferrari. Mas é preciso ter calma para ir além na comparação. A princípio, o que se pode depreender da situação é que o moleque demorou a se encontrar nas pistas de uma situação clara: a de ser filho do maior piloto da história da F-1, que está na situação em que sabemos. A pressão deve ter sido imensa, e uma vez que tenha engatado a primeira vitória, se livrou dela.
Os jornalistas que acompanham Mick têm tentado, repetidas vezes, saber da situação de Michael através de alguma declaração do filho. Mas Sabine Kehm, assessora de imprensa e empresária de ambos, não abre a guarda, e o garoto evita responder qualquer pergunta feita sobre as condições do veterano. A família Schumacher não se pronuncia sobre a saúde do ex-piloto desde maio de 2017 – e já avisou que não falará sobre o assunto no futuro.
– O Mick é muito reservado, não dá nenhuma pista sobre o pai. Existe um grande mistério, e já me peguei perguntando algumas vezes se ele (Michael) vivencia isso. Não sabemos de nada, se ele está escutando, aproveitando, esse momento do filho. A barreira que a família construiu sobre ele não proporciona isso. Mas espero que ele esteja vivendo esse momento – afirma Seixas.
Cercado pelos holofotes, mas sempre em silêncio, Mick Schumacher se aproxima, de volta em volta, da Fórmula-1. Resta ver o que o destino reserva ao filho do maior campeão da história.
QUEM É
NOME: Mick Schumacher
IDADE: 19 anos (22 de março de 1999)
ONDE NASCEU: Vufflens-le-Château, na Suíça, mas tem nacionalidade alemã
CARREIRA: campeão da F-3 Europeia em 2018