Dizem que as férias de quem passa no vestibular são inesquecíveis. Imagine para quem teve de ficar ao lado e, ao mesmo tempo, afastado do seu amor recém-conquistado. A vontade de beijar aflorando, as peles se atraindo como ímãs da paixão, e, aí, o livro de matemática levanta um muro, a apostila de língua portuguesa corta os desejos. E ambos emergem nos números e nas letras para esfriar a febre e passar no vestibular.
Tentações desse tipo envolveram o casal Leonardo Baggio Queruz, 19 anos, e Carine Renoldi, 17 anos. Os dois começaram um cursinho intensivo pré-vestibular em agosto. Não se conheciam. Como sentavam um ao lado do outro, logo a afinidade despertou. Em 23 de novembro, ocorreu o previsível: ficaram. A relação engatou, mas, e os estudos? Como conciliar o início de namoro com a preparação para o vestibular?
- Tem de saber separar as coisas. Foi difícil. Foi... Foi... Foi! - exclama Leonardo.
Ele passou em Direito na UFRGS. Ela foi aprovada em Publicidade e Propaganda na PUCRS. O alívio se completou em Xangri-lá, na casa da família de Carine, onde o casal foi passar o veraneio.
Para Daniela Tramontina, 17 anos, os dias também têm sido mais leves depois que ela passou em Engenharia Química na PUCRS - curso escolhido aos 15 anos, após testes vocacionais.
Duas semanas de cursinho intensivo desgastaram a garota, ainda que, em casa, ela não tenha estudado tanto. Um dos pesos que Daniela tirou dos ombros foi a cobrança da mãe. Agora, em Xangri-lá, ela se diverte na piscina e planeja as baladas:
- Vou fazer mais festas, ainda mais nessa época, né?
Aprovados comemoram com festas e descanso
O vestibular é um rito de passagem, observa a psicóloga Jaqueline Ferreira. Da vida de poucas responsabilidades, o estudante deixa o colégio e se torna universitário. Surgem as preocupações com o futuro profissional. Em época de férias, ela concorda que é bom relaxar e aproveitar, depois de tanta tensão. Até doar os livros e apostilas pode ser importante para o rito de passagem. Só não se pode perder o horizonte.
- Esse momento depois do Carnaval é a hora para começar a se planejar, arrumar as coisas. É bom deixar um espaço concreto e emocional para essa nova etapa da vida - sugere Jaqueline.
Veja como foi a sensação de alguns estudantes que passaram no vestibular e agora estão em férias.
O casal Leonardo Baggio Queruz e Carine Renoldi concorda que a melhor sensação, agora, é a de não ter nenhum compromisso. Eles namoram bastante para recuperar o atraso e mantêm uma rotina caseira. Assistem à TV, vão à academia, descansam na rede. Não é preciso fazer grandes festanças. Estarem juntos já serve para recarregar as baterias e aproveitar o verão com a universidade garantida.
- Essas serão as melhores férias das nossas vidas - aposta Leonardo.
O brabo de chegar à casa de um vestibulando depois das provas é que as chances são grandes de ele ou ela estar dormindo. Um motivo é recuperar as forças dispendidas em noites maldormidas. Outro é a espichadinha na cama depois da festa da noite. De qualquer forma, sair em férias para o litoral costuma ser uma forma de recarregar as baterias e tirar dos ombros o peso da angústia dos estudos para o vestibular.
A mais nova estudante de Educação Física da UFRGS, Francine Schuch Bungi, 18 anos, tem aproveitado para recuperar o sono atrasado depois das provas. Ela considera que não foi um "estresse louco", mas o rolo todo do vestibular não deixou de preocupar.
- Na hora do resultado, eu estava dormindo. Até desliguei o celular. Quando souberam que eu tinha passado, vieram me acordar. Na manhã seguinte, vim para a praia - relembra a aluna.
Uma maratona de viagem e de estudos
Em Tramandaí, onde a família tem casa, Francine aproveita as festas. A balada também está entre as atividades preferidas de Rodolfo Gressler, 17 anos. Depois de enfrentar uma maratona - de viagem e de estudos -, o agora bixo de Engenharia Química na Unisinos recupera as forças em Imbé. Ele fazia um intercâmbio na Nova Zelândia quando, em novembro, decidiu retornar ao Brasil para prestar vestibular. Em Porto Alegre, estudou "forte" por cerca de um mês, como diz:
- Eu saía pouco, parei de jogar bola. Agora, estou saindo bastante com os amigos. E fazendo muita festa, ô!