Em conversa no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, as vestibulandas Nathalie Brum, Mariana Gregório, Juliana Beck e Luciane Zini tiraram dúvidas sobre a rotina de estudantes e formados em Medicina.
Formação de médico: como é a graduação e em que momento o acadêmico escolhe sua especialidade?
De acordo com Gilberto Schwartsmann, o curso de Medicina é estruturado em seis anos. Nos três primeiros, são oferecidas as disciplinas mais fundamentais, como bioquímica, anatomia e fisiologia, entre outras. A partir daí, as disciplinas estão voltadas à relação com o paciente: como entrevistá-lo, como examiná-lo e como obter sinais de sintomas.
Depois, são apresentadas diferentes áreas: cirurgia, pediatria, clínica médica, ginecologia, obstetrícia, saúde pública, psiquiatria. Nos três anos finais, chegam os estágios, em que os estudantes passam a fazer diagnósticos e propor tratamentos a pacientes internados e no ambulatório. Também é um momento de maior aproximação com pesquisas científicas.
Nos dois últimos anos, começam os internatos - etapa final da graduação. O futuro médico ganha mais responsabilidades e passa a acompanhar o cuidado com pacientes. Assim, os momentos em sala de aula são reduzidos, com mais tempo de prática hospitalar.
O tema da morte: como lidar com a perda?
Por maior que seja o desejo de salvar vidas, o médico deve ter consciência de que, às vezes, a morte do paciente é inevitável ou de que a cura é inatingível. Na visão de Gilberto Schwartsmann, o médico é um cuidador:
- O médico foi feito para cuidar das pessoas. Curar é uma consequência de cuidar bem. Tem doenças que são incuráveis, mesmo doenças comuns, como pressão alta e diabetes. Não quer dizer que não podemos cuidar dessas pessoas para que elas vivam bem.
Para o oncologista, a satisfação profissional tem de vir do cuidado atencioso com o paciente, afinal, a "vitória" da doença não quer dizer que o médico não fez sua tarefa de forma correta.
- Não se pode associar a sensação de realização com a cura, isso é muito unilateral, muito infantil. A forma adulta de lidar com as doenças é cuidar das pessoas.
Rotina puxada: como conciliar trabalho, família e descanso?
É comum que médicos desempenhem funções distintas em diferentes ambientes de trabalho. Gilberto Schwartsmann, por exemplo, é oncologista, professor e pesquisador. Há, ainda, os profissionais que mantêm seu próprio consultório, além de um emprego em um hospital e um curso de pós-graduação.
Ele diz conviver com profissionais que atendem pacientes e fazem pesquisa. Segundo ele, nenhum se queixa de falta de tempo. Mas isso não significa que a rotina não seja intensa. Ao fim da conversa de quase 30 minutos, Schwartsmann brinca na despedida:
- É isso, gurizada? Posso sair correndo e continuar trabalhando?
Continuar tentando: como o vestibulando se mantém motivado depois de repetidos insucessos?
A grande - e bem preparada - concorrência para ingresso em um curso de Medicina pode fazer um erro em uma questão de Biologia ou um desvio de ortografia na redação um fator decisivo para a aprovação. Um sistema de seleção baseado na exclusão pode deixar de fora estudantes com capacidade e aptidão para a carreira. Eventualmente, alguns candidatos a médico acabam por abandonar o sonho depois de repetidas tentativas fracassadas. Schwartsmann defende que o vestibulando de Medicina não deve esmorecer:
- Acompanho de forma privilegiada a evolução de estudantes. Dou aula a partir da metade da faculdade, no estágio do sexto ano, na residência, no mestrado, no doutorado e no pós-doutorado. Tem gente que acompanho há mais de 20 anos. Por isso, posso afirmar que não há qualquer relação entre passar de primeira no vestibular e ter sucesso na carreira.
Em vídeo, veja como foi o encontro das vestibulandas com o oncologista:
Por dentro da carreira
Veja as dúvidas respondidas no encontro entre oncologista e vestibulandas de Medicina
Médico Gilberto Schwartsmann recebeu estudantes no Hospital de Clínicas de Porto Alegre
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